Em memória de Marcelo Cazarré
Pianista, pesquisador e professor da UFPel há quase 30 anos, Marcelo Cazarré nos deixou em maio de 2025, aos 52 anos, mas seu legado na música, na educação e, sobretudo, nas pessoas que conviveram com ele permanece vivo. 
Cazarré graduou-se em piano na UFSM, concluiu seu mestrado e doutorado na UFRGS e realizou estágio de pesquisa na Universidade Nova de Lisboa. Publicou artigos sobre performance e musicologia, além de ter lançado seu único CD solo: Um Sarau no Pampa Gaúcho (2018), que reúne obras inéditas para piano, todas de compositores do Rio Grande do Sul.
Ao longo de sua trajetória na UFPel, atuou nos cursos de graduação e extensão em piano, correpetidor no curso de canto e coordenador de diversos projetos de destaque, como o Sarau do Conservatório, Ópera na Escola, Oficina de Piano e as Tertúlias Musicais. Também colaborou na reconstituição da opereta “Os Bacharéis”, de João Simões Lopes Neto, e participou da redação do livro História Iconográfica do Conservatório de Música da UFPel.
A atuação de Marcelo, no entanto, transcendia as salas de aula e palcos. Ele cultivava uma relação próxima com seus alunos, que deram relatos emocionados durante a homenagem realizada no Conservatório. Foram lembradas histórias de incentivo, humor, acolhimento e amizade. Uma aluna relembrou a forma como ele acreditou em seu potencial quando ninguém mais o fez. O pianista Daniel Benitez compartilhou uma lembrança marcante de quando ainda não fazia parte da UFPel. Durante um festival, o professor Marcelo surpreendeu a todos ao tocar lindamente um piano que, até então, todos acreditavam estar trancado. Ao ser questionado, Cazarré apenas mostrou, com um sorriso, uma pequena chave pendurada no chaveiro e disse: “Tenham sempre uma chave de piano com vocês”. O conselho, ao mesmo tempo prático e simbólico, ficou gravado em Daniel — que hoje também carrega sua chave de piano com orgulho.
Na cerimônia, o irmão gêmeo de Marcelo também esteve presente e confessou ter descoberto, naquele momento, uma nova dimensão sobre quem o irmão foi para tantas pessoas. Como forma de manter viva essa memória, ele doou ao Conservatório um piano e um acervo pessoal de partituras raras, gesto que emocionou a comunidade acadêmica.
O dia de sua partida coincidiu simbolicamente com a visita de avaliação do curso de Bacharelado em Piano, que recebeu nota máxima (5) do MEC, símbolo da excelência que ele ajudou a construir ao longo de tantos anos.
O professor Marcelo Cazarré foi mais do que um músico e educador: foi inspiração, impulso, brilho. E continuará ecoando em cada nota que se ouve no Conservatório.
Texto por Esther Costa | Produtora de Conteúdo | Te liga no CA
Coordenação: Luana de Mello Pereira | Régis Dutra.
Você precisa fazer login para comentar.