Vídeo Estudantil , Cinema Escolar ou Curta-metragem: Qual a diferença?
Por Josias Pereira e Vânia Dal Pont
Durante muito tempo, as palavras “vídeo estudantil”, “cinema estudantil” e “cinema na escola” foram usadas para descrever a produção de vídeos por alunos, em parceria com seus professores, dentro do ambiente escolar. É importante deixar claro que quando um aluno produz um vídeo fora da escola, sem a orientação de um professor, não faz sentido chamá-lo de “vídeo estudantil”. Nesse caso, é considerado um vídeo, pois não há uma intencionalidade pedagógica, tornando-se apenas um instrumento de comunicação do aluno com a sociedade.
Quando um professor propõe, com uma intencionalidade pedagógica, a produção de um vídeo para trabalhar elementos do currículo formal ou não formal, é que realmente temos um vídeo estudantil. Nesse contexto, a principal finalidade de fazer um vídeo não é conquistar prêmios ou participar de festivais, mas sim explorar a potencialidade pedagógica que o vídeo possui, tornando-se um processo e uma ferramenta metodológica para que o aluno adquira conhecimento, independentemente de estar relacionado ao currículo formal ou não formal.
Não devemos confundir e transformar as escolas em produtoras de conteúdo, visando apenas a participação em festivais e premiações, já que acreditamos que os prêmios são dos alunos ou da escola. O problema é quando incentivamos os professores a produzirem vídeos com os alunos para que eles participem de festivais, o que pode acabar desviando o foco do vídeo dos alunos para o vídeo do professor. A principal função de produzir um vídeo no ambiente escolar é permitir que o aluno aprenda, dependendo da intencionalidade pedagógica apresentada pelo professor.
Em nossas pesquisas no laboratório acadêmico de produção de vídeos estudantis (LabPVE), notamos que o termo mais utilizado é “vídeo estudantil”. Não podemos afirmar quem cunhou esse termo, mas percebemos que o primeiro festival específico no Brasil que incentivou os alunos a produzirem vídeos foi o Festival de Guaíba, que há mais de 20 anos estimula os alunos da cidade a produzir vídeos dentro do ambiente escolar. Outras cidades já tinham essa prática de produção de vídeos, mas esses festivais ocorriam sempre dentro de festivais de cinema, que abriam espaço para que os alunos pudessem assistir ou apresentar pequenas obras audiovisuais produzidas principalmente em ONGs ou em algumas escolas. O festival de Guaíba foi o primeiro a ser exclusivamente voltado para vídeos produzidos por estudantes.
A terminologia correta seria abordar a ação como audiovisual, englobando todas as formas de vídeos e cinema. No entanto, sabemos que os alunos não utilizam esse termo, e a expressão mais comumente usada e consagrada é “vídeo”. Os alunos não dizem “vou assistir a uma obra audiovisual“, eles dizem “vou ver um vídeo“. Esse termo foi popularizado na década de 80, quando as locadoras de vídeo surgiram e as pessoas alugavam filmes para assistir em casa. O símbolo do player, um triângulo invertido, era usado quando o filme estava em reprodução.
Com o surgimento do DVD, o símbolo do player foi mantido nos controles remotos e nas telas dos DVDs, indicando que o filme estava sendo reproduzido. Em 2005, quando o YouTube surgiu, ele adotou a imagem e a ideia do triângulo invertido do player, que até hoje simboliza a ideia de vídeo. Assim, a ideia de vídeo e player foi difundida e hoje em dia os alunos falam de forma simples sobre fazer ou assistir a um vídeo.
No caso do termo “curta-metragem”, relacionado à ação de produzir um filme com uma duração reduzida, devido ao tamanho do rolo de película utilizado, essa terminologia não faz mais sentido. Percebemos que a expressão predominante é “vídeo”. Portanto, é por isso que defendemos o termo “vídeo estudantil”.
É importante ressaltar que esse vídeo realizado dentro da escola deve ter uma função educacional. Partimos do pressuposto de que a escola conta com um professor que está organizando essa ação, e esse professor ou professores têm uma visão pedagógica dessa atividade. Isso diferencia o vídeo estudantil de um vídeo feito pelo estudante com seus amigos para o TikTok, Facebook ou outra rede social. O que defendemos há mais de 20 anos é que o mais importante não é o resultado final do vídeo como obra em si, mas sim o processo de criação, pois é durante esse processo que o aluno aprende. Quando o aluno debate com seus colegas, pensa em possibilidades, organiza os elementos que usará, considera como o espectador compreenderá sua mensagem, é nesses momentos de debate que os alunos aprendem. Além disso, notamos que quando os alunos produzem um vídeo, estão se comunicando com o mundo, expressando suas percepções sobre o cotidiano e suas visões de mundo. Percebemos que os alunos estão cada vez mais produzindo vídeos com teor social e político, pois são uma geração que busca entender por que o mundo é como é e como poderia ser diferente. Todo esse processo de debate e criação de vídeos, seja relacionado ao currículo formal ou não formal, leva os alunos a desenvolverem esquemas mentais diferenciados, reorganizando seu pensamento e aplicando-os na prática de um produto audiovisual. Por isso, defendemos que a produção de vídeos é uma metodologia ativa, centrada no aluno, que o leva a repensar, analisar e organizar suas ações para produzir o produto final, que é o vídeo.
Cinema na escola? Por que não?
Ainda há quem utilize o termo “cinema escolar” ou “cinema na escola”, mas isso não faz muito sentido. Quando falamos de cinema, estamos nos referindo a uma indústria, a uma empresa que organiza todo o processo desde a produção até a distribuição final do filme, seja em salas de cinema, livros, revistas, etc. Muitas escolas utilizam o termo “cinema escolar” e realizam atividades de telejornalismo, pequenas reportagens jornalísticas com seus alunos. Acredito que o termo cinema tem um forte peso cultural, já que é considerado a sétima arte, e é mais “nobre” dizer que se faz cinema do que, falar que se faz um vídeo, que é algo mais simples. No entanto, tecnicamente não faz sentido um professor dizer que faz cinema na escola, pois os alunos ainda não possuem a linguagem audiovisual necessária para criar uma obra cinematográfica e vendê-la como um produto dentro de uma realidade comercial.
Respeitamos todos que utilizam os termos “cinema escolar” ou “cinema na escola”, principalmente aqueles que são de outras áreas do conhecimento e não estudaram em uma faculdade de cinema, não conhecendo os detalhes dessa área de conhecimento e sua linguagem como expressão comercial e artística. Se eu souber usar uma calculadora, isso não me torna contador, pois cada área possui sua especificidade.
Defendemos e preferimos usar o termo “vídeo estudantil”, pois ele é utilizado quando há um processo pedagógico realizado com os estudantes. Sem a intencionalidade pedagógica do professor, colocamos a tecnologia audiovisual na escola como uma simples ferramenta técnica, perdendo toda a riqueza que a produção de vídeo estudantil possui, principalmente quando há uma intencionalidade pedagógica do professor. Fazer vídeo na escola é um processo pedagógico.
E você, professor, está preparado para fazer vídeos com seus alunos?
Para mais informações, visite nosso site do Laboratório Acadêmico de Produção de Vídeo Estudantil.