Por Felipe B. Soares
Em período de forte debate político, o dia dos professores mais uma vez polarizou a rede de conversação no Twitter. A #DiadosProfessores foi utilizada por apoiadores de Fernando Haddad (PT) e Jair Bolsonaro (PSL), os dois candidatos que disputam o segundo turno na corrida pela presidência do Brasil. As mensagens, de forma geral, defendiam o candidato apoiado pelos usuários ou criticavam o adversário.
Na representação da rede de interações no Twitter é possível observar a estrutura polarizada (Figura 1). Na parte esquerda do grafo estão os apoiadores de Haddad, enquanto na parte direita estão os que defendem Bolsonaro. Há bastante densidade dentro dos grupos, mas poucas conexões entre eles, reforçando o contexto de polarização entre os usuários. Isto significa que aqueles que fazem parte de um grupo não interagem com os que fazem parte de outro.
Figura 1: Estrutura polarizada da rede
O conteúdo dos tweets coletados também foram analisados e neles foram observadas as coocorrências entre: 1) as menções aos dois presidenciáveis; 2) os outros indivíduos mencionados; e 3) as principais hashtags. Esta análise gerou o grafo abaixo, que contém os principais conceitos utilizados pelos usuários na conversação (Figura 2).
Figura 2: Rede de conceitos
O grafo de conceitos mostra a presença de diversas hashtags ativistas, confirmando o uso do dia dos professores como reforço da campanha dos presidenciáveis entre seus grupos de apoio. Entre as hashtags de suporte a Haddad estão #elenão, que representa o movimento iniciado por mulheres contra Bolsonaro, #haddadprofessor, que destaca a profissão do candidato, e #maislivrosmenosarmas, lançado pelo partido PSOL, que também aparece no grupo de apoio a Haddad na rede de interações (na cor laranja). Não aparece nenhum hashtag de apoio claro a Bolsonaro – na rede de conceitos, no grupo azul, aparece #bol卐onaro, que utiliza a suástica como crítica ao candidato. No núcleo pró-Bolsonaro, a única hashtag com maior caráter ativista é #ptnuncamais. Aparece ainda no módulo pró-Bolsonaro a #professoraheley, como menção a Heley Batista, professora que faleceu ao salvar alunos de um incêndio.
A presença de mais hashtags de a apoio a Haddad indica que a rede em geral estava mais propícia a apoiar este candidato no #DiadosProfessores, mesmo entre os usuários que estão fora dos módulos centrais (compostos, em geral, pelos usuários mais ativistas). Isto é reforçado porque apenas em uma das principais mensagens do módulo pró-Haddad há presença de hashtag de apoio ao candidato (como será apresentado na sequência desta análise). Ou seja, as outras hahstags foram especialmente usadas em um número maior de tweets que alcançaram menores índices de RT. Além disso, o módulo de apoio a Haddad é maior do que o grupo que defende Bolsonaro. O primeiro tem mais de 30% dos usuários da rede, enquanto o segundo tem menos de 25%. O resto dos usuários está espalhado em grupos periféricos menores ou isolados (quando apenas utilizam a hashtag e não mencionam ou retuítam outros e nem são mencionados ou retuitados).
No grupo de apoio a Haddad na rede de interações (cores laranja e vermelho) aparecem em destaque a @midianinja, nó com maior grau de entrada de rede (cálculo que indica os usuários que receberam mais menções e RT), @calu_barros, @delucca e @haddad_fernando. Enquanto os três primeiros receberam maior visibilidade em função de RT, o usuário de Haddad atingiu alto grau de entrada em função das diversas menções que recebeu. Ou seja, muitos usuários deste grupo mencionaram Haddad em suas mensagens, dando visibilidade ao candidato.
Entre os tweets que mais repercutiram no grupo pró-Haddad quem recebe bastante destaque é Paulo Freire, um dos ícones da educação no Brasil. As principais mensagens também apresentam críticas a Bolsonaro. Alguns exemplos são os tweets de @midianinja e @delucca (ao clicar nos nomes dos usuários é possível acessar os tweets diretamente no Twitter) (Figuras 3 e 4).
Figuras 3 e 4
Já no grupo de apoiadores de Bolsonaro aparecem em destaque @eisenhower27, segundo maior grau de entrada da rede de interações, @desesquerdizada, @lobaoeletrico e @jaircapitao. Estes dois últimos aparecem bastante conectados porque @jaircapitao cita @lobaoeletrico em um de seus tweets, que repercutiu por meio de RT. O usuário de Bolsonaro no Twitter não recebeu visibilidade por meio de menções, ao contrário do que ocorre no módulo pró-Haddad, em que o candidato petista aparece com destaque.
Dentre os tweets com maior repercussão no grupo pró-Bolsonaro recebem destaque a crítica a Haddad, e a lembrança a Haley Batista. Esta é lembrada por ter salvado diversas crianças de incêndio em Janaúba. As mensagens que mencionam Haley foram acompanhadas por #professoraheley, como nos tweets de @desesquerdizada e @jaircapitao (Figuras 5 e 6):
Figuras 5 e 6.
Para a coleta dos tweets que formaram as redes desta análise foi utilizado o software NodeXL. Para a análise de coocorrências da rede de conceitos, foi utilizado o textometrica. Para a formação visual dos grafos foi utilizado o software Gephi. Nas duas redes as métricas utilizadas foram modularidade e grau. A modularidade serve para identificar os módulos mais densos nas redes, possibilitando identificar usuários que interagiram mais entre si (na rede de interação) e conceitos que apareceram mais frequentemente em conjunto (na rede de conceitos). Na rede de interações, as conexões são assimétricas (ou seja, um nó pode interagir com outro sem que essa conexão seja recíproca), por isto foi observado o grau de entrada para identificar os usuários que receberam mais menções e RT. Já na rede de conceitos, as conexões são simétricas (quando dois conceitos aparecem um uma mesma mensagem, eles necessariamente possuem o mesmo tipo de conexão), portanto foi observado simplesmente a métrica de grau, que permitiu observar os nós que aparecem em mais contextos. Nos grafos, a modularidade é identificada pela cor dos grupos, enquanto o grau (grau de entrada) é representado pelo tamanho dos nós.