Na atualização desta semana, os pesquisadores do GDISPEN dividiram os resultados em 2 posts. No primeiro post se dá ênfase ao contexto mundial e, no segundo o foco é o cenário brasileiro.
O Brasil se encontra no 84° dia da epidemia após o 100° caso e não apresenta atenuação no seu crescimento, com 614.941 casos confirmados, 34.201 óbitos, 254.963 recuperados e 325.957 casos ativos de COVID-19. O Brasil atingiu a marca de 100 dias desde a confirmação do primeiro caso nesta quinta-feira, 04 de junho.
Na primeira figura apresenta-se o gráfico da evolução da epidemia no Brasil, nos últimos 60 dias, tanto para o número de infectados quanto para o de óbitos (valores acumulados e diários), quanto para o número de recuperados e de casos ativos.
No Brasil, o número de casos de COVID-19 continua crescendo. Observa-se que este número cresce com velocidades distintas nos estados. Uma forma de medir esta variação é utilizar o número de reprodução diário, também chamado de número efetivo de reprodução (Rt), que é definido como o número médio de casos secundários originados a partir de um único infectado. Este número representa, em outras palavras, a velocidade de transmissão da epidemia, e depende do comportamento e das ações dos gestores para a diminuição do contágio. Valores de Rt inferiores a 1 indicam controle da epidemia.
Na sequência são apresentados os gráficos dos dados confirmados de COVID-19 para o Brasil e RS, juntamente com os dados modelados pelo modelo matemático SIR utilizado pelo GDISPEN. É apresentada, pela primeira vez nesta pesquisa, a evolução temporal do número de reprodução diário Rt para o Brasil e para o RS. Nos gráficos, a faixa entre as linhas pontilhadas vermelhas representa um intervalo de confiança de 95% , e a linha horizontal azul representa um Rt = 1.
Nota-se que, em ambos os casos, no início da epidemia os Rt têm valores próximos de 2 e, após as medidas de restrição de serviços, transporte coletivo e fechamento de escolas, há um sensível decréscimo. Por outro lado, considerando os intervalos de confiança apresentados, também pode ser notado que mesmo com as medidas restritivas adotas, nem o Brasil e nem o Rio Grande do Sul alcançaram valores do número de reprodução diário abaixo de 1, significando que a epidemia da COVID-19 segue uma tendência de expansão. A última semana de dados foi desconsiderada nas simulações, mantendo o Rt do RS em 1.16, com um índice de confiança de 95% variando de 1.10 a 1.21. Já para o Brasil, encontrou-se um Rt de 1.32, com um índice de confiança de 95% variando de 1.31 a 1.32.
Os valores de Rt são calculados através de um modelo parametrizado para epidemias, desenvolvido por um grupo experiente de pesquisadores do colégio Imperial de Londres, Reino Unido (Thompson et al., 2019). Este modelo leva em conta a incidência de casos notificados. Assim, a interpretação de um valor de Rt menor do que 1 deve ser feita com cautela.
O RS dentro do cenário brasileiro:
Nos gráficos a seguir, apresenta-se a evolução do COVID-19 para o Brasil. Foram considerados os estados com o maior número de casos confirmados, considerando a partir do 100° caso. O RS segue com trajetória menos intensa que SP, RJ, CE, PE, AM, ES e BA.
Conforme pode-se ver na tabela, o RS possui 96,77 infectados e 2,33 óbitos por 100.000 habitantes e tem a 3ª menor taxa, dentre os estados selecionados, nos casos confirmados. Dentre os 3 estados da região sul, o RS segue apresentando o maior indicador no número de óbitos. No dia 04/06 o RS registrou 11.010 casos confirmados de COVID-19, sendo que 8.160 pessoas já se recuperaram (74%), 2.574 seguem em acompanhamento (23%) e 265 foram a óbito.
Abaixo seguem os gráficos das 13 cidades gaúchas que possuem mais de 100.000 habitantes e que tiveram mais de 50 casos confirmados, a pelo menos 10 dias. No total são 312 municípios do RS que possuem casos confirmados de COVID-19. No modelo matemático SIR, foi considerada uma taxa de reprodução R0 que variou de 1.15 a 1.6 entre as cidades (significa o número médio de pessoas que são infectadas por um único indivíduo) e um período de infecção de 5.2 dias. Devido a defasagem entre os relatórios divulgados pelos municípios e o painel de monitoramento do governo estadual, para as cidades de Porto Alegre, Pelotas e Santa Maria, os dados confirmados das prefeituras municipais serão utilizados nos gráficos. Para as demais cidades, os dados da Secretaria da Saúde do estado foram utilizados. Pelotas está com 105 casos confirmados de COVID-19 (dado divulgado pela Prefeitura Municipal em 04/06).
Este estudo tem finalidade puramente acadêmica e científica, mostrando a grande aplicabilidade da modelagem matemática em problemas reais. As discussões, opiniões, idéias e publicações geradas a partir dos resultados do modelo utilizado são de autoria dos respectivos autores, e não necessariamente representam aquelas das instituições a que estes pertencem. Detalhes da pesquisa podem ser consultados na página do laboratório do Grupo de Dispersão de Poluentes & Engenharia Nuclear (GDISPEN): https://wp.ufpel.edu.br/fentransporte/.
* Os dados da epidemia foram consultados as 10h do dia 05.06 nas redes sociais e nos sites do Ministério da Saúde do Brasil e da Secretaria da Saúde do RS, da Universidade John Hopkins, da Organização Mundial de Saúde, na plataforma P2k do DMS da UFPel, e do Worldometeres. Os dados podem divergir de acordo com a fonte consultada.
Referência:
Thompson, R.N., Stockwin, J.E., von Gaalen, R.D., Polonsky, J.A., Kamvar, Z.N., Demarsh, P.A., Dahlqwist, E., Li, S., Miguel, E., Jombart, T., Lessler, J., Cauchemez, S., Cori, A., 2019, Improved inference of time-varying reproduction numbers during infectious disease outbreaks, Epidemics 29, doi: 10.1016/j.epidem.2019.100356