I Fórum Internacional de Contadores de Histórias: Catadores e Contra-dores

 

A proposta do I Fórum Internacional de Contadores de Histórias: Catadores e Contra-dores parte da necessidade de experimentar a construção de outros espaços-vivências da memória enquanto narrativas. Sustenta-se em dois elementos conceituais, de lugares e tempos distintos: O Teatro da memória de Giulio Camillo (Itália, 1550) e os Parangolés de Hélio de Oiticica (Brasil, 1960 – 1970).

O Teatro da Memória era um tipo de anfiteatro onde o espectador, ao desbravar, poderia entrar em contato com diferentes tipos de materiais, entre estes, textos e imagens sobre as mais diferentes áreas do conhecimento e da arte.

A idéia era que o espectador pudesse percorrer com toda a liberdade os diferentes caminhos que possibilitariam os textos e as imagens, o itinerário era mutável de acordo com a rede estabelecida pelo espectador no diálogo com a obra e sua multiplicidade de significações.

Neste processo interativo a passagem pelo teatro modifica tanto a obra, como quem com ela estabelece algum tipo de interlocução.  Na proposta de Giulio Camillo encontra-se a origem de conceitos e concepções utilizados na contemporaneidade como rede e arte interativa.

Os Parangolés de Hélio Oiticica são capas, tendas ou estandartes que incorporam as influências da favela e do samba brasileiros, e foram produzidos para serem vestidos e de preferência para serem dançados pelo participador. Oiticica defendia que o corpo do participador não poderia ser visto como um suporte da obra, mas sim como a sua incorporação, a “incorporação do corpo na obra e da obra no corpo”.

Ao adotar a música como fio condutor da história, somos levados a concordar com Nietzsche que “a vida sem música é simplesmente um erro, uma tarefa cansativa, um exílio”, a música dionisíaca, nesta mesma leitura, é a tradução do querer, enquanto prazer e enquanto dor. É a música que conduz, possibilita, estabelece, ou que é a própria via de acesso a Vontade.  Será a música, portanto, nesse fórum, que guiará a experimentação da memória.

Considerando que a memória tem sido uma das questões mais presentes e atuais nos estudos acadêmicos, nos propusemos, no entanto a um tratamento específico da memória, na interface da memória com as identidades, elegemos as narrativas populares como foco e buscamos o “passado em nós”, ou seja, a construção de um espaço de celebração da memória pelo presente e pelo que este exige de ação e intervenção ativa.