A FOTO DO MÊS
"...a colheita do pêssego era o ponto alto da safra agrícola em Pelotas"
Ouça a Audiodescrição: https://soundcloud.com/museu-do-doce-ufpel/junho-definitivo
A fotografia em preto e branco destaca seis trabalhadores da zona rural de Pelotas, sendo que quatro deles são homens e estão posicionados ao lado mais à esquerda da foto. Um deles guia um carro de boi enquanto os demais transferem pêssegos de cestos de vime para sacos. Do outro lado uma menina e senhora, negras, portam cestos. Os retratados na imagem estão em sua maioria descalços e a cena é emoldurada por pessegueiros sem flores.
Os trabalhadores e trabalhadoras rurais, no anonimato de suas jornadas laborais, moviam uma parte importante da agricultura e indústria alimentícia da Pelotas do passado. Esses agricultores colhiam pêssegos, fruta não típica da região de Pelotas dado suas origens asiáticas, mas que, na Serra dos Tapes, chegou pelas mãos dos europeus aqui instalados e encontrou um ambiente de fácil adaptação. Num desses acontecimentos que une biologia, história e cultura, o pêssego é, até os dias de hoje, uma fruta central para as tradições doceiras locais. É certo que desde os primórdios do século XIX a cultura do pêssego já havia sido introduzida em Pelotas, uma vez que o botânico Auguste Saint-Hilaire em seu Voyage à Rio Grande do Sul (Brésil) 1820-1821 descreveu pomares dessa fruta na cidade.
Com o passar dos anos, na década de 1960 (provável data da foto), a colheita do pêssego era o ponto alto da safra agrícola em Pelotas e região, uma vez que, a fruta no seu limite de maturação (entre novembro e dezembro), tendia a cair no pomar e isso poderia gerar prejuízos ao produtor. Essa dinâmica gerava a necessidade de mão-de-obra sazonal. Dentre os trabalhadores com habilidade para o tamanho desta tarefa encontravam-se colonos que, na maioria das vezes, não possuíam terras suficientes para o cultivo de pomares, porém, detinham experiência para a realização desse trabalho. Dessa atividade participavam homens, mulheres, crianças e idosos. Os homens ficavam com as tarefas mais pesadas, tais como acomodar em sacos o pêssego colhido e, posteriormente, transportá-los em carroças ou carretas até as propriedades rurais, para classificá-los e, em seguida, carregá-los em caixas para a indústria, em um processo realizado várias vezes ao dia. Nessa mesma época se dava a entrega do pêssego para a indústria que era feita também por meio de carroças ou em carretas, que possuíam o fundo e as laterais forrados com palha. Posteriormente, as indústrias passaram a recolher o pêssego diretamente na propriedade rural.
Após a classificação, as frutas eram colocadas em caixas de madeira para o transporte até a fábrica. A escassez de caixas e as condições das estradas coloniais eram fatores que comprometiam a qualidade e o tempo de entrega do pêssego nas fábricas. A comercialização do produto com a indústria, já classificado como de primeira, segunda ou terceira, se processava diretamente entre o produtor e as empresas, sem que houvesse, na maioria das vezes, documentos ou contratos assinados pelas partes.
A foto em destaque pertence ao acervo permanente do Museu do Doce do Instituto de Ciências Humanas da Universidade Federal de Pelotas. Uma foto, muito conhecimento e muita história. Fiquem atentos e aqui todo mês aprenderemos um pouco mais sobre o passado das tradições doceiras de Pelotas e região. A FOTO DO MÊS é um projeto do Museu do Doce que iniciou em abril de 2019 e tem como objetivo destacar imagens do acervo preservado, com breve contexto histórico, de modo a divulgar ao público maior conhecimento sobre as tradições doceiras da região.