A questão é esta: será que as pessoas que não sentem o mínimo desconforto ao consumir glúten — como acontece com os intolerantes à proteína — o devem eliminar da alimentação? O glúten faz bem ou faz mal? Engorda ou não engorda? A nutricionista do Holmes Place, Alice Couto, respondeu às dúvidas da NiT.
Em primeiro lugar, é preciso explicar melhor o que é o glúten. “É a principal proteína presente nos grãos de trigo, aveia, centeio e cevada, além do malte, que é um subproduto da cevada”, explica Alice Couto. Ele tem várias funções, como, por exemplo e no caso da farinha de trigo, fazer com que a massa do pão não diminua depois de ele arrefecer. Isto acontece por causa dos gases que ficam no interior da massa.
“Existem opiniões contrárias de médicos, nutricionistas e outros profissionais de saúde, alguns defendendo o consumo do glúten e outros defendendo a eliminação do mesmo na alimentação”, diz a nutricionista. Mas uma coisa é certa e está mais do que comprovada: para as pessoas com doença celíaca, o glúten é “extremamente prejudicial”, porque “provoca uma reação imunitária que danifica o intestino delgado e impede a absorção de nutrientes.” Dores de estômago, na cabeça, inchaço, azia, dores nas articulações, erupções cutâneas, fadigam, insónias e confusão mental são alguns dos sintomas que, de acordo com a nutricionista, estas pessoas sentem quando consomem esta proteína.
Além das pessoas celíacas, também há aquelas que apenas são sensíveis ao glúten. Ou seja, têm sintomas semelhantes, mas “a sensibilidade não danifica o intestino”.
Depois há aquelas pessoas que dizem que se sentem mal quando consomem glúten, mas, na realidade, não têm nem sensibilidade, nem a doença celíaca: “O glúten não faz mal a pessoas sem doença celíaca ou com algum tipo de sensibilidade ao glúten, pois não sofrem as reações químicas que danificam o intestino”, explica Alice Couto. “Há alguns relatos de pessoas que se sentem com distensão abdominal ao consumir grande quantidade de alimentos ricos em glúten, mas esse sintoma não têm nada a ver especificamente com essa proteína”, acrescenta.
Muita gente que entra em dieta, corta nos alimentos que possuem glúten. Contudo, não existem estudos que comprovem a “ausência de glúten e o emagrecimento”. Ainda assim, é um assunto que cria controvérsia entre vários especialistas da área.
Mas há aqui um ponto que vale a pena realçar: o glúten está presente nos “maiores vilões do emagrecimento”, como lhes chamou Alice Couto. Isto é, nos produtos feitos à base de farinha branca, como pão, bolos ou bolachas. Por isso, é natural que ao cortar em produtos com glúten, se emagreça. Só que o problema não é o glúten em si, mas antes a farinha branca, por exemplo. É ela que engorda, não o glúten.
“Mas cuidado, isso nem sempre é verdade: por exemplo, não adianta trocar um biscoito com farinha de trigo, com glúten, por um com farinha de arroz, sem glúten, e consumir em grande quantidade”, alerta a nutricionista.
Vamos resumir para que fique totalmente esclarecido. Se não sente desconforto, nem é intolerante, a prioridade na escolha de um alimento não deve ser baseada no facto de ter ou não glúten, mas antes em todos os outros nutrientes que o compõem. Esses sim, determinam se ele é, ou não, saudável.