Início do conteúdo

Conectando Conhecimento – Nº4

Efeito do covid-19 nos sentidos sensoriais

No final do ano de 2019 um vírus de potencial pandêmico foi anunciado e posteriormente no ano de 2020 declarado causador da doença COVID-19, altamente transmissível e que acabou trazendo consequência aos mais diversos nichos da sociedade. O que seria apenas um resfriado, transmitido por contato com perdigotos de um indivíduo infectado, em pouco tempo pode evoluir para a síndrome respiratória aguda grave e sendo fatal em muitos casos. A peculiaridade deste coronavírus é que causa perda da gustação e olfato, sintomas cientificamente conhecidos como ageusia e anosmia, mas sem apresentar coriza, sintoma característico de gripes e resfriados causados por coronavírus. Neste sentido a anosmia e ageusia foram declarados sintomas de COVID-19 na metade de 2020. Se tratando de análise sensorial, a anosmia e ageusia preocupam, pois, a recuperação é ainda uma incógnita e são sentidos essenciais a esta ciência. Muitas pessoas ao contrair COVID-19 não apresentam anosmia e ageusia, outras ficam durante meses sem sentir ou apresentando disgeusia que é a distorção do paladar. O estímulo do odor começa pela cavidade nasal, moléculas voláteis que produzem o odor são sentidas pelo sistema olfativo. Os aromas dos alimentos são sentidos na região nasofaringea, parte posterior do nariz, onde se conecta com a faringe até o epitélio olfativo (Palermo 2015; Dutcosky 2019). Os receptores do olfato correspondem a neurônios com evaginação que se encontram na mucosa olfativa. A percepção de aroma ou odor se dá quando o axônio, parte da célula nervosa, transmite o estímulo através da lâmina crivosa (estrutura onde diversos conjuntos de nervos passam e formam o nervo olfativo) para as sinapses nos bulbos olfativos, diferenciando os odores. Ao captar um odor ou aroma as células receptoras enviam impulsos elétricos para o bulbo olfativo, sendo capaz de despertar a memória olfativa. Esse fenômeno fisiológico pode ser justificado pelas curtas conexões do bulbo olfativo, que se ligam ao cérebro, onde se conecta ao sistema límbico, responsável pelas emoções (Dutcosky 2019). Em relação ao enfermo de COVID-19 a anosmia e ageusia podem ser explicadas pela disseminação do vírus e comprometimento do nervo olfatório, ocasionando também dor de cabeça, provocada pela invasão do COVID-19 no sistema nervoso central (Rocha-Filho and Magalhães 2020; Lee et al, 2020). O comprometimento da gustação e olfação pode estar relacionada a forma que o vírus entra no organismo, ou seja, pela boca e nariz e se replica na mucosa orofaríngea e epitélio do sistema respiratório. Em estudos com camundongos a disseminação do SARS-CoV-2 se dá pelo bulbo olfatório onde chega ao neurônio olfativo e áreas interligadas ao sistema nervoso. A angiotensina 2 (ACE2) é uma proteína que tem função vasodilatadora no organismo humano, cujo principal receptor se torna também receptor do SARS-CoV-2 para a entrada nas células (NCBI  2021). Tais fatos reforçam a hipótese de que a angiotensina pode facilitar o acesso do COVID-19 no organismo (Lee et al, 2020). Outra hipótese da causa de anosmia por COVID-19 é que o vírus ataca as células que circundam os neurônios olfativos, que por sua vez não produzem a ACE2. As células que estruturam os neurônios olfativos podem desencadear um processo inflamatório no sistema imune e essa inflamação acaba por bloquear os sinais do sistema olfativo, ocasionando a anosmia. Essa resposta inflamatória causada pelo COVID-19 pode resultar em danos às células tronco olfativas que fazem a substituição das células danificadas, justificando o porquê de muitas pessoas terem anosmia durante meses (Brann et al. 2020). Como dito anteriormente, a recuperação da olfação e gustação após infecção por COVID-19 pode ser lenta e dependente de indivíduo para individuo; sendo assim necessário estímulos diários para recuperação das conexões das células do bulbo olfatório até o cérebro. Dispor de produtos com aromas marcantes (canela, mentol, florais, limão) em recipientes sem identificação (teste cego) e pedir que a pessoa com anosmia e ageusia identifique, pode ser uma alternativa para a recuperação dos sentidos, assim como observar alimentos e lembrar dos seus aromas e sabores, auxiliando no exercício da memória olfativa.  Um treinamento caseiro como estes pode ser realizado de 1 ou 2 vezes por dia e observar a evolução ao conseguir identificar os cheiros.

Publicado em 26/08/2021, na categoria Notícias.