Todas as medidas de segurança foram tomadas!
Ao que tudo indica, o retorno à modalidade presencial é iminente, já sendo a realidade de alguns. Parece que os altos índices de contágio e uma média de mais 2 mil mortes por dia cedeu lugar para “quando as escolas vão reabrir”. Aos professores que contestam, indica-se sua substituição por outros, afinal, quem liga para as demandas diárias da educação escolar? Seriam os professores descartáveis? Ou ainda, recicláveis?
É provável que já tenhamos ouvido sobre o conceito dos três “Rs” – reduzir, reutilizar e reciclar. A máxima é pensada a partir da ideia de que nada se perde, tudo se reutiliza e se refaz. Nesse sentido, os professores também são descartáveis, digo, recicláveis, quando chegam ao fim da sua “vida útil”, é só colocar na lixeira correta e esperar que esse produto retorne para as prateleiras remodelado conforme as novas exigências do momento.
Comparar os professores a materiais recicláveis é tão cruel quanto pedir (para não dizer exigir) que voltem ao presencial munidos apenas de protocolos vazios e álcool gel. É tão cruel quanto pedir que voltem a trabalhar sabendo que muitos colegas morreram por estarem ali, nas mesmas condições e fazendo a mesma coisa que se pede a eles que façam agora. É tão cruel quanto o nosso silêncio frente ao desmonte da educação, frente ao retorno da Educação Infantil às suas bases assistencialistas, frente à minimização desta etapa educacional como direito das crianças e não só de suas famílias.
Às professoras e aos professores de Educação Infantil, sabemos da importância de estar com as crianças, do contato e da presença, mas sabemos também que precisamos pensar em vocês, cuidar de vocês e também, por vocês, ficar em casa, já que este não é o momento de retornarmos!
Abrir as escolas seria como voltar a tempos muito antigos, quando um adulto se sacrificava por uma comunidade inteira para cuidar das crianças do lugar. Esta herança, hoje, ainda pesa sobre a docência, exigindo que os professores sejam os mártires ou super-heróis, capazes de se colocar em risco para salvar outros. Não podemos ignorar a falta de condições mínimas para estar nas escolas neste momento, assim como não podemos normalizar as indicações de que protocolos de segurança são só burocracias, o que importa é abrir as escolas.
Educação Infantil se faz na interrelação cuidado e educação, não com máscaras, álcool em gel e protocolos que servem única e exclusivamente para que possam dizer “estamos fazendo todo o possível”, “todas as medidas de segurança foram tomadas”.
Todas as medidas de segurança foram tomadas?
Imagem @affonso.alisson