Manifestação do Fórum de Diretores da UFPel
Todos devem ter direito a seus argumentos e concepções, desde que intelectualmente honestas.
Na sexta-feira passada nos defrontamos com um ataque inconsistente e intelectualmente desonesto contra as Ciências Humanas e Sociais, primeiramente comum argumento econômico, o de respeitar os recursos públicos, como se as áreas visadas fossem ricamente aquinhoadas pelo orçamento das Universidades Públicas.
No dia seguinte, o discurso mudou, mostrando as raízes obscurantistas e intelectualmente desonestas do mesmo: ‘não podemos manter cursos que fazem política’,ou seja, a fundamentação, se assim podemos chamar, era meramente ideológica, e mais uma vez intelectualmente desonesta.
Os recursos públicos aplicados nessas áreas são escassos, os alunos não são da‘elite’, ao contrário, como demonstram vários dados relativos às áreas, e, se há quem faça política, isso não é uma prerrogativa dos cursos das áreas. Mas a verdade não importa,importa sim o preconceito, o fundamentalismo, a ideologia rasteira e a falta de informação, a mesma falta de informação que afirma que as Universidades Públicas não fazem pesquisa, apenas as privadas, contrariando todos os índices reconhecidos.
Mais do que nunca, as Ciências Humanas e Sociais são parte incontornável da produção e inovação científica. Como afirma Diogo Shelp (UOL, 26/04/2019), a interdisciplinaridade é a regra, e as Humanas e Sociais desempenham um papel muito importante no desenvolvimento do conhecimento em suas múltiplas nuanças. Basta estar informado para saber. Nós queremos conhecer, pensar, compreender e analisar a vida, as pessoas, a sociedade e o mundo, e isso requer mais que aprender a ler, escrever e contar.
Cabe questionar sobre o tipo de projeto de país e de cidadão que se espera construir quando a área de humanidades é renegada e combatida, quando se despreza a reflexão, a capacidade crítica, o conhecimento já produzido sobre a cultura e o pensamento. Se a opção é essa, seguramente só se conseguirá construir um país e um conjunto de cidadãos que serão o espelho das autoridades circunstanciais que a afirmam como projeto. É isso que queremos enquanto cidadania?
Existem posições que defendem uma ressecção das Universidades Públicas,começando pelas Humanidades. Nós queremos a ressecção racional do obscurantismo e do anti-intelectualismo vigente em alguns extratos da sociedade. Para isso, a necessidade real das Humanas e Sociais, não apenas nas Universidades, mas em todo o ensino básico.