Por Eduardo Ritter/Superávit Caseiro

Muitos investidores populares sugerem em seus canais no Youtube para investidores novatos começar investindo em fundos de investimento, enquanto estudam as opções do mercado variável. No entanto, fazer o investimento certo nessa modalidade para ter uma maior rentabilidade e um menor risco não é tarefa tão simples assim. Para fazer a escolha certa, primeiro, é preciso saber como funcionam os fundos mútuos de investimento. Para isso, o Superávit Caseiro compartilha com o leitor as explicações do professor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), doutor em investimento e mercado de capitais, Juliano Pinheiro, autor do livro “Mercado de capitais” (Atlas, 2019).

Inicialmente, o professor Pinheiro explica que fundos mútuos funcionam como um condomínio que investe em um portfólio diversificado. “São entidades financeiras que, pela emissão de títulos de investimento próprios, concentram capitais de inúmeros indivíduos para aplicação em carteiras diversificadas de títulos e valores mobiliários”, esclarece. Ou seja, os fundos objetivam a conveniência da aplicação em condições técnicas mais favoráveis do que as que seriam possíveis individualmente, se os participantes optassem por investir por conta própria nos mercados financeiros. Fazendo isso, o sujeito que não é especialista na área, delega essa função para que o fundo monte a sua carteira de investimento com diversos ativos.

Para entender melhor, é preciso pensar que o patrimônio do fundo é composto por recursos de vários investidores que são aplicados em uma carteira diversificada de títulos. A lógica é que, quanto maior o valor investido, maior pode ser o retorno e, assim, aumentando a rentabilidade dos participantes do fundo, principalmente na comparação com os investimentos tradicionais de renda fixa, como Poupança, CDBs ou Tesouro Direto. Para isso, a administração desses recursos é feita por especialistas de mercado. “O investidor não adquire títulos que compõem o fundo mútuo e sim compra e vende cotas desse fundo”, salienta Pinheiro em sua obra. Os fundos, conforme o autor, são formados pelos seguintes agentes:

  1. Administrador: constitui o fundo e o representa em todos os seus atos. Não necessariamente estará vinculado a uma instituição financeira tradicional.
  2. Gestor: identifica oportunidades de investimento e administra a carteira de ativos do fundo.
  3. Custodiante: responsável pela custódia (guarda) dos ativos do fundo. Pinheiro recomenda a eleição de uma instituição financeira sólida, uma vez que há o risco dos ativos custodiados virem a ser atingidos por falência ou recuperação judicial.
  4. Auditor independente: auditor registrado na CVM, encarregado de auditar as demonstrações financeiras do fundo.
Investidores colocam os seus dinheiros em fundos mútuos que são administrados por especialistas que investem o capital nos mais diversos ativos. Imagem: Livro Mercado de Capitais, Juliano Pinheiro (Atlas, 2019).

O professor explica que, juridicamente, os fundos podem ser classificados em abertos ou fechados. Um fundo aberto pode receber novos aportes de novos quotistas a qualquer tempo e os quotistas existentes podem solicitar o resgate de suas quotas a qualquer tempo. Já no fundo fechado, quotistas somente podem adquirir quotas durante o período de distribuição e elas somente são resgatadas ao término do prazo de duração do fundo.

E no que são investidos os recursos dos fundos? Eles podem ser aplicados em carteiras diversificadas, como títulos de renda fixa públicos e privados, títulos de renda variáveis (ações, por exemplo), commodities, mercado de índices, dentre outros. Por isso o administrador do fundo deve prestar todas as informações necessárias para o ingressante, entregando cópia do regulamento do fundo, para que ele possa escolher entre a aplicação ou não.

No entanto, vale ressaltar que esse investimento tem custos. Normalmente, conforme Pinheiro, os principais são:

  • Taxa de administração: remunera os gestores pela análise dos ativos, pela decisão e administrador. Incide sobre o patrimônio do fundo.
  • Taxa de performance: em alguns casos, o gestor cobre um percentual do ganho do cliente caso a rentabilidade supere um indicador predefinido.
  • Taxa de entrada/saída: pode ser cobrado no momento da aplicação ou no resgate das cotas. Pode ser usada como forma de inibir resgates antecipados.

Como escolher um fundo?

Se você chegou até aqui, você já realizou o primeiro passo para investir em um fundo, que é justamente saber o que é e como funciona um fundo mútuo de investimentos. No entanto, Pinheiro salienta que no Brasil, como em outras partes do mundo, há inúmeras opções de fundos, com várias possibilidades de risco, montante de aplicação, prazo e volume de negócios. Geralmente, no próprio aplicativo dos bancos e corretoras de investimento, há a classificação de risco (baixo, médio ou alto). Outra possibilidade, é classificar os fundos conforme o perfil do investidor, como “Conservador”, “Moderado” ou “Agressivo”. Assim, você deve comprar os fundos observando a sua performance, no mínimo, nos últimos 24 meses, sendo que tal comparação deve ser feito dentro de cada categoria. Ou seja, comparar fundos de risco baixo com outros de risco baixo; fundos de médio com médio; e alto com alto.

Para escolher o fundo mais adequado para você, também é preciso avaliar qual a sua tolerância a risco e custos envolvidos em cada fundo. Outro item importante, é que algumas corretoras já descontam a taxa de administração da taxa de rentabilidade. Assim, é importante você questionar sua corretora sobre esse item.

O professor destaca ainda alguns pontos que podem ser observados antes da escolha do fundo de investimentos em que você colocará o seu dinheiro:

– Estratégia e objetivo adotados pelo fundo.

– Composição da carteira do fundo.

– Custos.

– Rentabilidade comparada ao risco oferecido.

– Rotatividade dos gestores do fundo.

– Liquidez.

– Volatilidade (risco em relação á taxa).

– Regulamento do fundo.

Há ainda uma classificação da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), que categoriza os fundos segundo as seguintes classes:

  1. Fundos regidos pela ICVM n°409:
  2. Fundos de curto prazo
  3. Fundos de renda fixa
  4. Fundos de ações
  5. Fundos de dívida externa
  6. Fundos multimercados
  7. Fundos cambiais
  8. Fundos referenciados
  9. Fundos regidos por regulamentação própria:
  10. Fundos de investimento em participações
  11. Fundos de investimento em empresas emergentes
  12. Fundos de investimento em direitos e creditórios
  13. Fundos de investimento imobiliário

Diante disso, para evitar riscos, o ideal é buscar mais informações sobre o tipo de fundo que você pretende investir. Nos próximos meses, o Superávit Caseiro trará, na sua editoria de Investimentos, informações sobre algumas dessas possibilidades.