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2018

Equipe do projeto em 2018

Discentes monitores: Wesley Fróis Aragão (bolsista), Brenda Seneme Gobbi, Eduarda Garcia Bento, João Vitor Soares e Maiara Silveira de Oliveira.

Coordenação: Profª Marina de Oliveira

Colaboradoras: Liz Helena Rodrigues (assistente social do Instituto Nossa Senhora da Conceição) e Elza Cristina Schuch Vieira e Cristiane de Azevedo Dias (professoras do Instituto Nossa Senhora da Conceição)


A ação de novos professores personagens e a exploração do modelo de ação brechtiano 
(professora do Instituto Nossa Senhora da Conceição)

As oficinas teatrais foram direcionadas para duas turmas que ainda não tinham participado do projeto: a intermediária, com meninas de 8 a 10 anos, e a de mais velhas, com idades entre 10 e 12 anos. Os encontros aconteceram uma vez por semana, nas quintas-feiras das 13h30 às 15h30 (para a turma 1, intermediária) e às sextas-feiras, das 13h30 às 15h30 (para a turma 2, das mais velhas).

Com a turma 1, os monitores Brenda, João e Wesley retomaram o trabalho de dramatizações com a condução de professores-personagens. No ano anterior, ficou visível que as crianças dão mais atenção para a figura do professor se ele se apresenta como personagem, ficando mais atentas e interessadas.  Wesley construiu o “Sr. Bengalinha”, mestre de cerimônias de um circo que estava à procura de novos artistas e para encontrá-los conduzia apresentações diversas, compostas de improvisações das alunas que eram instigadas a participar do circo. João representou o palhaço “Eskesserél”, distraído e esquecido de seus afazeres. Brenda, por seu turno, compôs a bailarina “Estrelinda”, que morava em uma estrela e que veio em um foguete para o planeta Terra.

 

Professores personagens interagindo com a turma

Os professores-personagens foram apresentados em momentos distintos e, quando apareciam, conduziam dramatizações feitas pelas alunas, que eram orientadas a explorar diferentes energias corporais, a partir da proposta de Arthur Lessac, segundo aponta a professora Gina Tocchetto Oliveira.

Assim, conduzidos pelo “Sr. Bengalinha”, as alunas exploraram a energia Potency, através de gestos alongados, expansivos e tonificados, experimentados nos momentos em que cada uma delas constuiu corporalmente a figura de um mestre de cerimônias de um circo. Com o auxílio de  “Eskesserél”, as alunas exploraram a energia Radiancy, elétrica, veloz e contagiante para compor cada uma o seu próprio palhaço ou palhaça. Com “Estrelinda”, as meninas experimentaram a energia Buoyancy, de flutuação, suave e leve para brincar de serem bailarinas.

Com a turma três, os monitores Eduarda, Maiara e Wesley desenvolveram um processo criativo que teve como referência a metodologia utilizada pelo encenador alemão Bertolt Brecht, Handlungsmuster, traduzido para o português como Modelo de Ação. Segundo o professor Vicente Concilio:

A palavra em alemão é composta pelas palavras “ação” (handlung) junto à palavra que significa “padrão” ou “modelo” (muster). Em inglês o termo é traduzido como action model. Ou seja, nesses dois casos há ênfase na ação a ser estabelecida sobre e com o modelo. (CONCILIO, 2016, p. 93). Desse modo, o texto teatral não é o foco central, mas o princípio-motriz para a criação. A dramaturgia é vista, nesse sentido, como um modelo que pode gerar possibilidades diversas de ação.

Metade da turma três teve como referência a fábula A semente da verdade, um conto oriental narrado por Patrícia Engel Secco. A outra baseou-se na narrativa Oiá e o búfalo interior, presente no livro Omo-oba: histórias de princesas, da Kiusam de Oliveira. A semente da verdade foi trazida por uma das professoras do Instituto, que entendeu ser importante discutir valores morais com as crianças. Oiá e o búfalo interior foi proposta pelo monitor Wesley, com o objetivo de aprofundar a positivação da identidade negra, já abordada no ano anterior. As fábulas foram contadas para todo o grupo e foi solicitado que as meninas escolhessem com qual delas gostariam de trabalhar. Um pouco mais da metade optou por A semente da verdade, ao passo que o restante do grupo escolheu a história de Oiá.

Antes da utilização do modelo de ação, foram explorados princípios básicos da linguagem teatral, através de jogos propostos por Viola Spolin e por Augusto Boal. Com Spolin, desenvolveram-se elementos improvisacionais, como o “quem”; o “onde”; o “quê”, eixos que movem e facilitam a criação; enquanto que, com Boal, foram enfatizados a sensorialidade, o relacionar-se com o outro, com o espaço e consigo mesmo.

Observou-se, ao longo do processo e na apresentação final, uma diferença entre os dois grupos. Enquanto o grupo de A semente teve mais dificuldade em se apropriar da história e contá-la de outra forma, o grupo de Óia não se preocupou em seguir a narrativa tal e qual estava no livro, explorando outras possibilidades, inclusive em termos coreográficos. Note-se que, nos dois grupos, os monitores enfatizaram que a proposta do modelo de ação é justamente construir algo novo a partir de trechos ou fragmentos do texto referência. Mas, de modo geral, as alunas de A semente apresentaram uma dificuldade maior em explorar outros percursos que não a materialização da narrativa conforme estava proposta no livro. Durante a avaliação final, algumas alunas de A semente comentaram que acharam o processo de Oiá mais interessante, por perceberem que as colegas tiveram um espaço maior de criação

 

                                 

               desenho “A imperatriz”                                                                                                            cena de Oiá e o búfalo

Os dois processos criativos, por outro lado, exploraram a construção de estéticas negras, já prevista em Oiá e o búfalo e recriada no caso de A semente, em que as personagens masculinas foram transformadas em femininas e a referência oriental foi substituída pela africana. Desse modo, o imperador oriental, que chama as crianças do reino para pedir que plantem uma semente, foi substituído por uma imperatriz africana, que dá às crianças a mesma missão.

Além dos processos acima mencionados, o projeto também levou para as alunas o espetáculo Oduduwa e os sete anéis, que tematizou a origem do universo segundo a mitologia iorubá, apresentado pelos atores-professores Wesley Fróis Aragão e Rafael de Camargo Bueno.

 

cena de Oduduwa e os Sete Anéis