A FOTO DO MÊS

"...consagrou a indústria do pêssego como marco socioeconômico em toda a região."

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Na fotografia vê-se em primeiro plano três homens trajando terno e gravata, dois deles usam óculos, juntamente com uma mulher que porta um vestido branco rodado. Todos os personagens do primeiro plano encaram uma exposição de diversas variedades de pêssegos, o que se identifica em razão da variação de tons de cinza e texturas dessa foto em preto e branco. Esse acontecimento deu-se na Feira Nacional do Pêssego, a FENAPÊSSEGO em 1973. No plano de fundo outros personagens, em sua maioria homens vestindo terno e gravata, disputam o campo de visão, alguns apenas observam a cena, enquanto que outros fotografam os personagens principais, dentre eles, aquele que é o centro das atenções da feira, o próprio pêssego. No plano intermediário, um adolescente vestindo uma camisa estilo “polo” listrada e calças “boca-de-sino" chama atenção na imagem por seus trajes que destoam dos demais, porém, sobretudo, destaca-se por seu olhar de curiosidade e admiração em relação aos personagens do primeiro plano.

A FENAPÊSSEGO teve sua primeira edição em dezembro de 1973, tendo sido promovida por meio de uma parceria entre a municipalidade de Pelotas-RS e a Associação Gaúcha dos Produtores de Pêssego, na figura de seu presidente à época Waldemar Fischer. Assim como outras feiras, a exemplo da Festa da Uva de Caxias do Sul, a FENAPÊSSEGO foi uma espécie de ápice das edições de outros eventos agroindustriais que aconteciam desde 1956 na região.

A FENAPÊSSEGO contou com boa repercussão na mídia. Um exemplo foi a nota na coluna social do periódico carioca “Correio da Manhã” do dia 7 de dezembro de 1973 que destacava o acontecimento na cidade. O jornal evidenciou a ambição do evento “[...] cujos promotores pelos preparativos desejam que a promoção se transforme em acontecimento que marque época naquela cidade gaúcha e se torne uma das maiores festas do ano no estado e com repercussão no país e exterior.” A nota ainda falava sobre outros aspectos do evento, que evidenciam o espírito que até hoje move sua sucessora, a FENADOCE: “O interesse de incrementar o turismo no Brasil, estimula iniciativas de festividades populares, sobretudo enquanto traduzem um fator de desenvolvimento produtivo e de intercâmbio socio-econômico e financeiro como cultural”.

O evento demonstra a centralidade do pêssego para a consolidação da tradição doceira de Pelotas e região, seja como matéria-prima nas fábricas com características mais artesanais e familiares da zona rural - que tiveram seu apogeu entre as décadas de 1950 e 1960 -, ou em âmbito urbano, onde a agroindústria floresceu entre 1960 e 1970, com um caráter fortemente industrial. Nesse período, as safras e as linhas de produção geravam milhares de empregos. Tal contexto consagrou a indústria do pêssego como marco socioeconômico em toda a região.

A foto em destaque pertence ao acervo permanente do Museu do Doce do Instituto de Ciências Humanas da Universidade Federal de Pelotas, tendo recentemente ingressado na coleção a partir da doação efetuada por

Claudiomar Fischer

, no mês de junho de 2019. Uma foto, muito conhecimento e muita história. Fiquem atentos e aqui todo mês aprenderemos um pouco mais sobre o passado das tradições doceiras de Pelotas e Região. A FOTO DO MÊS é um projeto do Museu do Doce que iniciou em abril de 2019 e tem como objetivo destacar imagens do acervo preservado, com breve contexto histórico, de modo a divulgar ao público maior conhecimento sobre as tradições doceiras da região.