A FOTO DO MÊS

"...uma das mais famosas empresas do gênero que existiu em Pelotas"

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A presente fotografia em preto e branco traz em primeiro plano, atrás do balcão de uma confeitaria, um homem vestindo terno e gravata. O móvel esconde o corpo do retratado, podendo-se ver apenas parte do torso e do seu rosto com um fino bigode. Outras quatro pessoas estão retratadas nessa cena, também atrás do balcão. Ao fundo, sobre as prateleiras do estabelecimento, encontram-se os produtos comercializados na confeitaria, expostos em bombonières, vasos e jarros de vidro.
A Confeitaria Nogueira foi fundada em 1899, pelo imigrante português Antônio Nogueira, que mais tarde firmou sociedade com seu irmão, Manuel. O estabelecimento manteve suas atividades na rua XV de novembro, em Pelotas até o ano de 1982. Anúncios veiculados pela empresa em periódicos locais mostram que além dos doces a Nogueira também comercializava ingredientes diversos para confeitaria, muitos oriundos da Europa, desde as primeiras décadas do século XX. Lê-se em um desses anúncios, divulgado em 1921: "Importação direta de artigos para confeitaria, bem como outros para armazém, recomendando-se Café moído e açúcar refinado" (sic). Além disso, de acordo com informações da pesquisadora Adriane Pires Rodrigues Ramires a Confeitaria Nogueira anunciava dispor de “peritos doceiros e confeiteiros, aceitando qualquer encomenda”.
O empreendimento também deixava transparecer seu orgulho em anúncios na imprensa da época ao divulgar a comercialização de bebidas finas e importadas. Para quem dispusesse da então restrita tecnologia de telefonia a fio, bastava chamar o nº 44 para, quem sabe, confirmar a disponibilidade da champanha Charles Heidicck, ou do licor Chartreux, por exemplo. Os “reclames” da Nogueira também serviram para evidenciar a evolução dessa tecnologia e de seu acesso: se antes de 1919 o número de telefone para contato era 44, em 1921, já com a CTMR em pleno funcionamento na cidade, era preciso chamar quatro números: 26 e 43.
Essa celebração de uma empresa orgulhosa de si não era por acaso. De acordo com o pesquisador Leonil Martinez, a Confeitaria Nogueira foi provavelmente uma das mais famosas empresas do gênero que existiu em Pelotas, tendo seus doces sido comercializados em cidades como Porto Alegre, Montevidéu, Buenos Aires e Rio de Janeiro, graças a então jovem conexão aérea que interligava Pelotas a esses grandes centros. Tal feito deu a seus produtos o título de “os doces que mais viajam no Brasil”, enunciado impresso nas embalagens dos próprios.
As confeitarias de Pelotas na época eram, sobretudo, espaços de sociabilidade. Em estabelecimentos como a Confeitaria Nogueira o cotidiano da cidade se retroalimentava. Amizades, negócios e relacionamentos poderiam ser feitos e desfeitos ao sabor dos acontecimentos e dos doces.
A foto em destaque pertence à coleção permanente do Museu do Doce do Instituto de Ciências Humanas da Universidade Federal de Pelotas. Esse documento ingressou no acervo da instituição no ano de 2016, em doação realizada pela familiar dos fundadores, senhora Norma Nogueira.
Uma foto, muito conhecimento e muita história. Fiquem atentos e aqui todo mês aprenderemos um pouco mais sobre o passado das tradições doceiras de Pelotas e região. A FOTO DO MÊS é um projeto do Museu do Doce que iniciou em abril de 2019 e tem como objetivo destacar imagens do acervo preservado, com breve contexto histórico, de modo a divulgar ao público maior conhecimento sobre as tradições doceiras da região.