Mapeamento de periferização em potencial segundo a topografia de Herval, RS

Publicado por Yuri Oliveira Tomberg

Mapeamento de periferização em potencial no município de Herval

O presente trabalho possui como objetivo realizar um estudo topográfico em relação aos eixos e linhas de drenagem da cidade de Herval. Foram realizadas simulações e, posteriormente, a análise das mesmas. Desta maneira, o presente trabalho demonstra os resultados encontrados por meio de mapas de uma suposta periferização em potencial, considerando a topografia.

I. A história de Herval

O nome Herval é originado da erva-mate que era encontrada em abundância nas matas, durante a sua localização, quando a palavra erva era escrita com “h”. Segundo historiadores, seu povoado é um dos mais antigos pertencentes à região Sudeste Rio-grandense. (PREFEITURA DE HERVAL, 2017).

Em 1825 era um distrito subordinado ao município de Jaguarão. Herval emancipou-se deste município apenas em 1881. Sua autonomia política ocorreu pela lei 1326 de 20/05/1881, quando foi possível eleger sua primeira câmara de vereadores (MINISTÉRIO DO TURISMO, 2020).

A grafia foi alterada com o acréscimo da letra “h” pela lei municipal nº 70, em 1972, acolhida em parecer nº 527, em 1982, da Procuradoria Geral do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) (IBGE, 2020). Assim, seus habitantes chamam-se hervalenses.

Figura 1. Brasão de Herval

II. Características de Herval

Herval está localizada a uma latitude 32º01’25” sul e a uma longitude 53º23’44” oeste, estando a uma altitude de 287 metros. A cidade possui uma área de 1757,83 km² e é vizinha dos municípios de Pedras Altas, Arroio Grande e Pinheiro Machado, situando-se a 61 km a Norte-Oeste de Jaguarão, a maior cidade nos arredores (IBGE, 2020).

Sua população, segundo o último Censo realizado pelo IBGE em 2010, era de 6.753 habitantes, sendo considerada menor que 100 atrás. A densidade demográfica era então de 3,84 habitantes por km² no território do município (PREFEITURA DE HERVAL, 2020). Herval possui Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) de 0.687, segundo o Atlas de Desenvolvimento Humano/PNUD (2010) e PIB per capita de R$ 12.915,02 (IBGE, 2020).

Figura 2. Localização de Herval

III. O problema

a) A periferização

A expansão das cidades brasileiras é caracterizada pelos grandes loteamentos oficiais, os quais são destinados aos grupos com maior renda, mas também pelos loteamentos irregulares ou clandestinos, os quais servem de abrigo para os grupos menos favorecidos e em vulnerabilidade. Para o geógrafo MILTON SANTOS (1993), essa seria a definição de urbanização espraiada, termo que configurou um tipo de cidade caracterizada pela periferização, fragmentação e dispersão.

Neste contexto, o conceito de periferia urbana ampliou-se e também se tornou cada vez mais complexo diante da diversidade de características do espaço urbano contemporâneo (SIERRA, 2003). Compreende-se que a periferização é um processo, no qual a edificação de novas áreas residenciais não se deu de forma contínua à malha urbana, mas sim a partir de grandes vazios urbanos:

            “(…) e sobretudo as grandes, ocupam, de modo geral, vastas superfícies, entremeadas de vazios. Nessas cidades espraiadas, características de uma urbanização corporativa, há interdependência do que podemos chamar de categorias espaciais relevantes desta época: tamanho urbano, modelo rodoviário, carência de infraestruturas, especulação fundiária e imobiliária, problemas de transporte, extroversão e periferização da população, gerando, graças às dimensões da pobreza e seu componente geográfico, um modelo específico de centro-periferia.” (SANTOS, 1993).

Dessa maneira, à medida em que a terra urbana é ocupada por atividades comerciais e industriais, ela torna-se cara e escassa, contribuindo assim para a expulsão de populações mais pobres para loteamentos periféricos, além de facilitar a criação de condições desiguais de uso das oportunidades espaciais oferecidas pelas cidades, vinculando a exclusão territorial à exclusão social e econômica (SANTOS, 2017).

b) Acessibilidade sob efeito da Periferização

Sabe-se que domicílios pertencentes às regiões periféricas da cidade ficam mais distantes dos postos de trabalho, os quais estão, em sua maioria, concentrados nas regiões centrais das cidades. Além disso, a localização periférica contribui para o desamparo e a ausência de necessidades básicas, como uma moradia digna, infraestrutura, oferta de trabalho e equipamentos urbanos (BORGES E ROCHA, 2004). Desta maneira, há uma segregação, seja ela imposta ou involuntária (CORRÊA, 2013). A consequência desse processo pode ser observada por meio de níveis de acessibilidade aquém do ideal.

Por sua vez, os reduzidos níveis de acessibilidade repercutem em baixos níveis de mobilidade, os quais influenciam em menor atividade econômica e contribuem para problemas sociais, responsáveis pela exclusão social (MACÁRIO, 2012). Além disso, sendo caracterizada como um desequilíbrio do subsistema de uso do solo, a periferização gera distribuições espaciais distintas entre os indivíduos e as atividades que desejam realizar, sobrecarregando a demanda do sistema de transporte e seus custos. Nesse sentido, ao impactar negativamente no acesso às atividades, a periferização contribuiu para problemas de locomoção (KNEIB, 2014).

c) Como o problema será enfrentado

A periferização contribui semelhante para a percepção acerca da integração entre a produção capitalista e a informalidade e pobreza (ABRAMO, 2007). Neste sentido, a pobreza e a urbanização parecem estar associadas ao desenvolvimento das cidades, mostrando, no meio contemporâneo, novas dinâmicas, as quais atraem atenção de pesquisa e reflexão acadêmica, além de motivar a resolução dos desafios para a gestão das cidades em escalas sem precedentes (POLIDORI, 2014).

O rompimento desse ciclo de pobreza e estagnação econômica é difícil e requer uma política estratégica. Neste contexto, é necessário que os problemas socioeconômicos e ambientais sejam considerados de maneira complexa e conjunta e que a criação e a execução de projetos de desenvolvimento socioeconômico, urbano e ambiental sejam realizadas com a participação de diferentes secretarias (MARQUES, 2005; SANTOS, 2017).

Portanto, torna-se necessário analisar as relações entre o processo de periferização da população e a diminuição da acessibilidade, uma vez que a periferização contribui diretamente a redução da acessibilidade: residentes de áreas periféricas não possuem acesso às atividades realizadas no espaço urbano, fato que impacta, além da segregação social, em maiores custos no que tange à locomoção, por exemplo.

O estudo realizado:

a) A cidade de Herval e sua topografia

A figura 3 considera a área do estudo e, a partir dela, foi possível observar que Herval é uma cidade pequena, a qual possui uma topografia, em sua maioria, bastante irregular.

Foi utilizado o software de georreferenciamento AutoCad Map, bem como o UrbanMetrics para um estudo de topografia em relação aos eixos da cidade.

Figura 3. Cidade de Herval

Figura 4. Topografia de Herval

b) Pontos mais altos da cidade em relação às curvas de nível

            Nesta análise foi possível identificar as regiões mais altas da cidade que coincidem com o término das linhas de drenagem, a qual pode ser observada na Figura 6.

Figura 5. Pontos mais altos de Herval.

c) Linhas de drenagem

              Nesta análise é interessante observar o caminho natural das águas e como elas abastecem a cidade.

Figura 6. Caminho natural das linhas de drenagem de Herval.

d) O mapeamento dos eixos

Nesta análise é possível observar a representação das ruas por meio de eixos, considerando desníveis na topografia, gerando assim uma descontinuidade do eixo.

Figura 7. Eixos de Herval.

e) Demarcação dos eixos alterados

Os eixos modificados em relação a topografia estão demarcados em preto. Foram escolhidos esses eixos por se tratarem dos níveis mais altos da cidade em relação às curvas de nível, ou por alguma mudança de direção delas em relação aos caminhos naturais das linhas de drenagem.

As curvas de nível são representações do relevo produzidas por meio da utilização de linhas imaginárias (altimétricas, quando estão na superfície, batimétricas, quando estão abaixo do nível do mar). Assim, elas representam na superfície plana os desníveis e a declividade topográfica.

Neste estudo, é importante observar que, quanto mais as curvas de nível estão afastadas, menor é a declividade, ou seja, menos íngreme é o terreno. Por outro lado, quanto mais próximas, maior é a declividade do local.

Figura 8. Alteração dos eixos mediante à topografia de Herval.

f) Resultado final

Sem considerar a topografia observamos que os eixos em amarelo mais forte significam uma maior potencialidade das periferias em relação a cidade (Figura 9). Observamos que não houve nenhuma descentralização em relação à acessibilidade em relação à cidade, e que as áreas já povoadas apresentam maior potencialidade. O centro continua como foco principal.

Figura 9. Resultado final do estudo sem considerar a topografia.

Para a medida de acessibilidade, o resultado final demonstrou o mapeamento de periferização em potencial (Figura 10). As linhas mais grossas representam a possível esta possível periferização em potencial.

Figura 10. Resultado final do estudo, considerando a topografia.

V. Conclusão

Por meio deste estudo, foi possível observar que a cidade de Herval, assim como a maioria das cidades brasileiras, também sofre com as consequências do urbanismo contemporâneo, uma vez que a pobreza e a urbanização parecem estar associadas. Os resultados evidenciam a falta de gestão no que tange ao desenvolvimento socioeconômico e também ambiental da cidade.  Neste sentido, o investimento em estratégias para o melhor mapeamento urbano, evitando áreas segregadas, resultarão em melhor qualidade de vida para a população e maior desenvolvimento econômico da cidade.

As novas possíveis periferias poderiam gerar novas infraestruturas, novas rotas de locomoção, influenciando na criação de uma nova potência, com oportunidade de trabalho, comércio, entre outros recursos, desafogando assim a parte principal da cidade: o centro urbano.

VI. Referências

ABRAMO, P. A cidade Com-Fusa: a mão inoxidável do mercado e a produção da estrutura urbana nas grandes metrópoles latino-americanas. Revista Brasileira de Estudos Urbanos e Regionais, 9(2), 25-54, 2007.

 

BORGES E ROCHA. A Compreensão do Processo de Periferização urbano do brasil por meio da mobilidade centrada no trabalho. Geografia, rio claro, v. 29, n. 3, p.383-400, set/dez 2004.

 

CAPEL, Horacio. Capitalismo y morfología urbana en España. 4a ed. Barcelona: Ediciones de Frontera, 1983.

 

CORRÊA, R. L. Segregação residencial: classes sociais e espaço. In: In: Pedro de Almeida Vasconcelos; Roberto Lobato Corrêa; Silvana Maria Pintaudi. (Org.). A cidade contemporânea. Segregação Espacial. 1ed.São Paulo: Contexto, v. 1, p. 39-60, 2013.

 

IBGE: BIBLIOTECA. Herval, Rio Grande do Sul. 2020. Disponível em: https://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/dtbs/riograndedosul/herval.pdf.

 

KNEIB, E. C. Mobilidade e centralidades: reflexões, relações e relevância para a vida urbana. In E. C. Kneib (Org.), Projeto e cidade: centralidades e mobilidade urbana. Goiânia: FUNAPE, 2014.

 

MACÁRIO, R. Access as a social good and as an economic good: is there a need of paradigm shift? Bellagio, Italy, 2012.

 

MINISTÉRIO DO TURISMO: Secretaria de Desenvolvimento Econômico e Turismo. Municípios não regionalizados: Herval. Disponível em: https://www.turismo.rs.gov.br/cidade/435/herval#sobre.

 

HERVAL (RS). Prefeitura. Disponível em: http://www.herval.rs.gov.br/historico/. Acesso em: 02 jul. 2017.

 

BGE (10 out. 2002). «Área territorial oficial». Resolução da Presidência do IBGE de n° 5 (R.PR-5/02).

 

SANTOS, Milton. Urbanização brasileira. São Paulo: Hucitec, 1993.

 

SANTOS et al. O lugar dos pobres nas cidades: exploração teórica sobre periferização e pobreza na produção do espaço urbano Latino-Americano. urbe. Revista Brasileira de Gestão Urbana (Brazilian Journal of Urban Management), 2017 set./dez., 9(3), 430-442.

POLIDORI, M. C., PERES, O. M., & TOMIELLO, F. (2014). Efeito de borda urbano, concentração, exclusão e irregularidade. Projectare: Revista de Arquitetura e Urbanismo, (6), 108-120

 

MARQUES, E; TORRES, H. Segregação, pobreza e desigualdades sociais. São Paulo. Senac São Paulo, 2005.