Os influenciadores na discussão sobre a saída de Cuba do Mais Médicos

por Felipe Soares

No dia 14 de novembro Cuba deixou de fazer parte do programa Mais Médicos. A decisão repercutiu em grande escala no Twitter – Mais Médicos se manteve entre os trending topics brasileiros ao longo do dia. Na discussão, formaram-se dois grupos: um grupo associado à direita (roxo) e demonstrando apoio ao presidente eleito Jair Bolsonaro e outro grupo próximo da esquerda (verde) criticando o posicionamento do político que causaram a saída de Cuba do programa. Para esta análise, foram observados os 30 usuários com maior grau de entrada em cada grupo – ou seja, os usuários que receberam mais visibilidade na discussão. O objetivo é identificar que tipos de influenciadores são mais importantes para cada um dos grupos.

Figura 1: Rede de conversação sobre a saída de Cuba do programa Mais Médicos

 

Os nós (usuários) mais centrais foram divididos em cinco categorias: 1) políticos; 2) organizações políticas; 3) jornalistas; 4) veículos jornalísticos; 5) outros, que inclui páginas de humor, páginas de conteúdo político, artistas e usuários em geral. A distribuição em cada grupo foi a seguinte:

Tabela 1: Distribuição dos influenciadores nos grupos

  Direita (roxo) Esquerda (verde)
Políticos 5 9
Organizações políticas 1 0
Jornalista 2 6
Veículos jornalísticos 3 5
Outros 19 10

A distribuição entre os grupos possui algumas distinções. Enquanto o grupo da direita dá especial atenção a usuários da categoria “outros”, no grupo da esquerda políticos, jornalistas e veículos jornalísticos também possuem visibilidade. Há também grande diferença no tipo de veículo jornalístico que aparece em cada grupo. No grupo da esquerda aparecem veículos internacionais e a mídia tradicional brasileira. Já no grupo da direita estão presentes somente veículos partidários.

No grupo da esquerda aparecem: Deutsche Welle Brasil, Folha de S. Paulo, G1, Estadão e BBC Brasil. Os dois primeiros são, respectivamente, 7º e 11º nós com maior grau de entrada – o que indica que receberam bastante visibilidade na rede. Ainda aparecem seis jornalistas de grupos de mídia distintos, incluindo veículos internacionais e mídia tradicional brasileira.

No grupo da direita, entre os veículos de conteúdo jornalístico, aparecem apenas: O Antagonista, Renova Mídia e Conexão Política. Os três são veículos que produzem conteúdo com caráter partidário. Além disso, O Antagonista, veículo com maior visibilidade, é somente o 17º em grau de entrada no grupo. Da mesma forma, os dois jornalistas que recebem visibilidade no grupo são críticos tradicionais do PT e participaram da campanha pró-Bolsonaro durante o período eleitoral.

Entre os políticos na rede, no grupo da direita quem recebem principal destaque é Jair Bolsonaro (nó com maior grau de entrada da rede), acompanhado por seu filho Carlos. Ainda no grupo da direita, o MBL aparece com o segundo maior grau de entrada do grupo (e quarto na rede). Já na esquerda, há distribuição de visibilidade entre partidos como PSOL, PT e PC do B, com Guilherme Boulos e Manuela D’Ávila em destaque – respectivamente segundo e quarto maior grau de entrada do grupo.

Na categoria “outros”, no grupo da direita aparecem páginas como Caneta Desesquerdizadora e Socialista de Iphone, que produzem conteúdo crítico à esquerda. Ainda estão presentes usuários que costumam receber destaque em conversações políticas entre os usuários conservadores, como Flavio Morgenstern e o músico Roger Machado.

Já no grupo da esquerda, entre os “outros” aparecem a ferramenta Moments Brasil, do Twitter, o site Youtube, além de usuários que também frequentemente aparecem com destaque em conversações políticas. Há, ainda, a página Quebrando o Tabu que produz conteúdos diversos, especialmente vinculados a diversidade e direitos humanos.

 

O que isso quer dizer?

Há um desequilíbrio entre os influenciadores (as contas com mais visibilidade) nos grupos de esquerda e direita. Enquanto a esquerda busca entre suas fontes veículos jornalísticos e jornalistas internacionais ou consolidados no Brasil, a direita dá preferência ao conteúdo partidário. Da mesma forma, o alto índice de usuários da categoria “outros” mostra o fortalecimento de um discurso menos institucionalizado e com mais fontes alternativas no grupo da direita. Enquanto na esquerda há veículos entre os nós mais centrais, na direita sua presença é mais periférica (mesmo com conteúdo partidário).

Isto tem influência no conteúdo que circula nestes grupos. Entre os usuários de direita, há um discurso mais padronizado, fortemente alinhado com Jair Bolsonaro (que tem grande destaque na rede) e com fontes, incluindo veículos e jornalistas, alinhados ao político. Na esquerda, por outro lado, o conteúdo é mais diversificado, contando com fontes internacionais, com veículos tradicionais da mídia brasileira e maior diversidade entre os jornalistas.

 

Método de coleta e análise

Para esta análise, foram coletados 39.780 tweets com o auxílio do software NodeXL. A coleta foi realizada a partir dos termos “mais médicos”. A análise foi realizada no software Gephi. Duas métricas foram analisadas: grau de entrada, que permitiu identificar os usuários com maior visibilidade; e modularidade, que separou os usuários da rede em grupos conforme suas interações na rede. O grau de entrada é representado pelo tamanho dos nós e a modularidade pelas cores dos grupos.