Histórico

Histórico do LEPAARQ-UFPEL nos caminhos da antropologia e arqueologia na Universidade Federal de Pelotas

A história do LEPAARQ-UFPEL insere-se num processo de constituição das áreas de antropologia e arqueologia na Universidade Federal de Pelotas. Processo este que tem tido uma constituição desde os anos 1970. Naquele momento, as disciplinas de antropologia – com foco no ensino – repertoriavam os ramos filosófico, cultural e da antropologia física. No Instituto de Ciências Humanas (ICH), os precursores foram os professores: Hugo Kratz, Osmar Schaffer, Hilda Simões Lopes e Maria Luiza André da Costa.

Os anos 1990 foi um novo momento de crescimento. A criação do departamento de Filosofia e do departamento de História e Antropologia (DHA) permitiu a instauração de ambas as áreas enquanto campos científicos independentes, cuja argumentação para este rearranjo se baseou na aproximação da história com a antropologia oriunda dos anos 1960. Assim, a partir de 1993, foi realizada uma série de concursos na área de antropologia que buscavam a articulação com a história, tendo o objetivo de crescimento da área. Nesse momento, ingressam as professoras Dra. Flavia Rieth e Dra. Maria Letícia Mazzucchi Ferreira e o professor Dr. Fábio Vergara Cerqueira, que atuaram em parceria no fortalecimento das áreas de antropologia e história.

Desta confluência de interesses ainda um terceiro campo científico emergiu. Com o incentivo da reitora da UFPEL no momento, a Dra. Inguelore S. de Sousa e do Prof. Dr. Pedro Mentz Ribeiro, professor de arqueologia e pré-história brasileira, da Fundação Universidade do Rio Grande (FURG) e coordenador do Laboratório de Ensino e Pesquisa em Antropologia daquela Universidade (LEPAN-FURG), criou-se, em maio de 2001, o Laboratório de Ensino e Pesquisa em Antropologia e Arqueologia – LEPAARQ, como um projeto de extensão permanente, vinculado ao Instituto de Ciências Humanas. Neste primeiro momento, o LEPAARQ teve a coordenação do Prof. Fábio Vergara Cerqueira (área de arqueologia) e da professora Flávia Rieth (antropologia). A centralidade que a discussão do patrimônio material e imaterial assumiu se desenhou no cruzamento das áreas da história, antropologia e arqueologia, tanto nas discussões conceituais como também na gestão do patrimônio coletivo, seja por intermédio de intervenções acadêmicas ou resultantes de políticas públicas. O contexto da cidade de Pelotas não pode ser menosprezado. A cidade se tornou no início dos anos 2001 um polo de atuação do Programa Monumenta, recebendo verbas públicas para a preservação do patrimônio arquitetônico, e reivindicando o registro de patrimônio imaterial para a tradição dos doces da cidade. Este grande projeto estatal em um contexto de preservação patrimonial viu no LEPAARQ um parceiro para o estudo dos espaços edificados da Pelotas oitocentista.

 

                                Escavações nos casarões do centro histórico de pelotas entre os anos de 2002 e 2003. Acervo: LEPAARQ-UFPEL.

 

Além dos projetos relacionados ao patrimônio histórico-arquitetônico de Pelotas, devem ser destacados os projetos relacionados à história de ocupação dos grupos ameríndios em Pelotas e região, os quais, amplamente divulgados e, até mesmo premiados em salões científicos, têm permitido colocar Pelotas no mapa da arqueologia nacional. Atualmente (ano de 2024) já somam-se mais de 50 sítios arqueológicos mapeados no município de Pelotas, referentes às ocupações indígenas dos construtores de cerritos (indígenas da macro-etnia Charrua e Minuano) e populações Guarani.Trata-se de sítios que remontam a uma história humana que chega até 3 mil anos de ocupações, portanto, muito mais antiga do que os dois séculos de história da cidade de Pelotas.

                                            Escavações arqueológicas em cerritos localizados na margem da laguna dos Patos, Pelotas-RS. Acervo: LEPAARQ-UFPEL.

 

O desenvolvimento da área de Arqueologia na UFPEL passa pela trajetória do LEPAARQ, tanto no que se refere ao ensino, à pesquisa e à extensão. O crescimento da área intensificou-se quando no ano de 2008 foi criado, via REUNI, o Bacharelado em Antropologia com linha de formação em Arqueologia, a partir do qual houve um aumento significativo de docentes e pesquisadores de ambas as áreas do conhecimento, além, é claro, de dezenas de estudantes que hoje dispõem de um curso focado. Além de novas disciplinas e cursos, foram ampliadas enormemente as linhas de pesquisa, ao que hoje se dispõe na UFPEL de uma cobertura de temáticas social e politicamente importantes, como: Arqueologia indígena, Arqueologia da diáspora africana, Conservação aplicada à arqueologia e gestão de acervos, Arqueologia de gênero, Etnoarqueologia, Arqueobotânica, Zooarqueologia, entre outras abordagens contemporâneas. É importante mencionar a criação de cursos criados na mesma época, como Conservação e Restauração e Museologia, além da consolidação de outros cursos da área de humanas já existentes, como História e Geografia, através dos quais, muitas parcerias já foram estabelecidas.

Integrantes da equipe do LEPAARQ em missão arqueológica em Rondonópolis, Mato Grosso. Ano 2006. Acervo: LEPAARQ

Outro marco importante foi a criação do Programa de Pós-graduação em Antropologia (PPGANT), criado no ano de 2012, a nível de mestrado, e que foi qualificado ainda mais no ano de 2016, quando aprovado o doutorado. O PPGANT abriu as portas para a arqueologia da UFPEL para um ambiente de alta mobilidade de estudantes em nível profissional, professores e pesquisadores de vários cantos do mundo, ampliando ainda mais as parcerias internacionais. Se antigamente, para formar-se em arqueologia no sul do Brasil, era necessário o deslocamento para Universidades do Sudeste ou Nordeste do Brasil ou mesmo ir para o estrangeiro, atualmente, é possível entrar no curso de graduação e ter uma formação completa até o nível de pós-doutorado na Universidade Federal de Pelotas, em ambas as áreas do conhecimento. E essa tragetória está absolutamente consolidada, visto que no ano de 2019 foi inaugurado o Bacharelado em Arqueologia na UFPEL, redimensionando, em alguns aspectos, o perfil dos profissionais aqui formados.

                                                         Equipe de campo em esvação no sítio Guarani Camping, Pelotas-RS, ano de 2006. Acervo: LEPAARQ-UFPEL.

 

A partir de 2004, a disciplina de Arqueologia foi incorporada na grade curricular do curso de Licenciatura em História, como disciplina optativa, ampliando os conteúdos ensinados na área, que costumavam ser trabalhados somente na disciplina de Pré-história. Em 2005, foi oferecida, pela primeira vez, ao Curso de Bacharelado em Turismo, a disciplina de Patrimônio Arqueológico. Com a inserção da área de arqueologia na matriz curricular destes cursos, construiu-se o cenário para o oferecimento, pela Universidade, de um curso de graduação em Arqueologia. A criação do curso de graduação em antropologia com linha de formação em arqueologia instaurado na UFPEL no ano de 2008 permitiu a expansão do corpo docente específico das áreas, possibilitando a completa institucionalização das áreas nesta Universidade. De sua inauguração, no ano de 2001, para cá, com a criação de cursos de graduação e pós-graduação e o fortalecimento de ambas as áreas do conhecimento, o LEPAARQ se apresenta como um território que nos possibilita desenvolver projetos conjuntos, muito embora a atuação interdisciplinar seja ainda um desafio para todos. Ao completar mais de duas décadas, o LEPAARQ compõe um cenário institucional consolidado que resulta do esforço de professores, estudantes e funcionários que passaram por esta instituição. Hoje, com um caminho bem marcado e concretizado, o LEPAARQ persiste no processo de formação profissional, contribuindo a cada dia para o crescimento das áreas de arqueologia e antropologia no Brasil.

Escavação em sítio Cerrito localizado no banhado do Taim, Santa Vitória do Palmar, ano de 2024. Acervo: LEPAARQ-UFPEL.