DEPOIMENTO DE UMA CUIDADORA FAMILIAR

“Sempre tive esse dom de cuidar os outros, as vezes fizemos deste cuidar o que o sentimento nos faz envolvidos pela dor e sofrimento daqueles que tanto amamos e realmente esquecemos de nós mesmos. A sobrecarga emocional é muito grande, ou queremos fazer tudo sozinhos, com a melhor qualidade de vida para o doente. Ou as vezes somos abandonados pelos outros familiares, pois caem fora das responsabilidades e esquecem que qualquer ser humano tem suas fragilidades. Hoje eu cuido do outro, amanhã eu vou precisar de cuidados se eu não me cuidar em todos os aspectos. Depois que recebi orientação do Projeto de Extensão “Um olhar sobre o cuidador familiar: quem cuida merece ser cuidado”, consegui me organizar e amenizar bastante o cuidado com o ente querido, com este apoio. Gostaria de poder ajudar as pessoas que passam com seus familiares o que passei. Já me ofereci em vários lugares, para de alguma forma passar experiência da qual eu eu experimentei ao longo da enfermidade da minha querida mãe. Depois de sua partida, já cuidei dois pacientes sem nenhum vínculo familiar, mas o amor é o mesmo. Porque todo o ser humano está sujeito a passar por uma enfermidade. Então faz aos outros o que gostarias que fizeste para ti. Este é o meu lema. Beijos”. Graça Tavares Borck

Privações sociais, pessoais e ocupacionais em cuidadores familiares

Deparar-se com um familiar doente, não é algo desejado, nem algo pensado antes da situação acontecer. Entretanto, essa realidade pode ocorrer ao longo do ciclo natural da vida. Nessas circunstâncias, entra em cena o cuidador familiar. Um cuidador familiar é aquela pessoa próxima do enfermo que se responsabiliza pelos cuidados, tanto de cunho físico, como banhos, trocas de roupas, administração de medicações e outros procedimentos técnicos que podem ser realizados por cuidadores; como também, demais cuidados que envolvem aspectos mais burocráticos, como idas e vindas aos serviços de saúde, acesso a medicações, receitas, internações. Embora nem sempre aconteça, o cuidado pode ser compartilhado com mais de uma pessoa.

Por vezes, o cuidador familiar acaba mudando totalmente sua rotina, visando o atendimento das necessidades do doente. Em algumas situações, deixa o emprego (demissão, férias, licença-saúde), deixa de realizar visitas aos amigos, abdica do lazer no final de semana. Na maioria dos casos, há apenas um cuidador, porque não há outra pessoa que possa assumir essa tarefa, ou o cuidador acha que não deve solicitar ajuda. Outra questão, comum nas famílias, está relacionada aos limites financeiros, uma vez que contratar cuidadores acaba pesando no orçamento mensal.

O doente é o foco das atenções, contudo, além dele existe o cuidador, que deixou seu emprego, seus amigos, seus passeios, sua rotina e o cuidado consigo mesmo, para realizar cuidados com o próximo. Perguntas ao cuidador, que podem levar a essa reflexão são: quando foi a última vez que você realizou exames para prevenção de sua saúde? Quantas vezes no mês você dedicou um momento para si?

O cuidador acaba se privando de atenção consigo mesmo, porque pensa que poderá ser julgado por queixar-se da tarefa de cuidar. Portanto, os cuidadores precisam buscar espaços e atividades para si, delegando o cuidado a outro membro da família, pelo menos, uma vez por semana, a fim de encontrar amigos, desenvolver uma atividade de lazer, relaxar, espairecer. Tal movimento pode evitar que o cuidador venha a tornar-se um segundo paciente.

Autores: Melissa Hartmann1; Fernanda Eisenhardt de Mello1; Stefanie Griebeler Oliveira2; Franciele Roberta Cordeiro2; Adrize Rutz Porto2

  1. Acadêmicas da Faculdade de Enfermagem da Universidade Federal de Pelotas (UFPEL).
  2. Professoras da Faculdade de Enfermagem/UFPEL

Lian Gong: prática terapêutica corporal

O Lian gong consiste em:

-técnica terapêutica e de cultura física, que permite o movimento pleno e harmonioso do corpo.

-O conjunto de exercícios são direcionados à prevenção e tratamento de dores no pescoço, ombros, cintura, pernas, entre outras doenças crônicas.

-A técnica está ligada a antigos exercícios terapêuticos, artes guerreiras tradicionais, técnicas de massagem e manobras manuais aos conhecimentos da medicina moderna e atual. Mobiliza o Nei jing (força interna) e ajuda a obter a percepção sensorial do Qi (energia) (YAEDU, 2007).

Nei jing não pode ser visto, mas sentido.

Ele em movimento gera calor, ardume, cansaço na região trabalhada, indicando a atuação terapêutica de desbloqueamento do Qi e Xue.

Esta prática é ofertada na Unidade Cuidativa, nas quintas-feiras as 17:10. Não precisa de agendamento, pois a prática em grupo. O enderenço da Unidade Cuidativa é na Av. Duque de Caxias, 112 (antiga Laneira).

Para acessar um vídeo da prática realizada lá, clique em: https://www.youtube.com/watch?v=vPqMhNwxfZQ

Referências

Yaedu SY. Curso de Atualização em Lian Gong. Porto Alegre: Faculdade Colégio Brasileiro de Estudos Sistêmicos (CBES), 2007.

A sobrecarga do cuidador familiar no cuidado domiciliar

A necessidade de um cuidador familiar no domicílio, atualmente, é bastante presente na sociedade, especialmente quando há algum membro da família doente em acompanhamento por equipes da atenção domiciliar. Tal fato deve-se ao aumento da expectativa de vida nos últimos anos. Esse fenômeno impacta na qualidade de vida de adultos e idosos, que necessitam cada vez mais de cuidados devido o aumento das doenças crônicas.

As pessoas que se disponibilizam para realizar o cuidado no domicílio, por vezes, possuem pouco acesso às informações e capacitações. Quando isso ocorre, antes de uma alta hospitalar, por exemplo, pode haver dificuldade de entendimento de todas as informações fornecidas acerca do cuidado a ser prestado, uma vez que o possível cuidador está assimilando as notícias sobre a doença e a situação do paciente, refletindo sobre como será a (re)organização para o cuidado domiciliar. Assim, a transformação na vida do novo cuidador faz com que ele tente se adaptar a rotina e aos encargos do dia a dia, relegando a segundo plano o cuidado de si.

Com isso, a qualidade de vida do cuidador é afetada, envolvendo fatores como a saúde física, o estado psicológico, os níveis de independência, os relacionamentos sociais, o padrão espiritual, entre outros, implicando em diferentes tipos de sobrecargas. Estudos recentes indicam três principais tipos de sobrecargas que afetam a qualidade de vida dos cuidadores: a física, a emocional e a social.

A sobrecarga física refere-se a grande demanda de cuidados prestados ao paciente, que exige esforço físico e muitas horas do dia para o cuidado. Por exemplo, pode-se destacar atividades como levar ao banheiro, fazer mudanças de posição no paciente acamado, entre outras. A sobrecarga emocional trata do apoio que o cuidador presta a pessoa que está sendo cuidada. Em algumas situações, o adoecimento faz com que o estado psicológico do familiar seja afetado. Por último, a sobrecarga social se torna nítida, quando o cuidador começa a deixar de lado questões como o trabalho, o convívio com a família e os amigos por falta de tempo livre.

As três sobrecargas citadas não são explícitas nos cuidadores, por que esses não se sentem confortáveis em admitir o excesso de trabalho que estão passando. Fontes de apoio, suporte e a realização de pesquisas são essenciais para achar meios de aliviar a sobrecarga das pessoas que fornecem o cuidado, evitando que o cuidador se torne um segundo paciente.

Autores: Fernanda Eisenhardt de Mello1; Melissa Hartmann1; Stefanie Griebeler Oliveira2; Franciele Roberta Cordeiro2; Adrize Rutz Porto2

  1. Acadêmicas da Faculdade de Enfermagem da Universidade Federal de Pelotas (UFPEL).
  2. Professoras da Faculdade de Enfermagem/UFPEL

 

Não tenho medo da morte – Gilberto Gil

 

Não tenho medo da morte
Mas sim medo de morrer
Qual seria a diferença
Você há de perguntar
É que a morte já é depois
Que eu deixar de respirar
Morrer ainda é aqui
Na vida, no sol, no ar
Ainda pode haver dor
Ou vontade de mijar

A morte já é depois
Já não haverá ninguém
Como eu aqui agora
Pensando sobre o além
Já não haverá o além
O além já será então
Não terei pé nem cabeça

Nem fígado, nem pulmão
Como poderei ter medo
Se não terei coração?

Não tenho medo da morte
Mas medo de morrer, sim
A morte e depois de mim
Mas quem vai morrer sou eu
O derradeiro ato meu
E eu terei de estar presente
Assim como um presidente
Dando posse ao sucessor
Terei que morrer vivendo
Sabendo que já me vou

Então nesse instante sim
Sofrerei quem sabe um choque
Um piripaque, ou um baque
Um calafrio ou um toque
Coisas naturais da vida
Como comer, caminhar
Morrer de morte matada
Morrer de morte morrida
Quem sabe eu sinta

Minicurso: Tecnologias de Cuidado para Estimular o Cuidado de Si no Cuidador Familiar na Atenção Domiciliar

No dia 06 de dezembro de 2017 foi realizado o minicurso intitulado “Tecnologias de Cuidado para Estimular o Cuidado de Si no Cuidador Familiar na Atenção Domiciliar” durante a Semana Acadêmica de Enfermagem da Universidade Federal de Pelotas. O minicurso foi organizado a partir das práticas realizadas pelo projeto de extensão “Um olhar sobre o cuidador familiar: quem cuida merece ser cuidado”, o qual foi financiado pelo PROEXT-2016.

Quem tiver interesse em receber o minicurso, sejam os interessados grupos de cuidadores, ou serviços de saúde, podem entrar em contato com o e-mail: stefaniegriebeleroliveira@gmail.com

Caso você tiver interesse em ler um pouco mais sobre as publicações oriundas do Projeto, acesse os links abaixo:

Práticas de si de cuidadores familiares na atenção domiciliar: https://www.revistacuidarte.org/index.php/cuidarte/article/view/429/811

Estratégias de abordagem ao cuidador familiar: promovendo o cuidado de si: http://revistas.ufpr.br/extensao/article/view/51685

Espiritualidade, religiosidade e terminalidade: temas possíveis nas visitas domiciliares realizadas a cuidadores
familiares: http://www.ojs.ufpi.br/index.php/reufpi/article/view/5800/pdf

Eu cuido do outro e quem cuida de mim?

 

Quando nos deparamos com alguma situação que nos exige redirecionar os holofotes que, por momentos, tínhamos focados em nós, fica difícil compartilharmos dessa luz com o outro sem que abramos mão da iluminação própria por aquela pessoa, que parece precisar tanto. Frequentemente, acabamos esquecendo de nós mesmos em função do cuidar do outro, nos esquecemos que também precisamos de cuidado, carinho, atenção, que também somos seres passíveis de adoecimento, de tristezas, aborrecimentos, estresses, fadigas, de necessidades humanas. A partir disso, nos vemos em um ciclo, o qual parece não ter ponta ou começo, um ciclo que muitas vezes, ao nosso ver, pode não ter fim, frequentemente nem sabemos ao certo como e quando começou. Neste fluxo, nos vemos perdendo quem sempre esteve conosco, seja em momentos difíceis ou não, felizes ou tristes, acabamos perdendo a nós mesmos, nos despersonificando, nos esquecendo. Mesmo fazendo parte da relação e do convívio com o outro, o cuidado precisa ser reavaliado, equilibrado, dimensionado. Mesmo diante de tanta sobrecarga, momentos difíceis, escolhas, culpas, fragilidades e potencialidades, e dúvidas, se faz necessário que o olhar promovido ao outro equivalha àquele que dispenso e invisto em mim mesmo. É importante que haja a percepção de que eu também preciso de amor, de compreensão, de abraço, de afago, de cuidados. Eu cuido do outro e quem cuida de mim? Como poderei ser capaz de cuidar de forma efetiva do outro se eu não cuidar efetivamente de quem eu sou? Há uma relação intrínseca entre a qualidade do cuidado provido a alguém e a atenção que direciono a mim. Por um lado, parece que se está acrescentando mais atividades em cima dos ombros de quem já carrega tanto. Por outro, muito disso pode ser aliviado quando a gente cuida de si, se conhece, se ama, se protege, se cuida. Muito dessa situação pode ser aliviada, ser mais prazerosa, quando direciono o holofote a quem eu sou, a mim mesma, e faço com que a luz dele atravesse barreiras e abrace quem é tão bem quisto por mim.

Autoria: Silvia Francine Sartor; Stefanie Griebeler Oliveira.