Laneira


Quando em 2014 o projeto Laneira Casa dos Museus foi entregue para a administração central da UFPel, havia por parte de muitos, inclusive de apoiadores, a descrença de que viria a ser executado. Estavam certos.   Passados sete anos, não foi. Esse tempo não é tão longo para que se possa afirmar que o projeto está sepultado, sem chances de vir a ocupar um lugar material, um dia. Mas há vetores adversos, que existiam na época em que foi proposto e que ainda são atuantes. Portanto, mesclam-se forças que o colocam em um estado de incerteza quanto ao futuro. Detalhar tais vetores demandaria muitas palavras que para o visitante desta Galeria talvez não suscite interesse. Tentarei ser breve e pontual para convencer aos que estão lendo este texto de que vale a pena conhecer o projeto.
A área abrangida pelo projeto estende-se por um conjunto de galpões industriais que pertencia à antiga fábrica Laneira Brasileira S.A.
A história dessa fábrica foi bem contada e está registrada em diferentes trabalhos acadêmicos.
Quando a fábrica foi adquirida pela UFPel, em 2010, parte do maquinário ainda estava dentro, assim como muitos documentos, objetos e móveis esporádicos. Em pouco tempo, tudo foi retirado e vendido para saldar dívidas geradas pela falência. Algumas coisas deixadas para trás foram guardadas para um futuro memorial da fábrica. Não tendo sido adquirido para um fim específico, muitos usos foram sendo sugeridos, advindos de determinadas unidades acadêmicas e administrativas. Tais propostas, elaboradas na forma de ideias, passaram a disputar a intenção de uso de um espaço sem destino.       Parte da área foi e ainda é ocupada pela Unidade de Cuidados Paliativos e havia a intenção de que o complexo abrigasse a área da saúde, em função da sua proximidade com a Faculdade de Medicina. Essas e outras propostas continham a mesma legitimidade, embora não houvesse por parte dos seus proponentes a preocupação com o patrimônio industrial que a extinta fábrica representava. Tampouco havia por parte do município o reconhecimento de tal patrimônio. Mas, em 2013, a pedido do recém criado Núcleo de Patrimônio    Cultural dentro da Pró-Reitoria de Planejamento e Desenvolvimento da UFPel, o edifício foi colocado na lista de bens inventariados pelo município. E foi esse Núcleo que propôs o projeto Laneira Casa dos Museus.

  Você que está lendo o meu texto: veja o projeto, ele está aqui. Facilmente você perceberá que se executado, o resultado seria único, não apenas na região, mas no Estado. Seria único porque a área acadêmica estaria intrinsecamente ligada aos museus ali presentes e, como novidade exemplar, uma única reserva técnica sustentaria a guarda dos acervos. O projeto tem uma inteligência econômica e administrativa que potencializa o patrimônio e o transforma em fator social. Portas abertas: área de cultura associada ao ensino. Oferece um modo concreto de descentralização do patrimônio e, portanto, ativa um bairro de serviços e trabalho, como uma via de cultura. Mais do que aproximar, associa museus, dando ao visitante a oportunidade de um passeio por diferentes áreas do conhecimento. Cumpre a antiga promessa da indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão e mais do que estender o conhecimento técnico e acadêmico, transforma-o em uma experiência aberta e comunicativa com seus ateliêrs de paredes de vidro. Um espaço integralmente visitável, aberto, integrado e integrador.
Mas, como disse antes, tantos aspectos inovadores não são possíveis de serem descritos em poucas palavras. Atribuo a esse fato, o de ser um projeto tão inovador, que tenha sido desconsiderado. Nem sempre há no presente, percepção coletiva para entender além do senso comum. E, sabemos bem que as estruturas tendem a se manter. Fala-se muito em inovação, mas faz-se pouco.
O que o redime agora é o mundo virtual, aberto para toda criação e possibilidade. A virtualidade nos concedeu um modo de reinventar o projeto e apresentá-lo parcialmente aos visitantes virtuais.
As portas da imaginação continuam abertas. Sonhemos com a generosa casa que antes foi uma fábrica e hoje é ruínas, mas que abriu seus portões para que imaginemos como seria esse lugar. Uma ex-fábrica abrigando cultura, memória, história, ensino, lazer e integração. Enfim, um lugar para tudo e para todos.