Você já deve ter visto ou ouvido falar sobre a tensão que vive a Bielorrússia. Uma eleição aparentemente fraudada, violência policial, um presidente déspota, manifestações todos os dias e políticos sendo rechaçados. Mas você já parou para entender como o país foi parar nesse ponto?
Eleições e manifestações
Desde domingo, dia 9 de agosto, o país passa por uma situação nunca vista antes após contestações sobre o resultado da eleição presidencial. Aleksandr Lukashenko, também conhecido como ‘o último ditador da Europa’, venceu as eleições sobre Svetlana Tsikhanouskaya, uma professora de inglês que se candidatou à presidência após a prisão de seu marido – youtuber que era candidato à presidência do ex-país soviético. Segundo a Comissão Eleitoral Central (CEC), Lukashenko, que está no poder há 26 anos, obteve 80,1% dos votos, enquanto a candidata da oposição teve 10,12%.
Uma série de manifestações tem ganhado mais força a cada dia no país, e boa parte atribui-se ao fenômeno das mídias sociais. Os protestos têm sido recebidos com uma dose alta de repressão por parte das autoridades policiais, que até agora somam pelo menos dois mortos e mais de 7.000 detidos. No quarto dia de protestos, ex-membros das forças especiais e outros militares divulgaram vídeos onde queimavam, arrancavam e descartavam seus uniformes e insígnias, externando suas indignações com as atitudes que envergonham as instituições militares.
Nas eleições de 2001, 2006 e 2010 também ocorreram manifestações similares, mas nada comparado aos eventos deste ano. Dessa vez, o número de vítimas e o derramamento de sangue é bem maior. Fato é que nesse ano os protestos tomaram conta não só de Minsk, a capital do país, mas o país inteiro – um fato inédito.
Para piorar a situação, Lukashenko é mais um dos líderes negacionistas. Chamou a pandemia de ‘psicose’, não impôs medidas de contenção obrigatórias em seu país e ainda sugeriu a ingestão de vodca como uma medida de prevenção ao vírus. Hoje o país conta com aproximadamente 70 mil infectados e 600 mortos, número que vem crescendo.
Contexto histórico
Bielorrússia ou Belarus (em tradução, “Rússia Branca”) é um país com população aproximada de 9.5 milhões, localizada entre a Polônia e Rússia, ao norte da Ucrânia.
A partir da Revolução Russa, de 1917, o país se tornou uma das partes da ex-União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), sendo posteriormente invadida pela Polônia. Após o fim da Segunda Guerra Mundial, que arrasou o país – um terço de sua população morreu em decorrência da guerra -, a parte dominada pela Polônia fora reanexada pela URSS. Durante o período sob o jugo da União Soviética, a repressão de Moscou foi brutal e deixou marcas que explicam elementos da situação atual do país.
Em 1986, o país sofrera novamente. O desastre de Chernobyl, localizado na cidade Pripyat (Ucrânia), afetou diretamente a Bielorrússia por conta da proximidade. No país, o solo permanece altamente contaminado e estima-se que recebeu 70% da radiação da usina que explodiu há 30 anos. Além disso, milhares de pessoas sofrem até hoje as consequências do acidente.
Após o fim da União Soviética, nos anos 1990, a Bielorrússia se torna independente e em 1994 elege seu primeiro – e único até agora – presidente, Aleksandr Lukashenko. Na época, deputado pouco conhecido, ganhou popularidade após expor alguns casos de corrupção no parlamento. Desde então, a relação entre Belarus e Rússia tem se dado em boa parte por conta dos gasodutos e oleodutos russos que passam pela Bielorrússia e que abastecem a Europa. Para que isso acontecesse, foi acertado que Belarus pudesse ter acesso à essas fontes de energia com um valor abaixo do de mercado. No entanto, devido ao fim das sanções impostas pela União Europeia à Bielorrússia em 2016, tem havido algumas oscilações nessa relação. Na prática, Moscou acabou com os subsídios energéticos à Bielorrússia, acabando por gerar uma tensão nas relações políticas entre os países.
Futuro
Svetlana Tsikhanouskaya, refugiada na Lituânia por temer pela segurança de seus filhos, tem convocado protestos pacíficos para denunciar a repressão através de um vídeo divulgado nas mídias. Enquanto isso, hoje, sexta-feira 14, está programada para acontecer uma reunião extraordinária de ministros da União Europeia sobre a situação de Belarus.
“Na reunião vamos falar sobre assuntos urgentes e abordaremos a situação no Mediterrâneo oriental, as eleições presidenciais em Belarus, assim como a evolução da situação no Líbano”, anunciou o chefe da diplomacia europeia, Josep Borrell.
Apesar de todas sanções e contraposições ao governo bielorrusso, Lukashenko não aparenta mudar sua ideia e pretende continuar no governo. À população resta apenas a vontade e desejo de que a Bielorrússia não se torne uma nova Ucrânia.
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Bento Sena é o atual Secretário-Administrativo do PelotasMUN 2020 e aluno do sétimo semestre do curso de Relações Internacionais da UFPEL. |