Os pesquisadores do GDISPEN têm trabalhado em simular a trajetória da nuvem de gafanhotos que está atualmente na Argentina.
Na publicação anterior (https://wp.ufpel.edu.br/fentransporte/2020/07/18/simulacoes-da-trajetoria-da-nuvem-de-gafanhotos/), apresentou-se uma estimativa de trajetória para a nuvem de gafanhotos para o domingo 19/7, supondo que até esta data os insetos permanecessem na região da província de Corrientes. Simulou-se um trajeto de até 150 km de distância do ponto de partida, sabendo que este valor é o maior registrado para deslocamento da nuvem de gafanhotos, ou seja, a nuvem pode parar nos pontos intermediários do percurso. Detalhes sobre o modelo e sobre o enxame foram descritos nesta publicação e não serão repetidos aqui.
Segundo o SENASA, a nuvem se movimentou pouco nos últimos dias por causa das baixas temperaturas e está em Sauce, a 122 km da cidade gaúcha de Barra do Quaraí (https://g1.globo.com/rs/rio-grande-do-sul/noticia/2020/07/19/veranico-favorece-aproximacao-e-nuvem-de-gafanhotos-esta-a-122-km-do-rs-diz-secretaria.ghtml). Conforme o levantamento do SENASA, a área ocupada pelos gafanhotos abrange um perímetro de 2,7 km em 36 hectares (https://economia.uol.com.br/noticias/estadao-conteudo/2020/07/19/nuvem-de-gafanhotos-permanece-na-argentina-e-se-desloca-em-baixa-velocidade.htm).
O modelo WRF foi utilizado para fazer uma nova previsão dos campos de vento, inicializada no dia 19/7 as 00UTC até o dia 23/07 as 00UTC, conforme a animação abaixo (no horário local, as 9h da noite do dia 18/7 até as 9h da noite do dia 22/7). Lembrando que os deslocamentos da nuvem são determinados em 80% dos casos, pela direção do vento. Para visualizar a animação, clicar na figura abaixo.
Utilizando o campo de vento gerado pelo WRF, supondo que o enxame parta de Sauce, pode-se fazer uma estimativa de 3 possíveis trajetórias até quarta-feira 22/7. Cientes de que a espécie pode viajar até 150 quilômetros por dia (km/dia), num primeiro cenário, supõem-se que a nuvem viaje aproximadamente 40 km/dia. Num segundo cenário, aproximadamente 80 km/dia e num terceiro cenário, aproximadamente 150 km/dia. As trajetórias completas são descritas na figura a seguir (Cenário 1: círculos azuis; Cenário 2: círculos vermelhos; Cenário 3: círculos verdes). As imagens de satélite da região foram retiradas do Google Earth.
Na sequência, os três possíveis cenários são apresentados separadamente em animações.
Cenário 1: Nuvem se desloca aproximadamente 40 km/dia (Para visualizar a animação clique na figura)
Se esta previsão se confirmar, na quarta-feira 22/7, estima-se que a nuvem poderá atingir a província de Entre Ríos na Argentina, fronteira com o Uruguai, próximo a Concórdia na Rota 14, em torno de 140 km da cidade de Barra do Quaraí no RS.
Cenário 2: Nuvem se desloca aproximadamente 80 km/dia (Para visualizar a animação clique na figura)
Se esta previsão se confirmar, na quarta-feira 22/7, estima-se que a nuvem poderá atingir a região próxima a cidade de El Eucaliptus no Uruguai, em Passo de Los Carros na Rota 26, aproximadamente 200 km da cidade de Barra do Quaraí no RS e aproximadamente 240 km da cidade de Rivera (Uruguai), divisa com o RS.
Cenário 3: Nuvem se desloca aproximadamente 150 km/dia (Para visualizar a animação clique na figura)
Se esta previsão se confirmar, na quarta-feira 22/7, estima-se que a nuvem poderá atingir a região próxima a cidade de Villa del Carmem no Uruguai, província de Durazno. A região fica a aproximadamente 270 km das cidades gaúchas de Aceguá e Jaguarão.
Para uma melhor visualização, abaixo segue em separado o trajeto esperado para segunda-feira, 20/7, supondo que o enxame parta de Sauce e viaje aproximadamente 40 km/dia (Cenário 1) ou 80 km/dia (Cenário 2).
Novas estimativas serão apresentadas sempre que uma nova localização do enxame for divulgada pelo SENASA. Neste caso, será utilizado um campo de vento com uma previsão atualizada.
É importante lembrar que estas simulações advêm de um modelo matemático, e como tal é uma aproximação da realidade, e, portanto, possui erros inerentes. Além disso, a trajetória pode ser alterada de acordo com mudanças devidas ao deslocamento da espécie, além de mudanças climatológicas como chuva e frio.
Este estudo tem objetivo puramente acadêmico e científico, mostrando a grande aplicabilidade da modelagem matemática em problemas reais. As discussões, opiniões, idéias e publicações geradas a partir dos resultados do modelo utilizado são de autoria dos respectivos autores, e não necessariamente representam aquelas das instituições a que estes pertencem.
Os pesquisadores do GDISPEN envolvidos nesta pesquisa são os doutores Fernanda Tumelero, Viliam Cardoso da Silveira, Guilherme Jahnecke Weymar, Daniela Buske, Régis Sperotto de Quadros, Glênio Aguiar Gonçalves, Igor da Cunha Furtado, Alexandre Sacco Athayde e Luciana Piovesan.