Por Marcos Carvalho Fontoura

Anos atrás, eu possuía um blog chamado Gaúcho Pescador, onde metia a minha colher em assuntos variados, motivo pelo qual meu gabaritado e muito mais culto primo, o coordenador desse projeto, Eduardo Ritter, convidou-me a escrever esse texto sobre minhas experiências com finanças pessoais.

Sobre essa temática, que é o foco do site Superávit Caseiro, tenho uma experiência para contar: fui à falência como Pessoa Física, nos idos da década de 1980. Estava no fatídico Serviço de Proteção ao Crédito (SPC), o que me levou e motivou a estudar minha situação financeira com o fito de solucioná-la definitivamente.  Com o cartão de crédito bloqueado, cheque especial estourado e sem crédito na praça, só restou para aporte financeiro a associação dos funcionários da empresa em que trabalhava (pequenos empréstimos a juros baixos) e o meu suado salário. À época, minha esposa tinha uma conta conjunta e um talão de cheque do banco onde eu recebia meu salário e uma 2ª via do meu cartão de crédito, então para comprar bastava emitir um cheque ou usar o cartão, e ela usava muito!

Fiz uma reunião familiar e deixei bem claro a todos que estávamos entrando em um período de contenção de despesas e que teríamos dinheiro somente para o básico. As prioridades eram: comida, água, luz, telefone, prestação do apartamento, condomínio, gasolina e nada mais! Além disso, tirei dela o talão de cheques, o cartão de crédito e acabei com a conta conjunta. Se por acaso ganhasse um aumento de salário, parei de comunicar a excelentíssima para não estimular o impulso aos gastos descontrolados.

Só comprava se e quando possuía dinheiro para compras à vista! Assim sendo, em dois anos recuperei minhas finanças e meu crédito, porém desde essa experiência só comprei parcelado um carro e o terreno onde construí a casa em que resido atualmente, nada mais.

Sobre a afunilagem econômica, acredito que seja cíclica, repetindo-se de tempos em tempos à medida em que se sucedem os governos nesse país, pois já passei por períodos em que o arrocho econômico e o achatamento salarial pressiona a população menos favorecida, obrigando-a a conter as despesas ao máximo ou, pior, a depender de ajuda de entidades para sobreviver. Há vários exemplos: a inflação debelada pelo Plano Real no final do governo de Itamar Franco, as “brizoletas” – recurso utilizado pelo governador Brizola para pagar o funcionalismo em época de penúria financeira pois não havia dinheiro -, etc.

Vivemos hoje novamente um período de descontrole intencional da economia, visando favorecer os grandes grupos financeiros do país e transnacionais, bem como a entrega de patrimônio público a esses grupos e a consequente perda da autonomia da nação e da população em dirigir seus rumos. Isso muito tem a ver com o perfil do governo/governante, que quando voltado ao capitalismo, então, teremos retirada de direitos, legislação mais branda com os abusos contra as instituições, renúncia à soberania nacional e atrelamento aos países capitalistas por excelência.

Por outro lado, se o governo for voltado a incrementar coisas como, direito à cidadania, crescimento econômico sustentável, redução da miséria, fome, epidemias, afirmação do país como ente independente e autônomo, incentivo à educação como forma de ascensão social e evolução positiva da renda pessoal, estabelecimento de boas relações com todas as nações independendo de tamanho ou importância, controle eficaz dos preços e da inflação, acredito que teremos um bom exemplo de país.

Marcos Carvalho Fontoura é bacharel em Administração de Empresas e professor de Ensino Técnico Industrial há 23 anos.