Quase um ano após Evo Morales anunciar sua renuncia, Luis Arce – candidato apoiado pelo ex-presidente – elegeu-se como o novo presidente do Estado Plurinacional da Bolívia no final do mês, levando uma vitória em primeiro turno. Entenda como esse processo se desenvolveu, desde a saída de Morales até a eleição de Arce, acompanhando o governo de Jeanine Áñez – senadora que se autoproclamou presidente nesse ínterim – e os detalhes da cerimônia de posse do presidente eleito, marcada para o dia 8 de novembro.
Morales deixa o governo
Em outubro do ano passado ocorreu a eleição presidencial na Bolívia, Evo Morales se candidatou e foi reeleito – em meio a críticas e acusações de fraude eleitoral – para seu quarto mandato seguido, apesar do resultado, o país mergulhou em um cenário de crise, com protestos contra e a favor do resultado. Cerca de vinte dias após o pleito, Morales e seu vice anunciariam a renúncia, sob fortes críticas, manifestações internacionais pedindo uma apuração da eleição e o exército manifestando-se.
A respeito do pleito realizado em 20 de outubro de 2019, houve uma grande crítica envolvendo os resultados, uma vez que a apuração parou por algumas horas e depois foi retomada, já indicando a vitória do presidente. Um dia após o pleito, houve protestos por diversas regiões do país, questionando a validade dos resultados, sob forte críticas, dois dias após a eleição o presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) do país anunciou que deixaria o cargo, situação essa que se estendeu até novembro e levou à publicação de relatório pela Organização dos Estados Americanos (OEA) explicitando que houve diversas irregularidades sobre o processo.
O relatório foi publicado no dia 10 de novembro de 2019, mas dias antes a situação havia se agravado vertiginosamente, com a humilhação pública de uma prefeita do partido de Morales, diversos feridos em protestos e motins de polícias em algumas regiões. Um dia antes do relatório, o então presidente Evo Morales anunciou que a casa de sua irmã havia sido incendiada. Em meio ao cenário, no dia em que o relatório foi publicado Evo anunciou que deixaria o governo, uma vez que anunciar novas eleições não foi suficiente e militares haviam “sugerido” que ele deixasse o cargo, e assim o fez (anunciando que isso era um golpe), seguido pela renúncia do vice, pelo presidente da Câmara dos Deputados, presidente do Senado e diversos outros políticos. Morales deixou o país dois dias depois, sendo recebido sob condição de asilo no México.
Cargo vago, senadora se declara presidente
No mesmo dia em que Evo Morales desembarcou no México, a senadora da oposição Jeanine Añe se autodeclarou presidente da Bolívia – em uma sessão esvaziada – prometendo pacificar o país sem líder. Contrária ao processo de reeleição do presidente, Añe assumiu dizendo que organizaria eleições o mais rápido possível.
Assim, o pleito para a escolha de um novo presidente estava marcado para ocorrer seis meses após mais de cinco meses de sua chegada ao poder, em maio de 2020. O processo foi suspenso, uma vez que não haveriam condições para a realização de uma eleição naquele momento, alegando ser em razão da pandemia de covid-19 que havia chegado ao continente, desse modo, a eleição ficou suspensa por tempo indeterminado. Em julho, o Tribunal Supremo Eleitoral do país marcou para setembro a realização de novas eleições, que de fato aconteceriam apenas em outubro.
Nesse meio tempo, o partido “Movimento ao Socialismo” cresceu nas pesquisas, beneficiando-se do tempo que permitiu um crescimento nas pesquisas e até mesmo ultrapassar a preferida ao cargo, que em meio era a presidente Añe. O seu governo recebeu diversas críticas, sobretudo de abuso de poder, corrupção e gestão inadequada da crise sanitária que chegou ao país, desse modo, a candidata caiu nas pesquisas e depois anunciou que não participaria da eleição, abrindo caminho para o crescimento do partido de Morales e para a ascensão do ex-ministro da economia, Luis Arce, ao cargo de presidente.
Luis Arce, o presidente eleito
Conhecido na política boliviana, Arce se destacou no processo eleitoral, conseguindo capitalizar os votos de eleitores indecisos e se consagrar como vencedor na eleição realizada em outubro, cujo cenário pandêmico e econômico pode ter colaborado para a escolha do líder, sustentado pelo seu histórico como ministro da economia por muitos anos e a manutenção da estabilidade econômica durante os governos de Morales, apresentando-se na campanha como um homem de experiência e capaz de conduzir o país. Dessa vez, o resultado da eleição foi aceito pela comunidade internacional, fato que não ocorreu no pleito realizado no ano passado, com países como Brasil e Estados Unidos não reconhecendo o resultado que levaria Morales ao quarto mandato, enquanto outros se manifestaram pró resultado.
O ex-presidente Evo Morales, neste momento encontra-se na Argentina – país que foi depois de seu asilo no México – e há possibilidade de retornar ao país nos próximos meses, uma vez que a ordem de prisão por terrorismo que havia sido emitida contra ele foi anulada no final do mês passado, outubro, ainda que a acusação de fraude no processo eleitoral não tenha avançado. O presidente eleito – aliado de Morales – afirmou que ex-presidente é muito bem-vindo no país, em pronunciamentos ao longo do final do mês de outubro e início de novembro, Morales afirmou que pensa em retornar ao país, mas não irá participar do novo governo.
Vale ressaltar, que o Brasil não reconheceu o resultado que levaria Morales ao quarto mandato seguido, agora cabe acompanhar como o Brasil dialogará com o novo presidente, que deve tomar posse no dia 8 de novembro. O presidente Jair Bolsonaro, não comparecerá na cerimônia de posse – ato que pode indicar uma posição do governo brasileiro quanto ao novo presidente – cabendo ao nosso embaixador no país a representação diplomática. Na sexta-feira, dia 06 de novembro, o presidente eleito foi alvo de um ataque com explosivos, mas passa bem e a cerimônia de posse está mantida.
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Gustavo Ferreira Felisberto
Eu divido meu tempo livre entre leituras e conteúdo audiovisual, ficção científica é o meu gênero predileto nos dois formatos (apesar de adorar comédia), sendo Duna meu livro favorito, enquanto Twelve Monkeys e Jurassic Park ganham o posto de série e filme que mais gosto. |