Roger Waters e #elenão: conversações sobre o primeiro show no Brasil

Por Felipe Soares

 

O músico Roger Waters realizou seu primeiro show no Brasil em 9 de outubro, em São Paulo. O ex-baixista da banda Pink Floyd incluiu Jair Bolsonaro, candidato à presidência do Brasil, em lista de políticos neofascistas apresentada no telão durante o show, depois ainda exibiu a #elenão no mesmo telão. Parte do público apoiou a manifestação do músico, enquanto outra parte reagiu com vaias. No Twitter, usuários repercutiram sobre o acontecimento.

Para esta análise, foram coletados tweets que falavam sobre “Roger Waters” com o auxílio do software NodeXL. Com o objetivo de observar que tipo de discurso foi produzido na rede, foi realizada uma análise de conteúdo com foco na coocorrência de palavras a na categorização. Para isto, foi utilizada  a ferramenta textometrica. Por fim, foram criadas duas redes de conceitos no Gephi, uma delas que mostra as coocorrências de forma mais geral e outra normalizada, que foca nos conceitos com conexões mais densas (facilitando a identificação de termos fortemente conectados). As métricas utilizadas para visualização dos grafos foram grau, que mostra os termos com uso em mais contextos, e modularidade, que facilita a observação de conexões mais fortes entre os conceitos. O grau é representado pelo tamanho dos nós e a modularidade pela cor.

Figura 1: Rede total de conceitos

Figura 2: Rede de conceitos normalizada

A maior parte da rede reproduz um discurso que ironiza os apoiadores de Bolsonaro, que vaiaram Waters. Termos como “Lei Rouanet”, “comunista” e “comunistas” aparecem neste sentido. Comunistas, inclusive, é utilizado em um tweet de alta circulação que diz atualizar a lista de comunistas segundo os apoiadores de Bolsonaro, lista esta que seria composta também por Alemanha, ONU, Google, Madonna, The Economist, New York Times, Papa Francisco, dentre outros. Da mesma forma, Lei Rouanet aparece em diversos tweets que ironicamente afirmam que Waters seria beneficiado pela lei e, por isso, criticava Bolsonaro.

Outra relação bastante forte entre os conceitos da rede se dá entre “Wall” e “construção civil”. Estes termos aparecem bastante associados já no grafo geral, mais à direita em cor verde água – no grafo normalizado os termos aparecem bem ao centro. “Wall” foi utilizada tanto para se referir ao álbum do Pink Floyd “The Wall” quanto para “Another Brick in the Wall”, música do mesmo disco e uma das mais famosas da banda. O álbum e a música possuem críticas ao fascismo, além de fazerem referência a eventos como a Segunda Guerra Mundial. Com base nisso, os usuários que demostram apoio a Waters, informam (novamente de maneira irônica) aos que vaiaram o artista que as músicas não são sobre construção civil (já que wall significa parede ou muro em inglês).

O conceito “Ultraje a Rigor” também aparece na rede, mais uma vez devido ao uso de humor. Neste caso, os usuários afirmam que os apoiadores de Bolsonaro foram ao show do Roger errado, já que quem defende o político é Roger Moreira, do Ultraje a Rigor. Em várias destas mensagens, os apoiadores do político são chamados pejorativamente de “bolsominions”, por isto estes termos aparecem conectados no grafo normalizado.

Outro termo utilizado para criticar quem vaiou Waters é “fascistóides”, que no grafo normalizado aparece (em laranja) conectado a “estudem”, “história” e “terceiro Reich”, fazendo menção ao nazismo e que os críticos do músico deveriam estudar mais a história. O nazismo também é lembrado já que o “pai” de Waters foi “morto” por “nazistas” na Segunda Guerra, fato também mencionado em diversos tweets e que forma o grupo verde água do grafo normalizado. Outra crítica aos apoiadores de Bolsonaro aparece na relação entre “fake news”, “whatsapp” e “bizarrice” (próximos nas duas redes), utilizados em tweet com alta visibilidade que defende que Waters iria se posicionar em função “bizarrice” que ocorre no país e que os que defendem Bolsonaro deveriam seguir com as fake news no aplicativo Whatsapp se não querem ouvir as críticas.

Aparecem associados no grupo verde na parte esquerda superior do grafo geral os conceitos “militar”, “feio” e “ditadura”, que foram ditos por Waters ao defender seu posicionamento. O músico deu a seguinte declaração, que também foi reproduzida em tweets: “Sou contra o ressurgimento do fascismo. E acredito nos direitos humanos. Prefiro estar num lugar em que o líder não credita que a ditadura é uma coisa boa. Lembro das ditaduras da América do Sul e foi feio”.

entre os que criticaram Waters, as coocorrências mais fortes são “gringo”, “bosta” e “lacrador”. O termo lacrador é utilizado de forma pejorativa em relação a Waters – lacrador vem sendo utilizado para criticar principalmente artistas que se manifestam com posicionamentos associados com pensamentos próximos da esquerda. Alguns usuários, inclusive, utilizam os três conceitos para atacar Waters e mencionam que Roger Moreira é um ícone do rock melhor que o britânico.

Outros conceitos que aparecem associados a críticas ao músico são: “helenão” e “lacrar”. “Helenão” foi o modo alternativo como os críticos ao movimento #elenão se referiram a este para não citar a hashtag. Na rede de conversação analisada, ele aparece principalmente em mensagens que ironizam a atitude de Waters e destacam a vaia do público. Da mesma forma, “lacrar” foi utilizado principalmente em tweets que afirmam que o músico tentou “lacrar” e acabou sendo vaiado, além de mencionarem que Waters teria ofendido seu público ao tentar “lacrar” criticando Bolsonaro. De forma geral, nos tweets críticos ao músico, o destaque é dado para as vaias que recebeu.