Entrevista com Marcelo Patzlaff, Sócio administrador Água Mineral Lazuli

 

Conte-nos um pouco de sua história como gestor da empresa e a sua formação acadêmica.

Marcelo: Bom, espero um pouquinho longa, mas vamos tentar resumir. Eu sou formado em Edificações pela escola técnica, e dali a minha ideia era fazer engenharia ou arquitetura. E aí pelo destino, quando eu estava quase me formando na escola técnica, o meu pai adoeceu, eu tive que parar com a escola e fui para o curso noturno para poder ajudar o meu pai aqui (na empresa da família). Até então, eu ajudava na safra, mas aí eu tive que, na verdade, praticamente administrar a empresa, já meio precocemente. Essa minha ida para o curso noturno da escola técnica, foi uma mudança brusca. Porque eu estava no ensino médio, com todas as pessoas da minha idade e da noite para o dia, eu fui estudar com pessoas muito mais velhas. Que o curso noturno naquela época era só quem trabalhava mesmo, ou quem já tinha uma formação e queria fazer um curso técnico. Então foi uma virada, naquele momento eu passei de um moleque, que estudava de dia e morava em Pelotas, e voltei para Morro Redondo e fiquei indo de ônibus ou de carro, eu e mais dois ou três colegas. A gente criou até uma cooperativa de estudantes que tem até hoje aqui.

Me formei em edificações e fiquei naquela de vou em frente (estudar arquitetura ou engenharia) ou não vou, o que eu faço agora? Mas a condição do meu pai não estava muito melhor, e acabei mudando, indo para a administração de empresas na Universidade Católica (UCPel). Entre trancos e barrancos, me formei. Então sou formado em administração de empresas, e desde a minha época de escola técnica, eu já administro a empresa do meu pai. Fui aos poucos pegando o tino do negócio gostando muito, mais ainda do que eu já gostava de indústria.

Qual a área da empresa do seu pai?

Área de indústria de conservas, uma indústria tradicional, que em outubro agora (2024), completa 57 anos de existência da mesma indústria. Meu pai já tinha tido uma indústria de conservas anterior a atual, porém parou, e teve um armazém. Depois criou a indústria de conservas Patzlaff, que é a indústria que está na família até hoje, há 57 anos.

O que o levou a expandir para ramo de água mineral (Água Mineral Lazuli)?

Surgiu pelo meu pai, que em 1989, sabia que tinha uma água muito boa a disposição, e acreditava que um dos diferenciais da nossa conserva de pêssego era realmente água, que é de altíssima qualidade. E isso levou o meu pai a buscar um geólogo de Porto Alegre, trouxe ele até a nossa empresa e pediu para ele analisar a água. E na época, ele disse: “Olha, vocês têm uma mina de água mineral aqui.”. A gente ficou chocado, porque não imaginava que tinha tanto potencial aqui. Logo, o pai começou o processo dentro do extinto da DNPM, Departamento Nacional de Produção Mineral, e aos pouquinhos ele foi fazendo essa pesquisa da água, que levou vários anos. Com o passar do tempo, os processos foram se concluindo e aí uma pesquisa virou uma coisa mais próxima de realmente abrir a empresa.  Então, tivemos que optar por abrir essa empresa ou perder todo esse trabalho que a gente tinha feito de pesquisa em cima da água mineral. […] Na época, acho que nem tinham nenhuma empresa de água mineral aqui na nossa região, mas como meu pai demorou bastante tempo para abrir, abriram algumas empresas nesse meio tempo. Entretanto, a nossa é a mais próxima da região de Pelotas, a região Sul do estado.

Mas inicialmente, era nesse local que estamos agora (Sede da empresa água mineral Lazuli) ou era na indústria de conservas?

Não, existe um poço artesiano que abastece a indústria de conservas e um outro poço artesiano que abrimos depois para fazer essa água mineral, pois está tudo dentro de normas diferentes da construção, é preciso fazer pesquisa e ter tudo documentado. Posteriormente, compramos mais uma área para fazer a indústria (de água mineral) separada da indústria de pêssego. Mas o que abastece as duas, na verdade, são poços diferentes da do mesmo veio, a mesma água.

Demorou muito tempo desde que vocês descobriram até efetivamente começar o negócio?

Demorou bastante, o pontapé inicial foi em 1989, mas o meu pai acabou perdendo alguns prazos, e só 1991 reabrimos o processo no meu nome. Então, oficialmente, esse processo iniciou em 91 e foi se abrir a empresa apenas em dezembro de 2020, ou seja, 30 anos. Não foi uma coisa que a gente fez do nada, foi pensado e feito com muito carinho, porque tínhamos a ideia de que isso talvez fosse algo para deixar de legado para os filhos. É uma empresa em que acreditamos muito, e está em um momento bom para isso, apostamos muito nisso.

Quais são os desafios enfrentados nesse ramo? Tem muita concorrência?

Tem, porque é um ramo que a gente não conhecia muito e os clientes são diferentes. O desafio principal é lançar uma nova marca de um produto, o mercado geralmente aceita, desde que seja mais barato do que o concorrente que já está no mercado. E o nosso tem uma qualidade muito alta, desde o trato da indústria até a logística, onde tudo é muito bem pensado e planejado. Então o nosso custo não é tão baixo, portanto, tivemos que entrar com um preço que não era mais baixo do que a da concorrência e ganhar mercado, mas a gente vem ganhando mercado, pouco a pouco, e já está em várias cidades da região.

[..] trabalhamos direto com o distribuidor, e não com o consumidor final, então o que ouvíamos é o seguinte: “Ah, a água tanto faz a marca que eu botar, eu que sou o vendedor”. “Mas olha se você botar uma marca de uma qualidade ruim teu cliente da ponta não vai comprar”. “É mas ai eu troco para outra.” Na ideia deles, são eles é que comandam o mercado, o distribuidor, não a empresa. Mas estamos trabalhando forte em cima da marca e da qualidade, e o pensamento tem mudado.

E vocês investem também em marketing?

Sim, nas redes sociais e por meio de propaganda. A gente trabalha forte em cima disso.

E referente ao quadro de funcionários, o senhor seguiu com a sua equipe da empresa anterior? Qual o número de empregos gerado atualmente pela sua empresa?

A gente seguiu com os efetivos da outra empresa (Indústria de Conservas Patzlaff), e a nova empresa tem outros funcionários, […] são todos funcionários novos. Temos 5 funcionários fixos, e se precisar na safra (verão), é contratado o safrista.

Uma curiosidade, qual o tempo estimado do processo, da retirada da água do poço artesiano até o produto final?

Não, não tem tempo. A bomba do poço fica abastecendo os reservatórios, temos 2 reservatórios de 70000 lts cada um. Cada um, então tem um armazenamento bom de água, e à medida que vai sendo agendado os carregamentos e os caminhões vão chegando, é feito o envasamento. Mas a capacidade de envasamento por dia é grande.

E sobre o galão, você já compra o galão e só envasam?

É na verdade o garrafão tem 2 formas. O garrafão do distribuidor, ele traz no caminhão dele, o garrafão vazio. A gente faz uma verificação, uma análise do garrafão, se está tudo em ordem, a data de validade e se ele não tem nenhum problema. É trocado o rótulo, se for o caso (se ainda não for o nosso rótulo), fazemos a higienização e depois o envase. E a outra maneira, ele compra garrafão novo nosso, que ele pode chegar aqui e comprar o garrafão novo já envasado.

Quais as metas que o Senhor tem traçados para o futuro? Atualmente vocês trabalham só com galão de 20 lts, tem interesse em expandir para garrafas menores?

Eu sempre falo que a qualificação é muito importante, você tem que buscar informação. Informação do produto e do mercado que vai trabalhar, se na tua região esse produto tem aceitação, porque, hoje o frete impacta muito em cima do produto. Não dá pra pensar em um produto aqui, mas que tu vais vender lá em São Paulo onde tem uma empresa que faz o mesmo produto perto do polo consumidor. Então tem que pensar em tudo isso, tem que pensar no negócio todo. Hoje eu vi uma a pesquisa que diz que as empresas estão durando menos que duravam antigamente, tu cria uma empresa hoje, daqui 3, 4, 5 anos ela não existe mais. Empresa tipo a nossa de pêssego, que tem 57 anos já são raras hoje. É tudo muito rápido, a informação muda, o produto muda e o conceito de produto muda. Daqui a pouco, o garrafão de 20lts que a gente trabalha hoje não vai ser mais aceito no mercado, vai ter uma coisa nova. O pêssego em conserva, o que fazemos na lata a 57 anos, a lata é praticamente a mesma, mas daqui a pouco pode não ser. Então a inovação é importante, tem que ter olho na inovação. […] no mercado, no processo e buscar experiência com alguém mais experiente, buscar informação.

 

Perguntas: George Aguiar e Paulo Louro

Entrevistador: George Aguiar

Transcrição: Eliane Flores

 

Entrevista com a Diretora do CCSO, Administradora, Professora e Doutora em Administração, Isabel Rasia

 

 

ENTREVISTA ISABEL RASIA PARA O “PAPO DE GESTÃO”

 

Alisson Maehler: Então, nós vamos fazer uma entrevista com a professora Isabel. Nós temos um projeto de extensão chamado papo de gestão, nosso projeto de extensão. Lá nós temos um perfil do gestor, que a ideia é mostrar para os alunos o perfil de vida mais geral, não só acadêmico, dos gestores das mais diversas áreas: gestores de turismo, gestores públicos, gestores privados, gestores acadêmicos, para motivar os alunos e eles verem os diferentes perfis.

Isabel Rasia: Sim

Alisson Maehler: Então Isabel, nós queremos começar com a primeira pergunta: poderia nos contar um pouco sobre a sua trajetória na gestão? Como ela começou e como você foi parar nessa atividade?

Isabel Rasia: Então, quando eu me formei e estava no último ano da Administração na FURG […] abriu uma vaga no hospital de Clínicas para trabalhar como Gestor em Saúde. […] E eu fui participar, os melhores alunos de duas Universidades puderam fazer essas provas, alunos da FURG e da UCPEL. Foi uma seleção de duas semanas…., a gente fez provas escritas, e outras provas técnicas de conhecimento e também psicotécnicas e de perfil. Eles queriam uma pessoa proativa, determinada, detalhista […] Queriam alguém que não tivesse vícios anteriores de trabalhos de muito tempo, que fosse jovem, flexível, adaptável. Então fui selecionada e entrei para o hospital. Na época eu não gostava da área hospitalar, nunca foi o meu sonho de vida, nunca foi o “eu vou me formar e vou ser gestora hospitalar”, […] foi o emprego que eu consegui e eu precisava de um emprego logo.

Eu não entrei ganhando como técnica […] trabalhei como trainee durante um ano inteiro […]. Tinha uma UTI que era pequena e ainda fora dos padrões nacionais do Ministério da Saúde, enfim, fui passando por bloco cirúrgico, pronto socorro, UTI Pediátrica, clínica médica, clínica cirúrgica, clínica obstétrica, clínica pediátrica, ambulatório geral de especialidades e depois toda a parte do centro de exames e de gestão.

Daí eu peguei já comecei no financeiro, depois com a gestão do centro de exames, farmácia e almoxarifado. Trabalhei com o primeiro e segundo andar, que eram ambulatório e pronto socorro.

Esse trabalho era dirigido de acordo com a orientação da Fundação São Camilo que a época dirigia o hospital. Fui desenvolvendo as minhas aptidões, e habilidades, enfim, aprendendo e estudando muito, tive que estudar muito mais sobre custos, custos hospitalares, legislação e assistência médica e de enfermagem. […] Bom, isso foi no início e eu era muito jovem, com cara de menininha. Eu sempre conto a história de que eu usava roupas da época pra minha idade com cabelo comprido, uma trança pro lado porque era moda. Tentava me vestir como todas as outras meninas da minha idade.

Só que como eu ocupava cargo de gestão com muitos funcionários, e normalmente gerenciava pessoas com maior idade, as vezes eu não passava a imagem de credibilidade, me diziam. Eu tinha conhecimento, a postura adequada, mas eu não passava uma imagem que esperavam de mim, e isso foi um dos entraves pelos quais passei. […]

[…] E aí eu fui fazendo parceria com os médicos, porque trabalhar na gestão hospitalar precisa ter uma boa relação de comunicação com os médicos, se não tiver uma boa comunicação nada funciona dentro do hospital, com a enfermagem eu tinha porque eram minhas colegas, a gente fazia os cursos juntos e nos ajudávamos em todas as situações difíceis que enfrentávamos.

O hospital é um local em que se aprende a trabalhar em equipe, porque nada é resolvido individualmente, o trabalho das equipes multidisciplinares são fundamentais e se complementam […] e a gente consegue trabalhar e aprender mais e a se desenvolver nas questões pessoais. É um grande aprendizado de amor a vida e as coisas que devemos valorizar. Se aprende a minimizar os problemas, pois a vida e a saúde são prioritárias sempre!

[…] E aí eu fui cada vez mais evoluindo, aprendendo, assumindo responsabilidades, fui ampliando o meu escopo, e logo tomei responsabilidades maiores como gerente no hospital. E já prestava, consultoria para os outros hospitais da região. Sendo, inclusive, convidada a trabalhar para outros hospitais na região. Durante todo esse tempo de gestão, eu dava aulas nas Universidades de Pelotas, trabalhei na Anhanguera, na Católica, no Senac, na Unopar, e em diversos cursos técnicos. Uma rotina de trabalho de 12 horas por muitos anos.

Trabalhei na área da saúde, depois eu fui trabalhar como Gerente no Setor Público, Gerente de Serviços de Saúde da Faculdade de Medicina – FAMED/UFPEL, era esse o meu cargo de nível superior, técnico na UFPel. Eu fiz o concurso para trabalhar como gerente no Hospital Escola, mas acabei assumindo na FAMED onde trabalhei durante seis anos, enquanto isso eu continuava ministrando aula nas faculdades da região tanto na graduação quanto na Pós-graduação, e busquei maior formação como o Doutorado. Pois sou administradora com três especializações, um mestrado na área da saúde, e um doutorado em Administração.

Então a minha trajetória até a UFPEL é essa. Fora isso, fiz inúmeras consultorias para empresas e projetos […] dentro dessa trajetória de trabalho eu nunca parei de estudar em nenhum momento, fiz mestrado com filha mamando no peito, trabalhando doze horas ao dia, porque não tive afastamento para estudar. O hospital me liberava no horário da aula e eu trabalhava sábado e domingo pra compensar, ficava de plantão.

Eu tinha sido na UFPEL professora substituta por duas vezes. Mas não conseguia fazer o concurso para efetiva. Eu já tinha desistido de dar aula na UFPEL, pois a minha formação não fechava com os editais que saiam de concurso. […] Quando tive a oportunidade e consegui participar de um concurso, passei para professora efetiva. […] De repente eu recebi uma ligação aqui da Universidade dizendo que tinha a possibilidade de me chamar, aquilo veio como um susto e uma alegria imensa. Aí eu digo: “gente, agora eu vou ser professora, pesquisadora, porque eu gosto da pesquisa, sempre gostei, só que eu nunca tive o tempo necessário pra me dedicar. […]

Em 20 dias após a posse nessa Universidade eu ocupei cargo que foi o cargo […] como chefe de departamento. Do cargo de chefe de departamento eu passei para coordenadora do curso de Gestão Pública e depois para Diretora. Quando eu sair da direção eu realmente precisarei me reinventar, porque nunca estive em outra posição que não fosse de gestão, isso está em mim, faz parte do que eu sou. Essa é uma preocupação que eu tenho para o futuro, de aprender a ser docente, pesquisadora. Docente sempre fui e amo de paixão, meu primeiro emprego aos 14 anos foi docente de curso particular de matemática e física. Adoro o aluno, adoro a graduação, adoro a pós-graduação, adoro estar em sala de aula conversando com as turmas, acho essa interação maravilhosa, eu aprendo tanto quanto ensino. O problema é que eu nunca fui só docente, eu sempre estive em cargo e a gestão é viciante.

 Alisson Maehler: […] Consegue observar pontos comuns e divergentes na atuação na gestão pública e na gestão privada?

Isabel Rasia: Mais divergentes mais do que convergentes. Divergentes pois na iniciativa privada a gente trabalha muito com metas e resultados rápidos. Os recursos são limitados e a prestação de contas é mensal ou diária em muitos casos. Isso gera um stress para cumprir com o planejamento e com as pactuações com a Direção. Depende de uma gestão muito ágil, eficiente e que saiba controlar o peso das inúmeras funções e responsabilidades. No Setor Público também temos metas, controles e indicadores, mas eles são pactuados de acordo com as normativas e leis, e os prazos são mais adequados ao atingimento dos resultados. Temos mais tempo para planejar, organizar e priorizar as ações, pois o objetivo é prestar o melhor serviço à população e não o lucro e alta performance como no privado.

Gestão de pessoas na mesma situação, com uma divergência importante que na iniciativa privada […]

Acho que a iniciativa privada temos mais atividades em menor tempo. No Serviço Público, nós temos todo um regramento de leis e normas que temos que seguir e cumprir e que pode nos deixar um pouco mais lentos no desempenho das atividades […] Mas em ambas as modalidades de trabalho tem outras coisas que são frágeis e que precisam ser melhoradas como a valorização dos profissionais, melhores salários, enfim, plano de cargos e salários (privado), participação em lucratividade (privado) ascensão na carreira (em ambos).[…] poderia ficar falando horas aqui sobre isso […]

[…] Também acho que o serviço público é muito mais voltado às pessoas, e está focado em atender as pessoas e aos relacionamentos interpessoais. Na iniciativa privada tem toda a priorização dos recursos financeiros que por vezes pode se sobrepujar ao pensar o coletivo.

Alisson Maehler: E quais foram os teus principais desafios enquanto gestora e como é que tu os enfrentou?

Isabel Rasia: Os principais desafios… primeiro na iniciativa privada foram dois que eu acho que me acompanharam por esses 30 anos de gestão: foi a gestão de pessoas, e a gestão dos conflitos organizacionais […] procuro sempre olhar toda a história, por todos os lados, antes de tomar um posicionamento, isso é algo muito importante para mim, e que o gestor precisa entender e tomar as decisões cabíveis, que não são fáceis. Assumir seus atos e tentar construir um ambiente ético e de trabalho saudável é importante para mim. Pois entendo claramente que o trabalho é uma parte importante da minha vida, mas não é a mais importante.

Então eu consegui aprender isso muito rápido, de analisar todas as situações, de segurar o tranco na adversidade. Pois nos teus acertos, poucos reconhecem, mas quando se erra, as críticas são duras, são fortes e doídas. Eu consigo suportar bem essas situações, e tento não levar para o lado pessoal. Pois muitos que criticam muito ou todas as tuas ações, não fizeram ou construíram uma carreira sólida e bem sucedida como a minha. Pois eu estou com mais de 30 anos trabalhando como gestora (sendo 20 anos no setor privado e agora mais de 10 no Público), com a gestão de pessoas e para as pessoas, de processos, de recursos, e isso só se constrói sendo competente no que se faz.

Eu estou muito feliz como gestora na UFPEL, me sinto realizada, plena, eu sei qual é o meu papel e o que me compete. Tenho muito apoio e tento construir um bom ambiente de trabalho, com um trabalho em equipe, transparente e dialogado. […]

O que eu aprendi com tudo isso… que ser gestora requer humildade, trabalhar para as pessoas e com as pessoas, que não se detém o conhecimento de todas as coisas e situações, e que precisamos buscar entender em conjunto aos envolvidos, com discussão e diálogo sempre. Mas que cabe a gestão se posicionar, tomar as decisões necessárias e assumir o ônus e o bônus do cargo que ocupa. Fazer as coisas acontecerem no dia-a-dia da melhor forma para todos(as).

[…] Se eu fosse dizer uma qualidade minha […] é ser uma pessoa extremamente determinada e proativa, que consegue resolver problemas e conflitos com facilidade. Não estou dizendo que eu me saio bem em todas as situações, mas não me afeto psicologicamente com elas e isso foi um aprendizado de longos anos. Adoro trabalhar em equipe e aprender sempre.

Alisson Maehler: E quais as principais oportunidades que você teve e foram vivenciadas por ti na gestão, que tu tiveste e aproveitaste?

Isabel Rasia: Eu aproveito todas as oportunidades, isso é uma característica minha. Se tem uma oportunidade por aí e eu vejo que naquilo eu poderia contribuir, poderia desempenhar/fazer bem, ou é um upgrade enquanto profissional, enquanto ser humano que precisa evoluir, eu não vou deixar passar. Eu sou uma pessoa que não perde oportunidades, quando elas aparecem eu analiso a situação: “Isso me faz feliz? Poderia fazer? Eu vou conseguir desempenhar essa função? Eu encaro na hora. Desafios novos me estimulam.

Alisson Maehler: E quais as principais (oportunidades) que tu tiveste nessa área de gestão?

Isabel Rasia: Acho que todas as coisas que construí e que não foram poucas, as mudanças e desafios que encarei, os cargos que eu ocupei e me mantive por longos períodos […] também sou vista dentro da UFPEL, pois fui convidada por duas frentes para compor chapa para Reitoria no passado. Isso mostra que o meu trabalho aparece não só no CCSO, mas também pra toda uma comunidade. Percebo que nossas ações reverberam….. as pessoas comentam “ó lá funciona, lá tem isso, lá é assim” e isso vai tomando uma proporção que a gente não tem conhecimento, só se percebe quando acontecem convites e comentários pelo trabalho realizado. Mas eu estou muito feliz na Direção do CCSO, e aqui ficarei até quando a unidade quiser.

Alisson Maehler: E como é assim, pra ti, ser mulher em cargo de gestão, consegue perceber diferenças ou semelhanças até pelo o que você já falou um pouco no começo, era por ser mais nova, e por ser mulher em cargo de gestão, como é que tu vês isso?

Isabel Rasia: Por ser mulher em cargo de gestão, eu acho que somos mais fragilizadas, não no sentido de competência ou de conhecimento, mas no sentido de que ainda existe um machismo estrutural nessa sociedade que sempre está velado, temos que provar o nosso valor, conhecimento, competência muito mais que um homem no mesmo lugar, […], quando jovem eu só conseguia ser respeitada quando eu mostrava muito conhecimento, ética e muito profissionalismo. A formalidade que trabalho vem disso. Aprendi que a formalidade é uma forma de proteção e que me garante um espaço de discussão.

Alisson Maehler: E você acha que essas barreiras foram diminuindo ao longo do tempo de forma geral?

Isabel Rasia: Sim, diminuíram bastante, hoje a mulher ocupa os cargos que ela quiser concorrer. Ainda existe situações de machismo, existe. […] Mas estamos mostrando nossa competência e visão, com maior facilidade do que a 30 anos atrás.

[…]. Enfim, a gente tem que lutar mais, sempre. A mulher se esforça mais, se esforça para falar a mesma coisa que o homem – para ser realmente ouvida -, as vezes precisa ser muito insistente… […].

Alisson Maehler: E pra finalizar a nossa entrevista, gostaria de deixar algum recado aos nossos futuros gestores ou sobre gestão de forma geral?

Isabel Rasia: […] SIM! Acredite nos seus sonhos, não percam as oportunidades que se apresentarem, se capacitem ao longo do caminho, e coloquem muita dedicação e esforço em tudo o que forem fazer.

Sempre fiquei muito feliz com as minhas conquistas, por menores que fossem, aliás, eu bato palmas pra mim […] me dou um momento de comemoração, pode ser bem pequenininho, porque isso me motiva a seguir em frente. Me permito errar, e tento aprender com os erros. Tento melhorar dentro do possível sempre, busco apoio e trabalhar em parceria com outras pessoas, pois sozinha não se consegue nada.

Nessa minha história até esse momento, tive a felicidade de encontrar pessoas maravilhosas com quem eu trabalhei, aprendi e me ajudaram. Eu adorei todos os locais em que trabalhei, eu não sei se é porque gosto do que eu faço, mas sempre me senti bem no trabalho […].

Francielle Molon: Vou aproveitar pra fazer uma última pergunta, como é que tu dirias ou caracterizarias a Isabel gestora, quem é a Isabel gestora?

Isabel Rasia: A Isabel gestora é uma pessoa que gosta do trabalho que faz, é muito determinada, proativa, que tem uma capacidade de trabalho muito grande […] que gosta de trabalhar com pessoas e para as pessoas, que tem facilidade de resolver conflitos e situações difíceis e é uma pessoa que está sempre aberta a aprender.

Alisson Maehler: e quando se aposentar?

Isabel Rasia: Pois é, eu nem fiz um (plano) pra aposentadoria, eu sou meio “workaholic”, não vislumbro ainda a aposentadoria, mas um dia eu vou ter que me aposentar, a gente envelhece. Mas eu gosto muito do meu trabalho, adoro estar em cargo de gestão e acho que eu faço bem o que eu faço né, é o que sei fazer, é parte de quem eu sou….

Francielle Molon: Então é isso, muitíssimo obrigada!!

Isabel Rasia: Obrigada!!