EXPOSIÇÕES
PERCURSOS REMOTOS, TRADIÇÃO E MEMÓRIA NAS FÁBRICAS DE DOCE EM CONSERVA DE PELOTAS-RS
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O objeto dessa exposição virtual são as indústrias produtoras de doces em conserva da zona urbana de Pelotas-RS. Nela apresentamos empreendimentos fabris surgidos desde o final do século XIX e que somam um total, até agora catalogado, de 47 empresas. Considera-se nesse número tanto aqueles empreendimentos com atividades encerradas, como também os que estão ainda em funcionamento. Esse conjunto de fábricas apresenta uma grande relevância, para além de suas funções produtivas e como referências no espaço urbano, pois são elementos fundamentais que justificam, em conjunto com outros fatores, a inscrição da tradição doceira de Pelotas como Patrimônio Cultural Imaterial do Brasil.
A indústria conserveira local, com origens nas tradições doceiras coloniais, teve importante participação no processo de popularização da cidade de Pelotas como “Capital do Doce”. É simbólico o exemplo da FENAPÊSSEGO, feira realizada na década de 1970 por produtores e empresários locais, e considerada embrionária para o surgimento da atual FENADOCE - evento que em 2019 recebeu duzentos e quarenta e seis mil visitantes e comercializou mais de um milhão de doces. A história econômica, social e cultural local está atravessada pelo surgimento, consolidação, e também pelos desafios vividos por esse coletivo de empreendimentos.
O pêssego é uma fruta de destaque dentre os vários tipos de doces de conserva. Cultura introduzida no final do século XIX na região da Pelotas colonial, adaptou-se ao clima temperado e revelou-se muito propícia para uso como matéria-prima do setor conserveiro, já desde seus primórdios. No entanto, a sazonalidade do insumo levou as empresas locais a diversificarem sua produção, o que fez com que doces de frutas como figo, morango, abacaxi, dentre outras, se tornassem também bastante populares.
A indústria conserveira é uma realidade presente no cotidiano de Pelotas e cidades próximas. As várias décadas de sua história são testemunho de altos e baixos. Muitas empresas fecharam suas portas, outras abriram ou ampliaram seus negócios. Gerações inteiras de famílias constituíram suas vidas em torno dessas oportunidades de trabalho. O doce em conserva é elemento frequente nas mesas locais, e ao ser amplamente comercializado no país e no exterior, divulga assim a imagem do município.
Sobre a exposição: reinvenção na pandemia.
Essa mostra tem como ponto de partida fundamental o trabalho do pesquisador Alcir Nei Bach, com destaque para sua Tese de Doutorado intitulada “Patrimônio Agroindustrial: Inventário das fábricas de compotas de pêssego na área urbana de Pelotas (1950-1990)”, cujos textos das geomarcações da exposição estão todos direta ou indiretamente nela baseados, além de outros materiais. Bach realizou um trabalho único de registro memorial a respeito desse panorama de empreendimentos que marcou a história social, econômica e cultural da região.
A proposta de uma exposição virtual sobre essa temática oferece ao visitante a possibilidade de geolocalizar às fábricas já listadas em pesquisas, mas também proporciona, por meio do passeio virtual, informações de referência, aspectos históricos e imagéticos sobre o tema. As marcações contam com um breve histórico de cada estabelecimento em questão, além de fotos e outros materiais que compõem parte do acervo do Museu do Doce da UFPel.
A organização da presente exposição virtual nasce das demandas culturais que emergem na atual sociedade pandêmica, com os limites operacionais enfrentados pelo Museu do Doce durante a vigência das medidas preventivas contra a contaminação pelo Covid-19. Apesar de o museu ter suas portas temporariamente fechadas ao público, suas atividades continuam em andamento. Nesse contexto, ampliam-se as formas com a qual a instituição ocupa os espaços virtuais, e essa exposição foi assim a oportunidade de organização da primeira mostra virtual do museu. Esse trabalho acompanha um momento histórico em que as instituições de memória do mundo inteiro se reinventam por meio do restabelecimento de vínculos culturais e afetivos com seus públicos, a partir de caminhos não convencionais.
O Museu do Doce é uma instituição cultural presente no cotidiano da cidade de Pelotas e essa mostra revela o desejo de assim continuar, mesmo nesse momento de adversidade. O doce de Pelotas, nas suas diversas manifestações como patrimônio imaterial, é algo comunicável tanto nos metros quadrados de uma sala expositiva, como também pelos arranjos e rearranjos numéricos que geram textos e estímulos sensoriais e sonoros diversos e, ao fim, narrativas que circulam na web, e que aqui se virtualizam nessa geografia local do doce em conserva convertida em exposição.