A FOTO DO MÊS
"... a doceira mais antiga em atividade nesse ramo"
Ouça a Audiodescrição: https://soundcloud.com/museu-do-doce-ufpel/tudneldaok
Na foto colorida, Dona Zilda, uma senhora aparentando seus 70 anos, porta óculos de grau, jaleco e boné brancos. Ela olha para o expectador enquanto mexe com uma colher de metal uma massa para o preparo de um doce em pasta que se encontra dentro de um tacho de aço inoxidável. A família de Tusnelda Klasen Sias, conhecida como Dona Zilda, nascida em 1929, produzia passas de pêssego. Sua mãe aprendeu a preparar essa iguaria com uma família vizinha na localidade de Santo Amor, que se encontra no atual município de Morro Redondo-RS. Nesse lugar, Dona Zilda e seus seis irmãos nasceram e cresceram, envolvidos com lidas domésticas e reuniões públicas nos finais de semana, quando comercializavam doces e cucas produzidos pela família. Em entrevista concedida para a realização do Dossiê de Registro da Região Doceira de Pelotas e Antiga Pelotas do IPHAN (2018), Dona Zilda relatou que, inicialmente, seus pais não produziam doces, dedicando-se apenas à lavoura. Foi a partir da disponibilidade de sua mãe em trabalhar voluntariamente com a família Cruz, na produção dos doces, que este saber fazer agregou-se às suas atividades cotidianas. Por dois anos sua mãe trabalhou com essa família para aprender a fazer pessegada, passa de pêssego e marmelada branca, passando, posteriormente, a arriscar-se na produção de doces cristalizados e na criação de outras receitas: “estragava uma tachada, acertava outra, e assim ia indo”. Nos tempos de mocidade, em Santo Amor, Dona Zilda, além de trabalhar como costureira, aprendeu a fazer doces com a mãe, em pequenos tachos de cobre. As frutas eram descascadas à mão por toda a família e cozidas num pequeno galpão, nos fundos da casa, onde estava instalado um fogão à lenha e outros utensílios tais como colheres de pau e dois tachos. As passas de pêssego, pessegadas, goiabadas, além de cucas e pães, também eram vendidas aos clientes provenientes do meio urbano que, aos finais de semana, visitavam a colônia. Após casar-se, Dona Zilda mudou-se para o bairro Fragata, em Pelotas. Em 1943, ela e o marido fundaram a fábrica de doces que leva seu nome, Dona Zilda. Nas duas primeiras décadas após a implantação do comércio, seus doces eram vendidos de acordo com as encomendas, tal como faziam as doceiras da época. Posteriormente, a empresa aderiu à mecanização da produção, inserindo tachos de aço inoxidável, despolpadeiras e caldeiras. Embora tenha obtido destaque com os doces de massa e em pasta, Dona Zilda também teve projeção com seus doces cristalizados. Quando entrevistada, em 2007, Zilda era considerada a doceira mais antiga em atividade nesse ramo, tendo participado de diversas edições da FENADOCE. Faleceu em 2010, deixando três filhos. A foto em destaque pertence ao acervo da CDL/Pelotas e encontra-se em empréstimo e preservada no Museu do Doce, do Instituto de Ciências Humanas da Universidade Federal de Pelotas. Uma foto, muito conhecimento e muita história. Fiquem atentos e aqui todo mês aprenderemos um pouco mais sobre o passado das tradições doceiras de Pelotas e da antiga Pelotas. A FOTO DO MÊS é um projeto do Museu do Doce que iniciou em abril de 2019 e tem como objetivo destacar imagens do acervo preservado, com breve contexto histórico, de modo a divulgar ao público maior conhecimento sobre as tradições doceiras da região.