Medeiros, Marielda Barcellos – “Pelotas pequena África: territorialidade negra a partir das Festas Black”

Esta tese trata da retrospectiva do processo histórico da presença de africanos no sul do Brasil. Traz uma trajetória não eurocêntrica que possibilita uma visão da África no Brasil observando a importância do povo negro sequestrado, que em perpetuando-se contribuiu para a construção do povo brasileiro, em particular aqui, gaúcho. O segundo momento trata dos espaços culturais em diálogo com a negritude, considerando compreensão de uma das questões fundamentais neste contexto de sociedade: os espaços culturais e a construção de identidades. O objetivo maior da investigação são as formas culturais afrocentradas que se processam nas Festas Black, considerando-as como espaços e formas de visibilidade negra em Pelotas, RS. Deste modo, observo alguns pontos que considero importante sobre o Brasil, sobre o que é ser negro neste país, sobre visibilidade e invisibilidade negra, sobre minha percepção acerca de formas culturais e espaços afrocentrados. O eixo condutor é a etnografia das Festas Blacks em Pelotas, Rio Grande do Sul, algo que foi e ainda continua sendo presente na minha vida. Os questionamentos realizados cientificamente são respondidos e demonstram, desde lá, na origem em África, até aqui, território brasileiro pós-escravização, como percebemos nos nossos terreiros de umbanda e batuque do sul que a black music e as festas blacks se apresentam como territorialização. Um território festeiro que nesta cidade pontua uma presença expressiva de África. A tese apresenta a constante ação de repressão e marginalização desenvolvida através do sistema social estruturado na negação do negro. O sistema, quando lhe convém, reconhece esta manifestação cultural, mas quando não lhe convém, se utiliza da dita “legalidade” para impor sua não realização. “Apesar dos pesares”, se mantém nestes nossos dias, como resultado contra todas as intervenções negativas, mesmo que subjugado às leis da sociedade com convicções ainda escravistas e colonialistas. Os atores envolvidos se colocam à disposição da manutenção deste legado cultural, que foi construído em Pelotas e que passa de geração para geração, com muito compromisso, com muito afeto e afetação, e que promovem encontros da negritude. A tese apresenta o território afrocentrado, carregado da herança da nossa matriz civilizatória, do legado ancestral, dando continuidade à dinâmica das festas que reúne o coletivo negro, que está ligado de forma dialética, entre passado, presente e futuro, reunindo diferentes gerações em um processo, que revela pertencimento e resistência. É uma resistência minha, dos meus ancestrais e dos atores aqui envolvidos que reapresentam os afrodescendentes residentes nesta Pelotas como uma pequena África.

TESE DEFENDIDA – Acesse aqui