Como teria sido a sua infância se o bullying fosse crime?

Como teria sido a sua infância se o bullying fosse crime?

A recente matéria da @RevistaTrip trouxe em seu título uma potente questão que nos convoca a olhar para as nossas infâncias. Quem de nós nunca ouviu “hoje em dia tudo é mimimi”, “não se pode falar mais nada hoje em dia”, ou ainda, “na minha época, falávamos coisas muito piores e todo mundo era feliz” que atire a primeira pedra.
.
E se o bullying fosse considerado crime enquanto nós, professores, estávamos na escola? Conseguiríamos ensinar com mais amor hoje? E se fosse crime enquanto nossos familiares e amigos estavam na escola, será que eles teriam menos pena de nós e mais orgulho de nossa escolha profissional?
.
É sabido que, como humanos, tomamos como base as primeiras experiências que temos na vida para dar sentido às experiências do futuro. Portanto, se não ressignificadas, carregamos as feridas da época da escola ao longo de toda a vida. Nossas experiências podem estar sustentadas em medos, dores e ausências da escola, assim como difundirem o perdão e formas mais respeitosas do que aquelas que nos trataram. A docência é uma boa oportunidade para nós revermos e virarmos essa chave.
.
Por vezes, parecemos esquecer que parte do nosso adoecimento enquanto sociedade se deve a banalização de falas e brincadeiras que, longe de terem graça, expõem aquilo que temos de mais vulnerável. Tornam público e alvo de piadas aquelas pequenas coisas que tanto nos machucam. Dos apelidos maldosos, que nos deixavam desconfortáveis aos traumas psicológicos, manifestados no medo e ansiedade sempre que a hora de ir para a escola chegava, tudo isso pode configurar uma violência e afetar a subjetividade humana.
.
A criminalização do bullying pode ser entendida como uma convocação para que a sociedade, e em especial os professores, desnaturalizem discursos que por tanto tempo distorceram e fragilizaram nossa autoimagem. Criminalizar o bullying é uma estratégia para dar um basta a tratamentos que ninguém gosta de receber e, se não tratados na esfera política, continuarão a causar violências e invisibilidade. Falar sobre afetos é uma discussão política, pois é vivida no coletivo e causa segregação, injustiça, dominação. Melhorar nossa linguagem é uma forma de aprimorar nossa humildade.