As dificuldades que escritores encontram no início de carreira

“É raro achar escritores brasileiros que vivam só da literatura”

Por Roberta Muniz *

Ser escritor não é tarefa das mais fáceis. As dificuldades crescem, sobretudo, para os escritores de um país onde a média de leitura é bem menor do que na maioria dos outros. Ser escritor, demanda tempo e muita dedicação. Os caminhos de quem escolhe escrever profissionalmente, tem muitos obstáculos a serem superados.
No Brasil a profissão não é regulamentada. Qualquer pessoa que se ache capaz de escrever um livro, pode trabalhar com isso e obter renda a partir de seu material. Entretanto, não há direitos determinados nem mesmo garantias estabelecidas por lei, como piso salarial ou jornada de trabalho determinada. Mesmo assim a quantidade de pessoas que se aventuram por esses caminhos cresce.
O mercado editorial aqui no país teve uma queda de 5,2% em 2016 se comparado com o ano de 2015. Esses dados são da pesquisa Produção e Vendas do Setor Editorial Brasileiro e foram divulgados no mês de maio deste ano. Entretanto, de acordo com essa mesma pesquisa, o fechamento do primeiro semestre deste ano, teve saldo positivo em relação ao mesmo período do ano passado. O volume de vendas cresceu 5,62%, um número pequeno e que o mercado editorial festeja muito discretamente. Essa pesquisa é feita pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas, pelo Sindicato Nacional dos Editores de Livros e pela Câmara Brasileira do Livro.
Os autores nacionais sabem que no início da carreira, é bem difícil de entrar nesse mercado com pouca evolução em seus números e isso faz com que seja ainda mais complicado para que uma editora os publique. Muitos autores lançam seus livros de forma independente e fazem parcerias com blogs literários. Victor Bonini, 24 anos, da cidade de São Paulo, jornalista e escritor, autor de Colega de quarto, ressalta a importância dessa dinâmica: “É uma relação muito legal e importante para os escritores. Vejo como um ganha-ganha”. Bonini sabe das dificuldades dos escritores nacionais de serem publicados por uma boa editora: “Me considero sortudo por ter conseguido porque sei que a maioria dos escritores nacionais não é publicada. Sabendo disso, tentei destacar o meu original no meio de tantos outros que as editoras recebem”, conta o autor.
Fazer uma análise sobre as editoras, assim como fez Victor Bonini, pode ser uma boa forma de obter sucesso em suas tentativas. O autor contou que mandou seu manuscrito para as editoras que tinham o perfil que combinasse com a sua obra. Victor é apaixonado pelas suas duas profissões, mas sabe que se quisesse viver apenas como escritor seria algo bem difícil para se manter. “É raro achar escritores brasileiros que vivam só da literatura. E é algo que sempre digo para escritores iniciantes: tente, se possível, manter uma carreira em paralelo “, deixa como dica a quem deseja encarar esse ramo.
Outro escritor que também sabe das dificuldades do mercado, é William Tannure, 35 anos, residente da cidade de Petrópolis no Rio de Janeiro, que também não vive apenas da literatura. Além de se dedicar à seus livros, William é médico oftalmologista. Autor de O legado da ruína, também dá dica a quem pretende se aventurar na carreira: “Continuo acreditando na premissa que me levou a escrever minha série. Conheça sobre o assunto lendo livros do gênero, sabia escrever de maneira adequada e crie algo que seja fora dos clichês conhecidos. Acredito que o mercado irá sempre dar ouvidos a uma boa ideia, por mais difícil que esteja”.
Rodrigo Tavares, escritor e advogado trabalhista, de 30 anos, de Porto Alegre, autor de Andarilhos, também fala sobre as dificuldades de se viver aqui apenas com a literatura, mas que para quem ama o que faz, as dificuldades não impedem um sonho: “No Brasil é muito difícil viver da escrita, uma vez que somos um país que lê pouco. Talvez, 10% dos escritores vivam da escrita. E esse é um sonho que estou disposto a perseguir”. Ele também entende que não basta apenas escrever o livro, que após ainda há muito trabalho duro pela frente: “Escrever o livro é apenas o primeiro passo. Depois tem que lançar e investir muito tempo para divulgar e gerar curiosidade”.
Nota-se que os escritores tem plena consciência de que o caminho não é fácil, sobretudo com a atual situação política e econômica que se encontra o país. Mas hoje, além dos livros físicos, pode-se investir nos livros digitais, principalmente para escritores em seu início de carreira. Existem redes sociais que podem muito bem auxiliar os escritores e também permitir aos leitores, que tenham a oportunidade de conhecê-los.
Uma das redes sociais bem útil para se chegar ao público é o Skoob. Assim como nas demais redes que se conhece, bastam poucos cliques para sua conta ser criada e nesse local, você pode compartilhar suas leituras, os livros que já tenha lido, os que quer trocar, vender, os que quer conhecer. Outra comunidade, o Wattpad, é muito boa para quem quer mostrar as suas obras literárias. Com sua conta criada, você tem acesso a milhares de livros de formato digital, além de poder compartilhar suas próprias obras ali. Tem sido o ponto de partida de muitos autores nacionais.
Patricia Vahl, 28 anos, está começando seus passos na carreira de escritora profissional e mostra que essas redes podem ajudar: “É uma forma de ganhar um público leitor. Uma pessoa que lê uma obra lá e gosta, é muito mais suscetível a comprar uma obra na Amazon, por exemplo, pois já conhece o estilo e sabe se gosta ou não”. Patricia também conta que tem retorno do público que lê o que publica em seu perfil do Wattpad: “O maior retorno que tenho são os números de leituras, mas em contos específicos tenho comentários, pedindo por exemplo para dar continuidade a história”.
Dificuldades são constantes, mas os escritores, como amam o que fazem mantêm seus focos e conquistam seu espaço. Perseverança é a palavra que manda quando o assunto é essa profissão que traz tanta coisa boa para a vida de seus leitores.

*Notícia produzida para a disciplina de produção da notícia especial para o Em Pauta.

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