Por Felipe Soares
Por meio do porta-voz da presidência, Jair Bolsonaro (PSL) determinou ao Ministério da Defesa que faça as “comemorações devidas” no dia 31 de março pelos 55 anos do golpe que iniciou a ditadura militar brasileira em 1964. No Twitter, diversas manifestações utilizaram #DitaduraNuncaMais como forma de protesto ao posicionamento de Bolsonaro, assim a hashtag esteve entre os trending topics durante o dia 26 de março – um dia após a declaração de Bolsonaro. Foram coletados tweets que utilizaram a hashtag até o meio dia de 26 de março para observar as características das manifestações a partir de um recorte da rede. Abaixo está a representação da conversação no Twitter a partir deste recorte, com destaque para os usuários que receberam mais RT em suas mensagens nos dados coletados.
A rede de conversação sobre #DitaduraNuncaMais tem como característica o alto número de RT. A grau médio da rede é 3,194 e os 11.668 nós realizam 18.631 conexões, o que indica que muitos dos usuários aparecem apenas retuitando mensagens de outros. Isto também é visível na representação da rede, já que mesmo em um núcleo central com mensagens que produzem um discurso bastante homogêneo, é possível identificar diversos módulos, todos com um ou poucos usuários de grande destaque – como Marcelo Freixo no módulo verde e Igor Julião no módulo dourado. Esta característica indica que muitos usuários compartilhavam mensagens de apenas um dos “influenciadores” com maior visibilidade da rede, formando como que “caudas” nos pequenos módulos. Já aqueles que fazem parte do centro do núcleo foram os que compartilharam mensagens de mais de um usuário dentre os “líderes de opinião”.
O conteúdo das mensagens com maior visibilidade na conversação é bastante homogêneo. De modo geral, a rede tem posicionamento político bastante vinculado a tendências de esquerda. Dentre os usuários com maior grau de entrada, ou seja, os que receberam mais RT e menções, quatro são políticos do PSOL: Marcelo Freixo, maior grau de entrada da rede, David Miranda, segundo maior, Talíria Petrone e Sâmia Bomfim. As mensagens destes usuários são bastante críticas a Bolsonaro e lembram as barbáries ocorridas durante o período ditatorial, como nos exemplos abaixo.
Além de políticos, a rede também conta com presença de jornalistas e veículos de mídia. A razão da presença de @jairbolsonaro entre os usuários com maior grau de entrada está justamente na menção ao seu usuário, como no tweet de The Intercept Brasil (abaixo). Dentre os veículos de mídia, BuzzFeed Brasil é o que recebeu maior visibilidade na rede, já dentre os jornalistas, William de Lucca é o que teve mais mensagens compartilhada nos dados coletados.
A presença de políticos, jornalistas e veículos de mídia é uma tendência em rede de conversações políticas, já que fazem parte de uma espécie de elite entre os influenciadores. Ainda assim, entre os usuários com maior visibilidade também aparecem pessoas públicas conhecidas por sua atuação em outras áreas, como o jogador de futebol Igor Julião, terceiro maior grau de entrada da rede, e a cantora Maria Rita. Suas mensagens seguem a tendência das anteriores e destacam a crueldade do período militar.
Dentre os usuários com maior visibilidade na rede apenas um possui posicionamento político associado a direita no contexto brasileiro. O movimento político Livres aparece de forma periférica na rede, na parte superior direita (em cinza, cor utilizada para representar nós que não estão nos oito principais módulos da rede). Mesmo que o movimento tenha posicionamento político divergente dos principais usuários da rede, a mensagem do Livres mantém o padrão de crítica a comemoração dos 55 anos do golpe militar.
De forma geral, a rede é bastante crítica ao posicionamento de Bolsonaro e a comemoração dos 55 anos do golpe militar – o que poderia ser esperado em função do teor da hashtag. A maioria dos usuários mais centrais na rede estão associados a posicionamentos de esquerda no espectro político brasileiro e fazem questão de relembrar as barbáries do período militar em suas mensagens.
A coleta dos tweets foi realizada com o software NodeXL. Para a análise da rede e sua visualização foi utilizado o software Gephi. Na análise, foi utilizada a métrica de grau de entrada para identificar os usuários com maior visibilidade, já que este cálculo indica quem recebeu mais menções e RT. Esta métrica está representada no grafo pelo tamanho dos nós. Também foi utilizada a métrica de modularidade, que identifica grupos em que as conexões entre os nós são mais densas. Os módulos são representados na rede por suas cores.