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Oficina: Ações Antropoéticas entre veias abertas: pela fluidez do método
Semana Acadêmica das Ciências Sociais/ 2019
Tema: Crise Social: as veias abertas da América Latina
Coordenadoras: Profª. Drª. Daniele Borges Bezerra, graduandas Wemilly Soares; Vitória Lima, Amanda Winter e doutoranda Tanize Garcia
A oficina foi pensada para, através do desenho e do som, promover uma experiência narrativa tendo em mente a potencialidade do desenho em “tornar visível, narrar, compreender, produzir, apropriar-se e conhecer” (Kuschnir, 2014, p.5).
A proposta foi organizada em etapas, a partir de três atividades:
(1) Desenho de observação fixando o olhar no outro e não no papel;
(2) Desenho com a mão oposta à da escrita;
(3) Desenho coletivo impregnado pela experiência sonora.
O desenho cego (1), realizado com o papel sob a mesa, foi proposto para desconstruir a ideia de estética associada ao desenho. Colocamos assim o corpo para desenhar, focamos no gesto e na percepção do outro como um conjunto, não como um fim em si mesmo. E, assim, aceitando o convite de Ingold (2007) colocamos a linha para passear.
(2) No exercício de desenho com a mão oposta à mão da escrita, observamos desconforto relacionado ao automatismo da escrita e do desenhar com a mão “treinada”. Essa experiência evidenciou que desenhar para conhecer é um processo que requer desconstrução e envolvimento, mais que habilidade técnica.
Nossa intenção era evidenciar que o desenho, antes de tudo, é experiência e que todos somos desenhadores (KUSCHNIR, 2016). Nesse processo os participantes também perceberam que, enquanto pesquisamos somos parte da pesquisa, ou seja, não há neutralidade.
(3) A última etapa da oficina trouxe como proposta o desenho compartilhado em duas folhas brancas A1, onde cada participante desenhava enquanto escutava trechos de quatro fragmentos sonoros. O trecho de uma comparsa de Candombe no Uruguai (pesquisa do doutorando Lisandro Moura), um trecho com sons da natureza (rãs e grilos), o trecho de uma leitura coletiva (sobreposição de vozes e textos), e o trecho de uma pesquisa etnográfica (onde a interlocutora fala sobre a aparição de um lobisomem numa colônia de isolamento para a lepra, pesquisa de Daniele Bezerra). Através das ambiências sonoras buscamos chamar atenção para a potência dos sons enquanto fonte de pesquisa e conhecimento, partindo da ideia de que o som não é nem mental, nem material, mas sim um fenômeno de experiência (INGOLD, 2008). Tendo isso em vista, buscamos através da oficina instigar e aguçar outras percepções, por meio da sonoridade e do desenho, compreendendo que as experiências são extensão da percepção do pesquisador em campo e que outras linguagens permitem produzir narrativas mais fluídas em pesquisa.
Áudios fragmentos sonoros:
Candombe
Rãs e grilos
sobreposição de vozes e textos
Lobisomem
Referências:
INGOLD, Tim. Lines: a brief history. London: Routledge, 2007. p. 188
______. Pare, Olhe, Escute! Visão, Audição e Movimento Humano. Ponto Urbe [Online], 3 2008. Disponível em: <http://journals.openedition.org/pontourbe/1925>
KUSHNIIR, Karina. Ensinando Antropólogos a Desenhar. Cadernos de arte e antropologia: uma experiência didática de pesquisa. Vol3, nº2, 2014 (p. 23-46). Disponível em: <https://journals.openedition.org/cadernosaa/506>
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