Coreia do Norte: contraste interno e na península

Recentemente, a Coreia do Norte realizou mais um dos seus desfiles militares, aproveitando para exibir seu mais novo míssil balístico intercontinental para o mundo, mas você sabe como o país passou da fome generalizada dos anos 90 para um arsenal nuclear? Qual o custo desse arsenal para o povo norte-coreano? Conheça em um pequeno recorte histórico o contexto de desenvolvimento do programa nuclear e de mísseis balísticos do país liderado por Kim Jong-Un.

Anos 90

Durante os anos 90, o país viveu um dos piores momentos desde a assinatura do tratado de armistício em 1953. Apesar da paz na península, o povo norte-coreano estava vivendo um período que posteriormente seria conhecido como a Grande Fome, no qual estima-se que entre 1994 e 1998 o número de mortes em decorrência da fome possa ter chegado na casa dos três milhões (o número exato não é conhecido, devido à dificuldade de obtenção e confirmação dos dados).

Crianças de uma creche ao noroeste de Pyongyang recebem alimentos durante a Grande Fome – United Nations Photos

Enquanto a maior parte da população norte-coreana sofria com a Marcha Árdua (outro nome para a Grande Fome), fazendo com que o país dependesse ainda mais de ajuda alimentar internacional, os gastos com o emergente programa nuclear eram prioridade para o governo, consumindo grande parte dos escassos recursos financeiros que o país dispunha.

Acredita-se que desde os anos 60 a Coreia do Norte trabalha em um programa de pesquisa nuclear, mas foi na década de 90 – após a assinatura do Tratado de não proliferação de armas nucleares (TNP) pelo país – que a situação criou entraves diplomáticos e o governo ao norte do paralelo 38 decidiu por continuar em segredo o desenvolvimento de armas nucleares. Mesmo com uma grave crise financeira e fome generalizada entre sua população, a prioridade sempre foram os gastos com forças militares e defesa.

Gastos crescentes

Segundo dados de 2017 da Anistia Internacional para o Leste Asiático, a Coreia do Norte destina cerca de 22% do seu PIB para gastos militares, o que explicaria como o país consegue manter um enorme contingente ativo e ainda investir na manutenção de seu programa nuclear, que nos últimos anos tem sido o principal foco de atenção da comunidade internacional sobre o país.

Oficialmente a Coreia do Norte declara uma cifra que se traduziria em uma porcentagem bem inferior de gastos militares, entretanto, as estimativas mais confiáveis divulgadas por meio de estudos internacionais são mais aceitas e usadas como parâmetros para estimar não apenas os gastos com defesa, mas a economia norte-coreana de um modo geral. Ainda assim, estima-se que o regime de Kim Jong-Un já realizou mais de 100 testes de mísseis e alguns testes nucleares desde a ascensão do líder em 2011.

Desfile militar

No dia 10 de outubro, o país realizou mais um de seus tradicionais desfiles militares, em que costuma exibir seu arsenal e receber atenção da comunidade internacional por apresentar novos projetos. Em seu último desfile, a República Democrática da Coreia do Norte aproveitou a ocasião de comemoração dos 75 anos do Partido do Trabalho da Coreia para exibir ao mundo seu gigantesco míssil balístico intercontinental.

O evento durou pouco mais de duas horas, contando com a participação do líder supremo Kim Jong-Un, cúpula governamental e outros milhares de soldados. Tradicionalmente, o final de um desfile militar norte-coreano é reservado para exibir algo que o governo vem trabalhando. Dessa vez, o destaque vai para novos mísseis balísticos intercontinentais, que apesar de ainda não testados, devem permitir que a Coreia do Norte coloque ogivas em seu interior. Enquanto isso, as negociações com os Estados Unidos para desnuclearização encontram-se paradas, com o último encontro tendo sido realizada vários meses atrás.

Mísseis balísticos intercontinentais (ICBM) exibidos no desfile de 11 de outrubro – KCNA/YouTube

Nos últimos meses a Coreia do Norte tem adotado uma postura dura com relação aos Estados Unidos e sua vizinha, a Coreia do Sul. Em junho, o regime de Kim explodiu deliberadamente um escritório na fronteira que era usado para reuniões entre os dois países da península, apesar do norte declarar que o ato não tem relação com as negociações envolvendo os norte-americanos, não é um bom indicativo e não se sabe quando ou até mesmo se devem ocorrer novos encontros em busca da desnuclearização.


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Gustavo Ferreira Felisberto

Eu divido meu tempo livre entre leituras e conteúdo audiovisual, ficção científica é o meu gênero predileto nos dois formatos (apesar de adorar comédia), sendo Duna meu livro favorito, enquanto Twelve Monkeys e Jurassic Park ganham o posto de série e filme que mais gosto.