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Simpósios Temáticos – STs


Simpósios Temáticos

ST1. Memória coletiva e museus de memória

Coordenadores:

Dra. Rita Juliana Soares Poloni (PPGMP – UFPel) – julianapoloni@hotmail.com 

Dr. Darlan de Mamann Marchi (PPGMP – UFPel) – darlanmarchi@gmail.com

O presente ST busca refletir sobre a memória coletiva a partir de uma concepção alargada de museu e do surgimento de uma semântica memorial da dor, imbuída de uma tomada de consciência pública, com a incorporação da dimensão incômoda e violenta da cultura em seu repertório. Tais museus de memória (WILLIAMS, 2007), também entendidos como museus de consciência (VALLE; CURY, 2012), voltados para consolidar uma cultura dos direitos humanos a partir da qual a ética e a consciência são valores compartilhados e vetores de mudança.

Entendemos que a memória coletiva relacionada a lugares e experiências de sofrimento é um vetor que, ao agregar memórias de grupos que passaram por experiências traumáticas e ao atuar através das sensibilidades, pode ser um mecanismo de resistência frente aos abusos do poder do Estado, como os exercidos através de políticas de cerceamento das liberdades, como no caso extremo das ditaduras. Essa memória coletiva, pode ser entendida também como um processo que reflete na gestão social dessas memórias difíceis e que está presente nos espaços museais e patrimoniais criados para esse fim.

Assim, partindo da premissa de que aquilo que os museus guardam e transmitem pode coincidir com os “marcos sociais da memória coletiva” (HALBWACHS, 2004) que uma comunidade elenca para narrar a si própria, acolheremos trabalhos que problematizem as instituições memoriais enquanto produtoras de discursos e espaços de ressignificação dos traumas sociais, e também trabalhos que reflitam sobre a ação dos empreendedores da memória (JELIN, 2002) e a participação das comunidades nesses processos. São bem-vindos trabalhos sobre as relações entre expografia e opinião do público, bem como, sobre a democratização dos processos públicos de memória, por exemplo, com a criação de museus comunitários e seus desafios. Portanto, nosso ST se propõe a abordar temas que perpassam a concepção de museu enquanto fenômeno, ou seja, um espaço vivo para a memória, mas um espaço em disputa, um lugar de convergências, divergências, identificações e conflitos. Da mesma forma, trabalhos que versem sobre outros dispositivos de memorialização de eventos traumáticos compartilhados, a partir da ocupação do espaço público, como os monumentos e antimonumentos, centrados na relação entre memória coletiva, direitos humanos e violação de direitos, também serão acolhidos por este ST.

Referências:

HALBWACHS, Maurice. Los marcos sociales de la memoria. Traduzido por: Manuel A. Baeza y Michel Mujica. Barcelona: Anthropos editorial, 2004.

JELIN, Elizabeth. Los Trabajos de la Memoria. Madrid: Siglo XXI, 2002.

VALLE, Carlos Beltrão; CURY, Marília Xavier. Museu de consciência x memória traumática – O Memorial da Resistência In: ASENSIO; POL; ASENJO et al. (Ed). Nuevos Museos, Nuevas Sensibilidades. Series de Investigación Iberoamericana em Museología.Ano 3.Vol. 4. 2012

WILLIAMS, Paul. Memorial Museums: The global rush to commemorate atrocities. New York: Berg publishers, 2007.

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ST2. Memória coletiva e virtualidade

Coordenadoras:

Ma. Priscila Chagas Oliveira (PPGMP – UFPel) – priscila.museo@gmail.com

Ma. Karla Nazareth-Tissot (PPGMP – UFPel) – karlanazarethtissot@gmail.com

O surgimento da cultura digital e das tecnologias e interfaces computacionais fez emergir um processo sociocultural de integração da vida social com a tecnologia. A cibercultura, que atualiza as configurações sociais, culturais, políticas e econômicas (LEMOS, 2007) especifica um novo conjunto de técnicas (materiais e intelectuais), de práticas, de atitudes, de modos de pensamento e de valores que se desenvolvem conjuntamente com a expansão do ciberespaço (LÉVY, 1999). No entanto, por mais que admitamos que a digitalização e o crescimento do ciberespaço desempenhem um papel essencial no movimento contemporâneo de virtualização, trata-se de uma onda de fundo que ultrapassa amplamente a informatização. A virtualização atinge inclusive as modalidades do estar junto e a constituição do nós: comunidades virtuais, empresas virtuais, democracia virtual. Esse movimento afeta não somente a informação e a comunicação, mas também os corpos, o funcionamento econômico, os quadros coletivos da sensibilidade ou o exercício da inteligência (LÉVY, 1996). 

Assim, este ST se propõem a refletir sobre a memória coletiva (HALBWACHS, 1990) que, em tempos de cibercultura, é digitalizada, virtualizada e atualizada. Virtual vem do latim virtualis, que deriva de virtus, força, potência, portanto, serão acolhidos neste ST os trabalhos que versem sobre as potencialidades e problemáticas que surgem da virtualização, principalmente no que se refere à reconfiguração dos marcos sociais da memória (HALBWACHS, 2004). Reconhecendo que os marcos sociais da memória são instrumentos que a memória coletiva utiliza para reconstruir uma imagem do acontecimento ocorrido no passado, de acordo com os valores e pensamentos da sociedade do presente, no próprio tempo e espaço em que ocorre a recordação, lançamos neste ST alguns questionamentos: Quais as implicações da construção da memória coletiva na atualidade? De que maneira os processos de criação, gestão e transmissão das memórias por meio das narrativas online nos permitem revisitar a obra de Maurice Halbwachs na intenção de repensar seus principais conceitos e teorias? Em tempos de imediatismo, cibridismo (BEIGUELMAN, 2004), iconorréia midiática (CANDAU, 2012), acumulação/dissolução (DODEBEI, 2011), fakenews, negacionismo e pós-verdade (SANTAELLA, 2018) que, de certa forma, caracterizam grande parte das práticas sociais e simbólicas da Rede, quais os desafios e as possibilidades descortinados pela cibercultura, sobretudo no que se refere às novas subjetividades instauradas pela relação humano-máquina. 

Por fim, o objetivo deste ST é reunir pesquisas inter, multi, transdisciplinares que contemplem em suas propostas a compreensão desta dinâmica social emergente, fomentando, simultaneamente, novas questões que possam evidenciar as profundas alterações introduzidas no campo de estudo em memória social. 

Referências:

BEIGUELMAN, Giselle. Admirável Mundo Cíbrido. 2004. Disponível em <http://www.academia.edu/3003787/Admir%C3%A1vel_mundo_c%C3%ADbrido>. Acesso em 06. ago. 2020. 

CANDAU, Joel. Memória e Identidade. São Paulo: Contexto, 2012.

DODEBEI, Vera Doyle. Memória e Patrimônio: perspectivas de acumulação/dissolução no ciberespaço. Revista Aurora, São Paulo, n. 10, 2011. Disponível em: <http://revistas.pucsp.br/index.php/aurora/article/view/4614>. Acesso em 10 mar. 2016.

HALBWACHS, Maurice. A Memória Coletiva. Rio de Janeiro: Vertice, 1990.

HALBWACHS, Maurice. Los Marcos Sociales de la Memoria. Traduzido por: Manuel A. Baeza y Michel Mujica. Barcelona: Anthropos editorial, 2004.

LEMOS, André. Cibercultura: tecnologia e vida social na cultura contemporânea. 3.ed. Porto Alegre: Sulina, 2007.

LÉVY, Pierre. Cibercultura. São Paulo: Editora 34, 1999.

LÉVY, Pierre. O que é virtual? São Paulo: Editora 34, 1996.

SANTAELLA, Lucia. A pós verdade é verdadeira ou falsa?. Barueri, SP: Estação das Letras e Cores, 2018.

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ST3. Conflitos de memória na contemporaneidade

Coordenadores:

Me. Isabel Cristina Bernal Vinasco (PPGMP – UFPel) – icristina.bernal@udea.edu.co

Me. Jaime Alberto Bornacelly Castro (PPGMP – UFPel) – jaime.bornacelly@udea.edu.co

A sociedade contemporânea tem uma experiência significativa de conflitos de memória na história recente que requerem sua análise. Este ST tenta enfatizar vários aspectos interrelacionados que partem de conceituações e descobertas que Maurice Halbwachs fez em suas diversas contribuições ao campo da memória, em relação a tópicos como: religião, linguagem, grupos e estruturas sociais, tempo, espaço, subjetividades, experiência, identidade, cultura, entre outros. Em primeiro lugar, existe uma dimensão cultural, patrimonial e simbólica da memória coletiva, na qual grupos étnicos, raciais, de gênero e classe fazem valer suas pretensões de fazer memória no espaço público, íntimo e privado, bem como processos patrimoniais e memoriais que entram em conexão, contradição, tensão e disputas com lógicas diversas, hegemônicas ou predominantes em um contexto contemporâneo caracterizado por: fluxos informacionais e comunicativos, multiculturalismo, presentismo, globalização da cultura, hierarquização dos saberes, dos territórios e conhecimentos, a invisibilidade da diferença, a diversidade de narrativas e linguagens, a globalização da memória, entre outras. Nessa perspectiva, quais foram os avanços no conhecimento sobre esses novos conflitos de memória e sua relação com territórios, conhecimentos, emoções, lugares, materiais e símbolos? Que novos atores civis, saberes, conhecimentos e discursos estão passando pelos clássicos conflitos de memória? Quais são os suportes, repertórios, meios, mediações e estética com os quais esses conflitos de memória são representado, expresso e comunicado? 

Em segundo lugar, o ST busca reunir análises sobre uma dimensão política, institucional e ambiental da memória coletiva, em que partidos políticos, movimentos sociais, grupos de interesse, Estado e organizações multilaterais estão envolvidos em lutas por reconhecimento e disputas pela construção de políticas de memória e patrimônio com conteúdos polêmicos, complexos e de alto impacto, como: guerras, genocídios, autoritarismos, megaprojetos, desastres ambientais, epidemias, industrialização, desindustrialização, urbanização, migrações, colonialismo, entre outros. Esses conflitos de memórias coletivas locais estão conectados a outras experiências globais e transnacionais, desde que existam fenômenos sociais e ambientais comuns, como capitalismo industrial e financeiro, extrativismo, saúde coletiva, violência política, negacionismo, desigualdades e neocolonialismo. Nesse sentido, quais memórias coletivas estão sendo obliteradas, silenciadas, negadas ou tornadas visíveis no contexto do capitalismo neoliberal, extrativista e pós-industrial? Como as memórias coletivas locais se conectam com outras realidades internacionais dentro de um contexto de transnacionalização das memórias, a economia e a biopolítica? Quais grupos, atores e discursos estão posicionados no cenário público e político a partir de seus trabalhos de memória?

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