Por Eduardo Ritter/Superávit Caseiro

Muita gente pensa que as decisões tomadas pelas empresas, independentemente de seu porte, são tomadas exclusivamente por seus diretores executivos e proprietários. No entanto, dependendo da sua estrutura e complexidade, há vários setores e departamentos que têm o poder para a tomada de decisões. Partindo do princípio básico do mercado de capitais de que ao comprar ações você está adquirindo parte de uma empresa (que pode lhe pagar dividendos ou se valorizar para gerar lucro no processo de compra-venda de ações), elaboramos alguns pontos que você observar sobre as tomadas de decisões das empresas onde você pretende colocar o seu dinheiro. Esses pontos também são válicos para outros tipos de investimentos em empresas, como a aplicação de recursos em startups, por exemplo.

Um primeiro ponto a observar é: como está estruturado o setor de controladoria da empresa? Essa é uma pergunta importante, pois esse setor muitas vezes tem um grande peso no processo de tomada de decisões das empresas. Conforme ressalta Vaniza Pereira, na obra “Fundamentos de Controladoria”, a principal função é assegurar valor para a empresa e seus acionistas, e esse valor será obtido pelos vários gestores das diversas atividades de uma empresa. Para tanto, a controladoria realiza, de acordo com a autora, “análise de dados financeiros em tempo real; gestão econômica de todo o sistema da empresa com foco em resultados; apoio a todos os gestores nas tomadas de decisões; gestão do sistema de informação com índices financeiros; participação no planejamento estratégico de longo prazo; planejamento operacional e programação para o curto prazo”. Assim, uma primeira dica é: acompanhar o trabalho da controladoria da empresa, sempre que se tiver acesso a isso. Afinal, por mais que se tenha criado uma visão externa míope sobre esse setor, como se fosse apenas uma área de fiscalização e controle, a controladoria tem no seu principal papel o apoio com função ativa no processo de decisões.

E você sabe como funciona o processo decisório de uma empresa?

Para respondermos a essa pergunta, mais uma vez voltamos à obra de Vaniza Pereira, que retoma alguns conceitos sobre controladoria e gestão financeira. O primeiro deles é o de desembolso, que significa a saída de dinheiro do caixa ou do saldo bancário da empresa. Isso ocorre, por exemplo, com compras feitas à vista, como aquelas referentes a materiais. Também as compras a prazo, que podem incluir financiamentos e empréstimos bancários, por exemplo. Outro exemplo de desembolso é a liquidação de obrigações financeiras, como o pagamento de salários dos funcionários. Como a empresa que você está cogitando investir lida com isso? Qual é o seu índice de endividamento? Quas as projeções para os próximos anos? Uma olhada no planejamento e nos diferentes orçamentos da entidade é uma boa pedida.

Já o gasto, conforme explica a autora, é outro conceito. Trata-se de um sacrifício financeiro mais genérico relacionado a produtos, bens ou serviços. Esses gastos ocorrem a qualquer momento e em todos os setores de uma empresa. Diferentemente do desembolso, o gasto não é necessariamente pago, afinal, dependendo de como ocorre, o gasto pode ser classificado em: „custo, „despesa, perda, investimento e desperdício.

Um dos conceitos mais importantes a se observar são os custos. Trata-se dos gastos relacionados à atividade produtiva da empresa, dentre eles, os salários e encargos dos empregados, aluguel da parte fabril, matérias-primas, etc.

Tendo visto esses conceitos, chega-se ao estilo com que cada empresa trabalha com eles. Para isso, é importante observar as estratégias que as empresas optam para a tomada de decisões administrativas. Por exemplo: ela mantém fixo os preços de venda? Ela compra insumos ou os fabrica? Ela aumenta o diminui o mix de produção? O sistema de custeio é direto ou variável ou é por absorção (quando os gastos fixos são agregados ao valor cobrado pelo produto)? No que isso interfere na contabilidade da empresa? E na sua relação com o cliente e com os investidores?

Claro que não há regra fixa sobre qual é o melhor modelo e, assim, o investidor terá que avaliar se aquela empresa está optando pela estratégia mais adequada ao momento e ao mercado em que atua. Para tanto, é importante também checar o estilo de gestão, os princípios da organização, os princípios da comunicação, os critérios de avaliação dos gestores e a avaliação de resultados e desempenho (DRE e Balanço Patrimonial).

Dentro da empresa, segundo Vaniza Pereira, o processo de tomada de decisão envolve:

1. Definição do problema.

2. Obtenção dos fatos.

3. Formulação das alternativas.

4. Ponderação e decisão.

Um acompanhamento sobre o histórico de tomada de decisões de empresas do mesmo setor pode servir de base para você observar se está escolhendo uma empresa próspera, que possa gerar lucros e se valorizar, ou se ela está indo para um caminho de um endividamento sem ativos suficientes para agregar valor no futuro.

Além dessas observações, também é importante acompanhar os indicadores da empresa, no entanto, esse é tema para outro artigo. Assim, conhecer a empresa em que você está investindo (seja na compra de ações na bolsa de valores ou em startups) é o primeiro passo para se dar bem, afinal, conforme já foi mencionado em textos mais antigos do Superávit Caseiro, investir é completamente diferente de apostar.