Quem nunca se sentiu enganado financeiramente mesmo entrando em uma transação em que tudo estava sendo feito dentro da lei? Quem nunca embarcou em um péssimo negócio financeiro achando que estava se dando bem? Quem nunca sentiu a sensação de que o dinheiro que ganha de forma suada parece escorrer tão facilmente pelos dedos em poucos dias? É bem provável que o leitor que tem responsabilidades financeiras, seja individualmente ou para gerir o orçamento de uma família, já teve alguns dos sentimentos citados nessas perguntas.

É com o objetivo de auxiliar o leitor a não entrar em furadas financeiras e a cuidar melhor do seu dinheiro (até para poder aproveitar melhor a vida e cuidar de quem ama) que foi criado o site Superávit Caseiro, pertencente ao projeto de extensão “Jornalismo e Finanças: a produção do site Superávit Caseiro”, da Universidade Federal de Pelotas (UFPEL). Afinal, no Brasil, são inúmeras as pesquisas que apontam o analfabetismo financeiro da população. Em novembro de 2021, por exemplo, a Confederação Nacional do Comércio, Bens, Serviços e Turismo (CNC) divulgou pesquisa que mostra que há cerca de 12 milhões de famílias endividadas no Brasil. Já ranking desenvolvido pelo instituto de pesquisa americano Gallup Poll em 2015, apontava o Brasil com o 68° pior resultado global quando o assunto é finanças e economia. E, regionalmente, o Instituto e Estudos de Protesto do Rio Grande do Sul (Iepro-RS) divulgou em dezembro de 2021 que 44% dos gaúchos encerrariam o ano endividados.

Claro que a pandemia do Coronavírus ajudou a agravar essa situação, no entanto, pesquisas anteriores à pandemia confirmam o desconhecimento dos brasileiros sobre questões básicas de finanças e economia, fazendo com que muitas vezes o cidadão embarque em uma canoa financeira furada. Um exemplo é que, com a própria pandemia, muitas famílias brasileiras foram pegas de surpresa sem nunca terem ouvido falar em “reserva de emergência”, que consiste em conservar um valor investido com taxas de rendimento pelo menos iguais às da inflação, sendo o valor total dessa reserva a renda familiar mensal do sujeito multiplicada por seis. Ou seja, em uma situação de perda de emprego ou fechamento de negócio, o indivíduo teria uma renda para viver com o mesmo padrão de vida por pelo menos seis meses, podendo nesse período procurar outra forma de renda. Ao contrário disso, muitas pessoas (e famílias) acabam achando que o limite do cartão de crédito é uma reserva de emergência, sendo que esse valor é apenas um limite, não é um dinheiro que lhe foi dado por uma instituição financeira.

Esses são apenas alguns exemplos dos temas que serão abordados aqui no Superávit Caseiro nos seus mais variados tipos de texto. Para essa semana de estreia, a equipe do Superávit, que hoje conta com um professor e cinco alunos do curso de Jornalismo da Universidade Federal de Pelotas (UFPEL), preparou o material que a partir de agora pode ser conferido no site do projeto de extensão.

Na editoria de Reportagem, você pode ler o texto “Como sair do vermelho?”. Para responder à pergunta do título, o Superávit ouviu especialistas e também trouxe casos de pessoas que pagam um preço alto hoje em dia pela falta de estudo básico sobre finanças ao longo da vida. Já em Perfil, apresentamos nessa semana – em que se celebrou o Dia Internacional da Mulher – a trajetória da cabeleireira pelotense Carmem Lucia Moraes, mulher negra que nunca desistiu e superou todas as dificuldades impostas por uma sociedade racista e machista. Em Investimentos você pode conferir seis mitos e armadilhas do mercado de capitais. E em Entrevista, ouvimos o economista e presidente da Associação Comercial de Pelotas (ACP), Mauro Roberto Bom, que comentou sobre a adaptação da entidade no contexto da pandemia, o cenário econômico de Pelotas e região e a falta que faz o desenvolvimento de uma cultura de educação financeira para a população brasileira. Vale lembrar que, aqui, na editoria de Opinião, estaremos trazendo semanalmente textos de especialistas, convidados e leitores que queiram se manifestar sobre temas relacionados à economia e finanças. Já em Notícias, você acompanha diariamente novidades que podem afetar a sua vida financeiramente.

É justamente para auxiliar o leitor a planejar melhor o seu orçamento que esse site foi criado, podendo, assim, passar de um contexto de déficit (onde os gastos são maiores que as receitas) para um contexto de superávit (onde as receitas são maiores que as despesas). Porém, e não menos importante, serão apresentados também textos para ajudar quem já vive em uma condição de superávit a melhorá-la ainda mais, ampliando e qualificando os seus investimentos. Em síntese, esse é um site para todos que tem interesse de melhorar a sua vida financeira e se dão conta de que os poucos que conhecem as regras do sistema financeiro acabam muitas vezes lucrando em cima de uma imensa maioria que segue imersa no analfabetismo financeiro. É a grande maioria da população que ainda prefere gastar o dinheiro que não tem, com aquilo que não sonha, para impressionar quem não conhece (e sempre pagando juros por isso), como já destacou o professor Juliano Pinheiro (UFMG). Não adianta criticar sem se movimentar. Não adianta lamentar sem estudar e não adianta condenar sem conhecer as regras do jogo. E são essas regras que serão aprofundadas pelo Superávit Caseiro ao longo dos próximos meses e, quiçá, anos e décadas.

Eduardo Ritter – professor do curso de Jornalismo da Universidade Federal de Pelotas (UFPEL) e coordenador do projeto de extensão “Jornalismo e Finanças: produção do site Superávit Caseiro”.