“aVACAlhARTE” nasceu a partir de algumas obras feitas para uma mostra na Associação Rural de Pelotas, quando surgiu, quase que naturalmente, a ideia de trabalhar com a vaquinha como um personagem que pudesse se desdobrar sob inúmeras facetas, enfocando um universo de situações de nossa convivência social, política, científica, ambiental, etc.

A experiência rendeu esta série de trabalhos feitos com a alegria de uma brincadeira, como catarse em frente aos tempos difíceis dos últimos anos, e com a seriedade necessária para produzir arte.

 _ Zéca Nogueira

Grafia fonética/semântica de uma A VACA ALIADA, que DESMATA, DESAGUA e DESERTA, no RESGUARDO de um BOICOTE, BOIDADA ou VACA GADO passível de interpretações adversas, é métrica melódica complementar à forma, cor, composição, ritmo e proporção… é escritura topográfica escultórica articulada em palavra–imagem, par realidade e imaginação convivendo com um sentido único: elevar à consciência ao que é, ou foi, ordinário da experiência. Tipo linguagem, tem seus códigos bem definidos: diferença e repetição, relação de conjunto e unidade. Como uma escrita tridimensional, pode-se ler… vendo… circundando! Assim, Zeca Nogueira escreve desenhando — desenha escrevendo, constrói sua visualidade amparado pelos significantes da palavra em sua plástica realidade tangível, em tempo e espaço, dialogando com o melódico som do verbo, também, presentificado em matéria plástica.

 _ Fernando Igansi
Londres, 15 de novembro de 2022

A exposição de Zeca Nogueira, em 2019, não sabia o que viria nos dois anos seguintes. Mas anteviu. E continuou, desdobrou-se, multiplicou-se e fez de uma única e incansável figura o mot de um discurso reiterativo, às vezes direto. Um discurso que também é uma brincadeira de palavras, figuras e cores primárias (como podem ser primários os mais perversos intuitos e ações dos "tristes tiranos") que com um humor irônico ou uma ironia humorada suprime qualquer dúvida sobre do que se está vendo e, portanto, em linguagem figurativa, do que se está falando. Assim, um elemento modular, uma vaquinha de brinquedos como os que muitos de nós deram aos seus filhos, adquire uma densidade expressiva absoluta seja na repetição, na dimensão, no volume ou na combinação com outras figuras simples e diretas. Ou, ainda, na ironia do humor sem concessões, em combinação com palavras. Não se tratam de obras, senão de uma exposição que se estende no tempo, ironiza e critica a macabra e violenta trajetória daquilo que se apresentava como anticiência para consumar-se no que era desde sempre: anti-humanidade.

 _ Francisca Ferreira Michelon
dezembro de 2022