21 de Março Dia Mundial da Luta contra a Discriminação Racial

O dia 21 de março é reconhecido como o Dia Mundial da Luta Contra a Discriminação Racial e marca as lutas e conquistas do movimento negro por igualdade de direitos. No Brasil, especialmente, o racismo está estruturalmente enraizado na sociedade e ainda reflete uma história de mais de 300 anos de escravidão, naturalizando atitudes, falas, pensamentos e hábitos que promovem a segregação e o preconceito racial, causando os mais diversos sofrimentos na população negra.

O cenário da luta contra a discriminação racial no Brasil teve avanços, mas ainda está longe de garantir, de fato, condições igualitárias. De acordo com a técnica-administrativa da UFPel, Cláudia Daiane Garcia Molet, doutora em História e pesquisadora de temáticas relacionadas à escravidão, mulheres negras, racismo e pós-abolição, é um dia importante para pensar a diferenciação no acesso aos direitos relacionados à raça, à cor e à ascendência. “É um dia de luta e de análise sobre o que avançamos, como avançamos e o que precisamos mudar enquanto sociedade para garantir que todos tenham acesso à cidadania”, explicou.

A discriminação racial está presente no cotidiano e, segundo a historiadora, é preciso analisar os dados e propor medidas para superar as desigualdades raciais que fazem com que a população negra, junto com indígenas e quilombolas, tenha mais dificuldades para acessar oportunidades de emprego e de escolarização. Ao destacar o recorte de mulheres negras, Cláudia Daiane chama a atenção para as diversas opressões que atravessam esse grupo de mulheres. “São os jovens negros que estão mais encarcerados e os que mais morrem pelas mãos do estado. Desta forma, as mães negras são as que mais choram pelas mortes dos filhos. As mulheres negras são as que mais sofrem homicídios, as que mais sofrem violências obstétricas, as que mais sofrem com a solidão, não só afetiva, mas no seu ambiente de trabalho, por exemplo, sendo muitas vezes a única pessoa negra naquele espaço”, salientou.

A data também propõe o debate sobre a necessidade de políticas públicas para o ingresso e permanência dos povos originários nos diferentes espaços. “Há uma construção social e histórica de que a partir do fenótipo é definido onde a população negra deve ou não estar. As pessoas não estão preparadas para lidar com negros e negras em determinados espaços, porque estão acostumadas a viver com seus pares, pessoas brancas, com seus privilégios, não estão habituadas a receber questionamentos e ouvir pessoas que são de um outro contexto”, disse.

Segundo a historiadora, até mesmo os ambientes de ensino não estão preparados para lidar com essa situação. Cláudia Daiane destaca a importância de pensar sobre os lugares que a população negra ainda precisa ocupar e sobre a necessidade de uma atualização desses espaços. “Precisamos ocupar todos os espaços, inclusive aqueles que historicamente são considerados espaços para pessoas brancas. A Universidade, enquanto instituição de ensino, precisa se debruçar sobre os dados de estudantes, técnicos-administrativos, docentes, terceirizados e terceirizadas, porque é notório que temos uma comunidade de servidoras e servidores majoritariamente brancos, inclusive ocupando espaços de poder e a luta passa pelo reconhecimento desses privilégios e pela abertura de oportunidades para que pessoas negras, quilombolas, mulheres, indígenas, trans, acessem esses espaços de decisão e de construção de uma instituição antirracista, de fato”, destacou.

CONQUISTAS

Além de ser um dia para marcar a luta contra a discriminação racial, o 21 de março, também tem o propósito de celebrar as conquistas do movimento negro no decorrer da história, que lutou pela liberdade durante a escravidão, conquistou a abolição e, durante o pós-abolição, lutou pela cidadania. “Os avanços são muitos, às vezes tardios, não porque não teve luta, mas porque as pessoas que estavam no poder não estavam abertas. A constituição de 1988 considerou o racismo um crime, foi um marco importante e veio de uma luta do movimento negro”, exemplificou Cláudia Daiane.

A historiadora lembra outras conquistas do movimento negro como as leis que estabelecem a obrigatoriedade de ensino de história e cultura afro-brasileira e indígena em sala de aula e o ingresso via cotas para estudantes, docentes e técnico-administrativos. “São leis importantes, ainda que tenhamos que questionar alguns pontos relacionados a fraudes, como se dá a permanência dos estudantes nos espaços de ensino e, no caso de servidores e servidoras públicas, pensar de que maneira os editais, por exemplo, para docência, apenas reservam a vaga, mas não garantem o ingresso das pessoas negras”, destacou.

SOBRE A DATA

O Dia Mundial da Luta Contra a Discriminação Racial foi instituído pela Organização das Nações Unidas (ONU), em 1969. A data foi escolhida em memória ao Massacre de Sharpeville, ocorrido no dia 21 de março de 1960, na África do Sul. Na ocasião, 69 pessoas foram assassinadas pelas forças do Estado da província de Gauteng, por protestarem contra o Apartheid.