Prêmio Pierre Verger 2022

O Prêmio Pierre Verger (PPV), promovido pela Associação Brasileira de Antropologia (ABA), é o principal festival competitivo de obras fílmicas, fotográficas e gráficas produzidas no âmbito de pesquisas antropológicas na América Latina. Através destas linguagens artísticas e políticas de difusão do conhecimento, suas mostras exploram, registram, expressam e interpelam diferentes contextos e experiências socioculturais.

Acesse ppv2022.abant.org.br

Despedida para Bruno e Dom, com grande lamento, tristeza e indignação

No dia 5 de junho último, o servidor público e indigenista Bruno da Cunha Araújo Pereira e o jornalista britânico Dom Phillips deveriam chegar de barco a Atalaia do Norte, no Amazonas. Eles nunca chegariam. Por onze dias o Brasil e o mundo assistiram a filmagens dos rios e das florestas da região do Vale do Javari, suas cores, seus povos e o incansável trabalho dos indígenas na busca por seu amigo Bruno e companheiro Dom, enquanto as autoridades afirmavam se tratar ali de “uma área completamente selvagem”, “hostil”, “de difícil acesso”.
Durante este tempo, de espera e angústia, a mídia nacional e internacional também deu espaço para conhecermos um pouco mais do trabalho de Bruno e de sua equipe junto aos povos indígenas da região. Soubemos que Dom havia se empenhado em conhecer e divulgar a vida ali, em sua pujança, e as ameaças à sua continuidade. Soubemos, então, mais sobre uma região que, longe de ser selvagem, é, sim, ameaçada, desprotegida e intensamente submetida à barbárie. Vimos o quanto os povos indígenas da região se comprometeram com as buscas. Observamos também a relação de companheirismo e de colaboração que os dois mantinham com esses povos em defesa de suas terras e de suas vidas.
Chocante foi perceber, por meio das notícias divulgadas, como vem se agravando a situação desses povos, por efeito do desmonte da instituição que mais deveria protegê-los, como a FUNAI. O aparente descaso e complacência das autoridades com a grave situação desses povos ficaram mais visíveis, em escala mundial. Não é somente no Vale do Javari, infelizmente. As queimadas, as expulsões, as mortes se sucedem sem que haja responsabilização de seus executores. Em contrapartida, insinuações e culpabilização das vítimas não faltaram. Ainda nesta semana, nos impressionaram os questionamentos a respeito da legalidade da presença dos dois na área, em desrespeito flagrante aos familiares e amigos, profundamente angustiados com o desaparecimento dos dois.
Na quarta-feira (15), infelizmente, a pouca esperança de encontrá-los com vida se esvaiu. Confirmaram-se mais dois assassinatos de defensores da Amazônia e de seus povos originários, com a perversa ocultação de seus corpos.
De fato, o Brasil e o mundo tomaram conhecimento dos descalabros, das ilegalidades e das atrocidades ali praticados contra o ambiente e seus habitantes. O Brasil e o mundo aprenderam também, ao vivo, como o descaso opera quando se trata dos povos originários e daqueles que genuinamente os defendem. Não é uma coincidência que tenham sido os indígenas que, apesar da dor e do risco, encontraram as principais pistas que levariam aos pertences de ambos, ação fundamental para elucidação do caso.
A confirmação de uma tragédia anunciada e denunciada pelos indígenas e por Bruno nos leva a exigir, cada vez mais, que as autoridades conduzam até o final as investigações, sobre todos os que executaram o crime, e mais aqueles que podem tê-lo eventualmente encomendado, os chamados “mandantes”.
Quem mandou matar Bruno e Dom? Quem mandou matá-los? Uma pergunta que não vai calar. E como buscar garantias para que os povos indígenas continuem vivendo na região? O que serão feitas das denúncias que Bruno e a UNIVAJA (União dos Povos Indígenas do Vale do Javari) já haviam levado às autoridades?
Juntamo-nos às entidades, associações e pessoas que defendem os povos indígenas para exigir justiça a Bruno e a Dom, bem como uma reversão efetiva da política atual de devastação da Amazônia.
A perda tão dolorosa e profunda de suas companheiras, familiares e amigos nos leva a nos curvarmos em respeito e solidariedade diante desse sofrimento. Todo o nosso apoio, e um agradecimento especial pela possibilidade de sermos (inclusive globalmente) beneficiários do profissionalismo, da dedicação e do bem que Bruno e Dom praticaram e promoveram em vida. Empenhamos nosso desejo e força de que seguiremos juntos pelos ideais que ambos professavam, de justiça, equidade e paz em nosso país.

Justiça para Bruno e Dom
Proteção aos povos indígenas
Fim da destruição da Amazônia

Como disse sua companheira Beatriz de Almeida Matos, nossa colega na Comissão de Assuntos Indígenas (CAI) da ABA:

“Agora que os espíritos do Bruno estão passeando na floresta e espalhados na gente, nossa força é muito maior.”

Brasília-DF, 16 de junho de 2022.

Associação Brasileira de Antropologia – ABA

Texto original no site da ABA

 

 

Ciclo webconferências sobre trajetórias pessoais de pesquisadores que atuam na rede de antropologia visual no Brasil

Vinculado ao projeto “Territórios científicos” da Editora Sertão Cult em parceria com a LABOME, promovemos uma série de entrevistas e, ao mesmo tempo, webconferências sobre trajetórias pessoais de pesquisadores que atuam na rede de antropologia visual no Brasil. A proposta, além de ter a finalidade de divulgar o que se produz neste campo, também tem como objetivo publicar as entrevistas em ebook e disponibilizar para o público interessado.

LINK DAS ENTREVISTAS NO CANAL DO LABOME NO YOUTUBE