Modelagem Matemática do COVID-19: Atualização de 03.07.2020

O contexto mundial e brasileiro é analisado na atualização semanal dos pesquisadores do GDISPEN sobre a evolução da pandemia do COVID-19.

O Brasil dentro do cenário mundial:

  • O Brasil se encontra no 111° dia da epidemia após o 100° caso e não apresenta atenuação no seu crescimento. Dados: confirmados: 1.496.858; óbitos: 61.884; recuperados: 852.816; casos ativos: 582.158
  • No mundo: confirmados: 11.034.046; óbitos: 525.156; recuperados: 6.186.869; casos ativos: 4.322.021

Para analisar a evolução do aumento do número de casos da epidemia, na América do Norte e do Sul, são apresentadas curvas que apresentam o total de casos confirmados e de óbitos em função do tempo (https://ourworldindata.org/coronavirus). Nos gráficos são apresentadas as curvas para os 10 países com mais casos. Observa-se que o Brasil segue com ritmo de crescimento elevado. Dentre os países selecionados, os números acumulados do Brasil são inferiores somente aos dos Estados Unidos em todas as categorias (https://www.worldometers.info/coronavirus/). Analisando os valores por 1 milhão da população, temos no Brasil 7.123 casos confirmados e 295 mortes.

Nos gráficos, as linhas cinza no fundo mostram as retas cujas inclinações correspondem à duplicação do número de casos a cada 1, 2, 3, 5 e 10 dias (tempo para que os casos dobrem de valor). Desde o início da epidemia o Brasil já dobrou várias vezes os seus valores. O número total de mortes confirmadas cresceu com uma taxa de 2.1% nos últimos 30 dias, tendo 29.937 mortes em 1 de junho e 61.884 em 2 de julho, dobrando em 31 dias. Para o total de casos confirmados, em 9 de junho no Brasil se tinha 739.503 casos e 23 dias depois este valor dobrou, tendo em 2 de julho 1.496.858 infectados.

Para avaliar o progresso da epidemia comparamos nos gráficos abaixo a quantidade de novos casos diários pelo total de casos acumulados para infectados e óbitos. Neste tipo de gráfico, enquanto uma epidemia está em expansão, o valor no eixo vertical cresce a medida que nos deslocamos para a direita sobre a curva deste país.  Já no caso de a velocidade da epidemia estar reduzindo, ao se deslocar para a direita sobre a curva, o valor no eixo vertical diminui. A epidemia será considerada controlada quando a curva chegar em zero.

Nestes gráficos, além dos países da América do Norte e do Sul, foram inseridos países europeus que já estão em uma fase de maior controle da epidemia. Observamos que o Brasil segue crescendo no número de casos confirmados (curva abaixo dos Estados Unidos), e que se encontra com valores de óbitos estabilizados em um platô, mas a curva ainda não é descendente.

 

Na tabela abaixo, são apresentadas as taxas de infecção e fatalidade no mundo, dando uma idéia geral da epidemia (https://informationisbeautiful.net/). São apresentados os casos confirmados (confirmed cases), mortes (death), a porcentagem de casos que foram a óbito (% cases who have died), os casos por milhão da população (cases per million people), e óbitos por milhão (death per million people), para os 20 países que lideram cada categoria no dia de hoje. Pode-se verificar que os Estados Unidos, Brasil, Rússia e Índia seguem sendo os países com o maior número de infectados por COVID-19, respectivamente. Se analisarmos os casos por milhão da população, hoje este ranking é de Chile, Peru, Estados Unidos e Brasil (subiu 2 posições nesta semana, de 6º para 4º). Analisando o número de mortes, Estados Unidos, Brasil, Reino Unido e Itália tem os maiores valores. Já nas mortes por milhão de habitantes, Bélgica, Reino Unido, Espanha e Itália seguem liderando os números, sendo que o Brasil segue em 11° (manteve a posição nesta semana).  OBS.: Os valores numéricos podem variar entre as fontes e os horários consultados.

A figura abaixo apresenta o total de mortes confirmadas por continente no dia de hoje, sendo que a Europa e a América do Norte possuem os maiores acumulados.

Na figura a seguir, apresenta-se o gráfico da evolução da epidemia no Brasil, tanto para o número de infectados quanto para o de óbitos diários, evidenciando a curva de tendência (média móvel de 7 dias) para ambos os casos. Na última semana o Brasil teve uma média de 38.392 infectados e 988 óbitos por dia. A curva segue em ascendência para os casos confirmados. Percebe-se uma pequena redução no número de óbitos (apresentou 44 casos a menos do que a média semanal anterior). Atualmente possuímos mais pessoas recuperadas do que com a doença no Brasil.

O RS dentro do cenário brasileiro:

Nas figuras abaixo pode-se visualizar os números de casos confirmados e óbitos em cada estado da federação, bem como os dados acumulados e por 100.000 habitantes, em ordem crescente de casos (destacado em vermelho o estado do RS). Considerando o dado acumulado, São Paulo, Rio de Janeiro, Ceará e Pará possuem o maior número de casos confirmados e de óbitos. Analisando os casos por 100.000 habitantes estes rankings de incidência passam a ser de Amapá, Roraima, Amazonas e Distrito Federal e de mortalidade para Amazonas, Ceará, Rio de Janeiro e Roraima.

Observa-se que dentre os 3 estados da região Sul, o PR apresenta o maior número de óbitos por 100.000 habitantes, 6,2, seguido do RS com 5,8 e SC com 5,1. Para os casos confirmados, na região Sul, temos que a incidência em SC é de 398,8, no RS é de 256,6 e no PR é de 230,1 casos por 100.000 habitantes.

No gráfico a seguir, apresenta-se a evolução do COVID-19 para o Brasil e 14 estados, a partir do 100° caso. Dentre estes estados, o RS tem a terceira trajetória menos intensa, ficando acima apenas de PR e SC conforme pode ser melhor visualizado no zoom da figura.

Nos últimos 3 dias, o RS teve mais de mil novos casos de COVID-19 por dia, totalizando 29.195 casos confirmados, apresentando uma taxa de crescimento diário médio de 3,15% nos últimos 5 dias. Um total de 663 pessoas já perderam a vida para a doença no estado. Do total de casos confirmados, o equivalente a 81% já é considerado curado (23.525) e 17% são casos ativos (5.007). Segue abaixo uma imagem representando como os casos confirmados e de óbitos estão divididos por faixa etária e por sexo, um gráfico dos casos recuperados, ativos e óbitos e um resumo dos sintomas apresentados pelos casos confirmados (http://ti.saude.rs.gov.br/covid19/).

Para se ter uma ideia de como a epidemia do COVID-19 está espalhada dentro do RS, seguem uma ilustração da distribuição dos casos confirmados e da incidência por 100.000 habitantes.

Com o aumento do número de casos confirmados e de suspeitos de COVID-19, o sistema de saúde do RS tem acompanhado um aumento no número de ocupação dos leitos de UTI. Algumas regiões do estado estão chegando a níveis críticos de ocupação de leitos. Aproximadamente 70,1% destes leitos estão ocupados. Hoje, temos 2183 leitos de UTI no estado, com um aumento de 93 leitos nesta semana (em relação à última sexta-feira). As barras vermelhas sinalizam o aumento da utilização de leitos de UTI por casos confirmados de COVID-19.

Abaixo seguem os gráficos do Brasil, RS e de 19 cidades gaúchas que possuem mais de 100.000 habitantes. No total são 409 municípios do RS que possuem casos confirmados de COVID-19 (82% dos 497 municípios).

São apresentadas projeções até o dia 8 de julho. No modelo matemático SIR, foi considerada uma taxa média de reprodução R0 que variou de 1.07 a 1.43 (uma vez que a epidemia está mais agressiva em alguns locais) e um período de infecção de 5.2 dias. Os dados utilizados são por data de notificação e obtidos no site do Ministério da Saúde do Brasil e na Secretaria da Saúde do estado (SES RS).

Se a taxa de crescimento seguir como está, estima-se que até o dia 8 de julho, o BR atingirá a marca de 1.760.000 infectados, que o RS terá em torno de 36.000 infectados e que Pelotas atinja 360 casos confirmados de COVID-19.

Este estudo tem finalidade puramente acadêmica e científica, mostrando a grande aplicabilidade da modelagem matemática em problemas reais. As discussões, opiniões, ideias e publicações geradas a partir dos resultados do modelo utilizado são de autoria dos respectivos autores, e não necessariamente representam aquelas das instituições a que estes pertencem. Detalhes da pesquisa podem ser consultados na página do laboratório do Grupo de Dispersão de Poluentes & Engenharia Nuclear (GDISPEN): https://wp.ufpel.edu.br/fentransporte/.

* Os dados da epidemia foram consultados antes das 13h do dia 03.07 nas redes sociais e nos sites do Ministério da Saúde do Brasil e da Secretaria da Saúde do RS, da Universidade John Hopkins, da Fiocruz, da plataforma P2k do DMS da UFPel, do Worldometeres, do Our World in Data e Information is Beautiful. Os dados podem divergir de acordo com a fonte consultada.