As contribuições das teorias sociológicas produzidas na Europa e nos Estados Unidos pós-segunda guerra em relação a questões referentes às bases da ação, aos fundamentos da ordem e aos motores da mudança social, assim como o esclarecimento dos vínculos entre estas três dimensões, revelam constantemente sua potencialidade seja na superação de impasses da teoria sociológica clássica, seja como meio heurístico para pesquisas empíricas e diagnósticos do presente. Tal “novo movimento teórico”, no entanto, se desenvolve sobre um terreno discursivo caro ao cânone, especialmente em sua imagem da modernidade e suas consequências. De clássicos a contemporâneos, os processos de modernização se caracterizam, com diferentes ênfases e em contraste com uma suposta pré-modernidade, por processos de crescente racionalização/secularização da ação e das instituições, diferenciação/autonomização das esferas sociais, individuação crescente, separação público/privado, aceleração temporal articulada à dessubstancialização do espaço, separação cultura/natureza (cf. Tavolaro, 2017)[1].
A VI Jornada objetiva, em linhas gerais, trabalhar com três eixos de discussão. O primeiro abrange as críticas às teorias da modernização por meio de conceitos como subdesenvolvimento, centro-periferia, marginalidade estrutural, dependência, dominação burguesa autocrática, etc. Busca-se, portanto, dar atenção a esse primeiro momento de intenso debate entre os anos 1950 e 1970, tão importante para a complexificação da teoria social, para além dos enunciados elaborados na Europa e nos Estados Unidos, e para a institucionalização das ciências sociais latino-americanas.
A VI Jornada também reúne pesquisadores e trabalhos que visem discutir sobre os esforços mais recentes, advindos do chamado Sul Global, que considerem dinâmicas experienciais próprias e que dialoguem com as teorias sociológicas de forma a pensar sobre os novos desafios para transpor uma imagem da modernidade construída desde o Norte. Sendo assim, o segundo eixo versa sobre temas tais como: bem viver, flexibilização, empreendedorismo e precarização, entre outros pontos, de forma a contribuir com abordagens empíricas e teóricas.
O terceiro eixo de interesse da VI Jornada Brasileira de Sociologia consiste em encontrar questões e problemas epistemológicos que coloquem em xeque diversos aspectos daquele discurso sociológico hegemônico, ao repensar: o lugar do sagrado e da religião no mundo moderno; a (in) diferenciação ou interpenetração das esferas sociais; os vínculos entre público e privado; diferentes formas de conceber o tempo e o espaço, a relação cultura/natureza, e as práticas de subjetivação; as causas e consequências globais da persistência do padrão colonial, fundamentado na fissura racial, de poder. Assim, serão evidenciadas perspectivas como a pós-colonialidade, a decolonialidade do saber/poder, a modernidade global e, de forma mais abrangente, as “sociologias emergentes” em contextos antes relegados ao mero fornecimento de dados empíricos na divisão do trabalho desenhada pela geopolítica (colonial) do conhecimento.
Referências:
[1] TAVOLARO, Sergio. Gilberto Freyre e o tempo-espaço brasileiro: uma crítica ao cronótipo da modernidade. In: Revista Sociedade e Estado, v. 32, n. 2, maio/agosto, 2017.
[2] FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. 18. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1988.