Neste período de pandemia
da Covid-19 fez com que a desigualdade social que marca em nossas cidades se ressaltasse ainda mais. A realidade das cidades brasileiras é de uma enorme injustiça espacial, que observamos em pessoas sem moradia digna, saneamento básico, água tratada e banheiro.
A principal mensagem para a prevenção do vírus é ficar em casa, mas para quem estamos falando essa mensagem, a verdade é que muitas pessoas não tem essa segurança em suas casas. Em Pelotas temos aproximadamente 90 mil pessoas em situações de moradias precárias, isso quer dizer, em moradias pequenas com mais de três pessoas por dormitórios, com falta de saneamento básico e água tratada.
A comunidade do Passo dos Negros infelizmente vive essa realidade, a população desta localidade tem um atendimento de saúde mais próximo a 5 KM, sendo ele básico. Observarmos que o acesso a saúde nas cidades se concentra na região central, no entanto, nas periferias notamos esse atendimento longe das moradias. O direito à cidade no Brasil é o direito à moradia digna, à saúde e a vida na pandemia.
Como pode estar o Passo dos Negros durante a pandemia de COVID-19?
Nos mapas a seguir vemos informações sobre comunidades de baixa renda em Pelotas. Mostramos índices de concentração de pessoas (densidade demográfica e habitantes por quarto), percentual de maiores de 60 anos e distância em relação a Estabelecimento de Saúde de Atenção Primária (Unidades Básicas de Saúde, UBS) e Estabelecimentos de Saúde com Suporte de Observação e Internação.
Nas imagens podemos ver onde se localiza o Passo dos Negros e outras comunidades próximas nesse contexto.
Aglomerados Subnormais são comunidades que ocupam áreas que não recebem estruturas básicas, tais como, serviço de abastecimento de água, luz, esgoto, coleta de lixo, transporte coletivo, etc.
O fato dessas comunidades não terem acesso a serviços básicos (saneamento básico, transporte coletivo, energia elétrica) as expõe aos mais diferentes riscos. Quando o acesso aos espaços de atendimento de saúde também é distante, esses riscos se multiplicam.
A saúde se torna acessível a quem?
O Campo do Osório é localizado em uma região onde o atendimento básico de saúde mais próximo é realizado à uma distância de aproximadamente 5 km.
Em meio à pandemia do COVID-19, quais os impactos desse distanciamento dos locais de atendimento de saúde e quais as consequências dessa ausência de serviços básicos de subsistência?
Qual a relação de densidade demográfica e o coronavírus?
Regiões com maiores índices de habitantes por km² devem ter maior atenção durante períodos de pandemia, isso por que, representa que regiões há maior concentração de pessoas (pelas grandes quantidades e proximidades das residências), facilitando a disseminação de vírus e doenças
De acordo com a ampliação da imagem abaixo o Campo do Osório estaria com aproximadamente 1 habitante por km², entretanto, é importante sabermos que no período do levantamento os setores próximos ao Campo do Osório configuravam áreas sem ocupação. Se observarmos as regiões de moradias próximas a essa localidade, percebemos o perfil de ocupação (majoritariamente de 9 à 11 pessoas por km²) e projetamos índices aproximados na comunidade do Osório.
E o que isso implica em relação à pandemia do COVID-19?
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS) esse perfil etário (60 anos ou mais) é classificado como grupo de maior risco de morte em decorrência dessa infecção. No Brasil os dados até 25 de maio de 2020 (18.130 óbitos com dados analisados) comprovavam que as mortes registradas de idosos ocupavam 69,4% dos casos totais.
De acordo com o Censo realizado pelo IBGE (2010) o setor da comunidade do Osório, apesar da baixa densidade demográfica (moradores por km²) tem o perfil de idade de habitantes, majoritariamente, idosos de 60 anos ou mais.
Este mapa diz respeito aos índices de casas com dois (ou mais) moradores por quartos. Desta forma, quanto maiores os índices no mapa, maior a concentração de pessoas em uma residência e consequentemente em um quarto
O que isso tem a ver com a pandemia do Coronavírus?
Se em algumas regiões, em especial nas periferias, há um maior número de pessoas que dividem o mesmo quarto (que as vezes é único) o isolamento social, em especial nos casos de pessoas contaminadas, não é possível.
Então o isolamento vertical (em que apenas os grupos de risco ficam em casa) também seria inviável nas periferias, pois o contato entre moradores da mesma residência se torna inevitável e assim, há a disseminação do vírus
E o Passo dos Negros?
A extensão do Passo dos Negros diz respeito à área onde pelo menos 23% das residências tinham, em 2010, mais de 2 (duas) pessoas por quarto, e também diz respeito à área vizinha, onde os dados de casas com mais de 2 habitantes por quarto era de 3%. Essa diferença de índices acontece pelas grandes diferenças econômicas das populações habitantes dessa região, sendo elas as comunidades do Campo do Osório, Estrada do Engenho e os moradores do bairro Umuharama.
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