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Após um referendo realizado no domingo, dia 25 de outubro, a decisão esmagadora foi a de mudar a Constituição chilena de 1980, constituída durante a ditadura militar de Augusto Pinochet (1973-1990). Essa foi a primeira de várias etapas que constituem o processo de uma mudança constitucional. O próximo passo agora é eleger 155 constituintes que ficarão responsáveis por redigir o novo texto constitucional, que se dará em abril de 2021.
O país vive uma onda de protestos que vem se prolongando desde o ano passado, tendo como estopim o anúncio do aumento da tarifa do metrô em 30 pesos, moeda chilena. Em dinâmica parecida aos protestos de junho de 2013 no Brasil, o país entrou numa crise social que já ultrapassa o número de 20 mortos em protestos e milhares de desempregados num contexto de pandemia que afetou ainda mais o Chile.
Então, Sebastian Piñera, presidente extremamente criticado, decidiu por iniciar o movimento pró uma nova Constituição. Para tal, um plebiscito tinha sido marcado para acontecer no início do ano de 2020. Porém, com a pandemia, foi postergado para outubro. O resultado positivo à mudança de 78,27% conta 21,73% foi surpreendente numa votação que envolveu uma sociedade com pouca tradição de presença às urnas, reunindo as mais diversas faixas etárias.
Voz central nos protestos, as mulheres chilenas tem sido fundamentais pela busca de igualdade, manifestando-se contra o governo de Piñera e contra uma sociedade que é marcada pelo conservadorismo. A presença das mulheres simboliza o tamanho da luta no país pela transformação da realidade política e social chilena, com o grito marcante “El violador eres tu”.
Conhecido por seu neoliberalismo, o Chile é considerado um dos países mais ricos da América do Sul. Boa parte desse crescimento econômico se deu por sua economia competitiva, que gerou rendimentos altos ao país. No entanto, o descontentamento da população se tornou evidente após o começo dos protestos. O sistema educacional, de saúde, de previdência e também a desigualdade social mostraram um outro lado do Chile, tendo como principal enfoque a Constituição que é um símbolo de um período obscuro para os chilenos.
A ideia é que a mudança de Constituição gere uma resposta positiva às forças que se movem aos protestos que gerou o maior abalo político desde a democratização chilena. A incerteza é qual rumo a nova Constituição irá tomar economicamente: se vai continuar com alguns elementos liberais, ou, por outro lado, se caminhará pelo caminho social-democrata. O futuro econômico e social do país depende, então, do quão legítimo, representativo e benéfico ao país a nova Constituinte será.
Recomendação
Estrelado por Gael García Bernal, o filme “No” se passa no Chile de 1988. Pressionado pela comunidade internacional, o ditador Augusto Pinochet aceita realizar um plebiscito nacional para definir sua continuidade ou não no poder. Acreditando que esta seja uma oportunidade única de pôr fim à ditadura, os líderes do governo resolvem contratar René Saavedra para coordenar a campanha contra a manutenção de Pinochet. Com poucos recursos e sob a constante observação dos agentes do governo, Saavedra consegue criar uma campanha consistente que ajuda o país a se ver livre da opressão governamental.
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Bento Sena é o atual Secretário-Administrativo do PelotasMUN 2020 e aluno do sétimo semestre do curso de Relações Internacionais da UFPEL. |