Reprodução: ANA CLÁUDIA DIAS
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Um espaço para prática do canto coletivo, gratuitamente, tem proporcionado experiências culturais enriquecedoras para 32 crianças e adolescentes de 11 a14 anos de diferentes bairros de Pelotas. Esse é o resultado do movimento que o Grupo Vocal Infanto–Juvenil da Universidade Federal de Pelotas (Guviju-UFPel), um projeto de extensão vinculado ao curso de Música Licenciatura, tem colhido desde o início da atividade em agosto deste ano. A iniciativa, coordenada pelos professores doutores Felipe Martins e Luciana Louzada, agora abre inscrições para mais jovens e quem sabe formar outro grupo vocal, a partir de março.
“Começamos o projeto pensando nas escolas que estão aqui mais próximas do Centro de Artes, porque ficaria mais fácil, por causa do horário. Mas depois abrimos para todos”, conta o professor e maestro do grupo Felipe Martins. Os ensaios ocorrem nas quintas-feiras, das 18h às 20h, na sala Preta do CA.
Uma das parcerias do Guviju é com o projeto da professora Rita Medeiros, da Faculdade de Educação, que pesquisa sobre as infâncias nos terreiros. “A maioria das crianças que temos são oriundas deste projeto, que vai olhar como que as infâncias são pensadas e existem dentro das terreiras de religião de matriz africana”. Os jovens que integram essa pesquisa vão até o CA com as
passagens pagas pelo projeto.
A participação dessas crianças, que vem de um fazer musical vinculado à religião, tem ocasionado uma intensa troca de experiências culturais, observa o professor. “Mas a ideia é aumentarmos o número de atendimentos para ampliar a diversidade no coro”, explica Martins.
Conceitos e técnicos
Durante os ensaios são trabalhados conceitos da técnica vocal, de espiração, entonação e afinação, além da construção de um repertório para apresentação em público.
Sempre ao final do semestre os coordenadores vão planejar um recital a partir do que foi construído com as crianças. “Tem sido muito legal, muito bacana. A gente está construindo esse repertório para fazer um recital em março, no final do semestre letivo”, explica. As apresentações devem ocorrer no dia 23 ou no dia 24 de março do próximo ano, durante a mostra de todos os projetos de Extensão do curso de Música.
O repertório é focado em canções que tenham vínculo com a matriz africana. Esse direcionamento foi tomado a partir do momento que os professores perceberam que a questão da raça era debatida entre eles. Semana passada, eles viram que gênero também é tema de conversas entre os jovens, por isso serão levadas ao ensaio canções de uma compositora trans. “Para mostrar que esse lugar da pessoa trans e travesti não é só o da marginalidade”, argumenta o professor.
Vivência cultural
Criado para proporcionar uma experiência cultural, o coral é uma oportunidade para essas crianças conhecerem outras expressões artísticas. Para isso, são convidadas para assistirem a diferentes espetáculos. “A gente aprende a ouvir, a assistir, a gostar. Então, uma das linhas do trabalho do coro é justamente essa, poder levar eles a assistir e ter contato de outras experiências artísticas, não só musicais”.
Essas apresentações são aprovadas pela pré-adolescentes Maria Mesquita, 12, estudante do sexto ano da Escola Doutor Joaquim Assumpção, e Isadora Alves, 12, aluna do Colégio Pelotense. Ambas adoram cantar e veem no coral uma forma de aprender técnicas para cantarem cada vez melhor e uma oportunidade de conhecerem coisas novas. “Eu sempre quis fazer aula de canto”, diz Isadora.
Enquanto as crianças ensaiavam, Cíntia Riobranco, 53, aproveitava para ver a exposição da A Sala, a galeria do Centro de Artes. A professora leva o casal de filhos Maisson, 13, e Celina, 10, para os
ensaios semanalmente. “Inscrevi ela primeiro, para exercitar a voz, se entrosar, e para o Maisson, que toca instrumentos, a prática de canto é um complemento para ele que já tem uma habilidade”, diz.
Maisson, que toca viola de arco, estuda música desde os sete anos e atualmente integra a Orquestra Estudantil Municipal. “O estudo da música requer uma maturidade da criança e no Maisson isso é nato. A Celina é mais o canto e agora ela está numa idade boa para assumir esse estudo”, observa a mãe.
Segundo Cíntia, para Maisson a música foi quase uma terapia. Ela aponta o aumento da concentração e da organização como os principais pontos positivos da prática de instrumentos. “A música é fundamental para desenvolver diferentes habilidade e comportamentos, ainda mais com projetos de excelência como esse, que são acessíveis a todas as crianças”, fala.
MAIS INFORMAÇÕES:
Instagram: @guviju.ufpel
Site: wp.ufpel.edu.br/musicalic/grupovocalinfantojuvenil
Email: grupovocalinfanto@gmail.com
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