Memórias operárias

“A pedra não podia ser colocada em cima do trilho nem naquelas frestinhas que ficam entre um trilho e outro, porque senão descarrilha o trem e dá acidente”. Erlice Santhes

Esse conjunto de imagens foi produzido em um esforço coletivo de pesquisa do Laboratório de Ensino, Pesquisa e Produção em Antropologia da Imagem e do Som (LEPPAIS/UFPel), ao longo ano de 2015. A investigação mergulhou nas memórias ferroviárias de trabalhadores, trabalhadoras e suas famílias, muitas das quais residiam nas proximidades da via férrea. O levantamento combinou fotografias dos acervos pessoais dessas pessoas com a pesquisa em hemerotecas e documentações oficiais da Rede Ferroviária Federal Sociedade Anônima (RFFSA). O projeto destaca a importância da das memórias operárias de uma população trabalhadora que acompanhou o processo de desestatização da RFFSA, que em seu auge contava com 150 mil funcionários, e o consequente abandono da matriz de transporte ferroviário no Brasil. São valorizados os esforços desses sujeitos de fazerem durar no tempo a memória de uma comunidade de trabalho e de sua identidade profissional, ativada na elaboração coletiva de projetos de memória, evidentes nos atos de guardar fotografias e documentos, narrar histórias, organizar exposições e nas mais diversas expressões da resiliência cotidiana durante a aposentadoria. A memória dos ferroviários e ferroviárias é mantida por seus herdeiros e familiares como um patrimônio inestimável.

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Trechos Narrativos

Moacir Avila – Em 1964, quando houve o Golpe Militar, a ferrovia passava por uma situação muito difícil, material rodante de péssimas condições, vagões caindo aos pedaços, locomotivas apresentado defeitos de toda a ordem. O traçado de linha era o pior possível, acontecia um acidente atrás do outro, inclusive muitos deles até sacrificando vidas.

Moacir Avila – Muitos colegas meus ferroviários deixaram marcado uma cruz, ao longo da linha, pela precariedade de engenharia que o material apresentava.

Mozart Santos MedeirosLá em Herval, em 1987, deu 31 acidentes dentro de um mês. Tombava dez, quinze vagões, maquina, tombava tudo. A gente trabalha dois, três dias. Duas, três noite, pra depois se alimentar. Não era fácil.

Gildo Oteiro – Lida pesada, lida bruta mesmo. Cavava com picareta pra abrir os buracos pra colocar os dormente e socava a terra, com um ferro, pra fixar. (…) Chegava o fim do  dia, cara tava desfeito de cansado, não era qualquer um que aguentava.

Orlando (Nando) Chagas – Eu vinha vindo, dentro de um(…)baita túnel, eu achei fantástico aquele túnel, no meio daquele monte de pedra, que a natureza criou, chegava a dar sono na gente o barulho da máquina. De repente, tu sai do túnel, vê um viaduto, aquela altura e máquina balançado sem lado, só os trilhos (…) tu via as parabólicas das casas lá em baixo, quase 60 metros de altura. Quando vê tu dobra, e entra numa rocha, preta de tanta fumaça (…) Essa foi a paisagem mais linda que eu pude ver, não tem como explicar, só vendo.

Luís Carlos “Luisão”  – O ferroviário era solidário. Fazia o que a gente chamava de empanar. Juntava as panelas, na hora do almoço, pegava um pouco de massa de um, de carne de outro.

Rubem Medeiros – Tinha um fio assim e um cabo, a mesma coisa que um martelo. Eu tava pegando assim e o cara errou do ferro e deu em cima da minha mão. Eu desmaiei(…), se pegasse a mão firme, esmagava minha mão.  E era no mato, não tinha recurso, estancaram com o que tinha. Eu vim direto pra Pelotas. Primeiro trem me botaram em cima (…). O médico da Rede, que cuidava dos feridos, que me atendeu.

 

Neida dos Santos Padilha – Agente de Estação (licenciamento de trem)

“O Manobrador fazia com que o trem mudasse de uma linha para a outra. Podia acontecer do último trem passar, tinha que contar até o último vagão que passava, o último vagão tinha o sinal de calda. Quando o trem passava tinha que tá aquela bandeirinha, se não tivesse o sinal de calda, sinal que ele tinha perdido o último vagão e não podia vir o próximo trem.”

 “Eu fui fazer o concurso e a inscrição era em Rio Grande. Não era aqui  em Pelotas. Eu lembro que eu cheguei lá e eles assustavam muito as mulheres. ‘Ah, a senhora vai querer? A senhora sabia que a senhora pode ir numa estação que só tem a estação. E pode ser uma estação pequena?’”

“Eu não conheci mulheres que eram Tuco. Mulher era mais Agente de Estação, no licenciamento do trem.”

 “Depois eu fui pro escritório. Em 1997, eu fui uma das últimas pessoas a sair. Primeiro eles começaram a incentivar as pessoas que já tinham tempo de se aposentar, isso foi no governo Fernando Henrique, porque eles iam privatizar. Eu fui uma das últimas pessoas a sair, porque eu fazia fazia o cálculo de horas(…).”

Quando caiu as máquinas na ponte, não sei se já te falaram deste acidente, não me lembro que ano foi. Eu trabalhava na Via Permanente, já no escritório. Quando a gente viu, chegou aquela notícia: caiu o trem no canal São Gonçalo! Foi uma loucura aquilo. Era aquele corre, tu sabia dos colegas que estariam [no trem] Foi bem movimentado. O pessoal da Via Permanente eles trabalharam direto, dia e noite. No acidente, para tirar as máquinas, a função dos trilhos. Tu imaginas a quantidade de horas que eles fizeram. Aquelas horas todas foram calculadas pela Neida. Da Via Permanente era uma turma em Rio Grande, uma turma em Povo Novo, uma em Pedro Osório, uma outra em passodos pires e outra em Bagé. Uma força tarefa. Mas eu fazia o ponto de Pedro Osório pra cá, dava mais de cem homens, para calcular (Neida dos Santos Padilha, 04/11/2016).

O trem apitava a partida para o próximo destino e o jogo começava. Eram nos intervalos do trabalho que os funcionários da Estação Férrea aproveitavam para jogar aquela “pelada”. O futebol era um momento de descanso e de lazer dos trabalhadores que davam duro para manter a ferrovia em funcionamento.

O bairro cresceu impulsionado pela modernidade do trem “a todo vapor”. Simões Lopes, dono de vasto território ao redor da Estação, vendo o fortalecimento do novo time de futebol, cedeu um terreno próximo à Viação Férrea para o clube que fez história no bairro: o G. E. Brasil, em 1913.
Com o tempo, o time passou a ser conhecido como “Negrinhos da Estação”, formado em grande parte pelos trabalhadores da Viação Férrea, muitos deles negros, o que deu origem ao apelido. O vermelho e o preto foram adotados devido ao Seu Maneca, assim conhecido no bairro, que financiou o uniforme do time. Ele queria que fossem as mesmas cores do Clube Carnavalesco Diamantinos, do qual ele participava, mas também para se
diferenciar do Pelotas, que tinha ligação com o Clube Carnavalesco Brilhante.

Os Negrinhos da Estação se destacaram nos campeonatos por meio de suas vitórias. A gurizada que crescia no bairro formava novos times de futebol, sempre com o grande sonho de fazer parte da equipe do G. E. Brasil. Dessa forma, o bairro Simões Lopes tem marcado em sua memória times como o Terror do Bairro, Canto do Rio, Belém, Flamengo, Laneira, Benfica, Danúbio, Niterói, entre outros.
Impulsionado pelo presidente do time, Bento Freitas, os Negrinhos da Estação se mudam do Simões Lopes para a Várzea, em 1943. Em um clássico BRA-PEL, em 1946, o Brasil virou o placar para 5 x 3 contra o Pelotas. Ao fim do jogo, a torcida rubro-negra desceu das arquibancadas e invadiu o campo para comemorar. O presidente do Esporte Clube Pelotas, na ocasião, comparou a torcida aos bravos índios Xavantes. Surgiu então o novo apelido: Xavantes.

Roceli Martins – “Quando tinha clássico BRA-PEL já se ouvia: ‘Aí vem os Negrinhos da Estação!’”
Roceli Martins - “Aqui no Simões Lopes é o berço do Grêmio Esportivo Brasil.”
“Nós criamos o Brasil e emprestamos o Brasil para a Várzea, e da Várzea para o mundo!” (Roceli Martins)
“O Grêmio Esportivo Brasil é uma coisa nossa […] e nós temos essa balaca!” (Roceli Martins)
“Enquanto estavam aqui, eram os Negrinhos da Estação. Depois que foram para lá, viraram os Xavantes.” (Roceli Martins)

O time Força Jovem Simões (FJS) é um exemplo de sequência desse legado do futebol no bairro. Projeto criado e conduzido pelo Lásier Almeida e seu irmão, Vinícius Rasch, que proporciona uma formação para o esporte e para a vida de uma gurizada talentosa, que vem adquirindo grandes vitórias. O projeto iniciou em 2014, contando com treinos semanais. Como a própria gurizada diz, “nós somos uma família” e apontam três palavras-chave para o time: força, amizade e união. Dessa forma, o projeto se mantém um sucesso e garante suas vitórias no campo e fora dele. São as novas gerações fazendo a história do futebol no Simões. E quem sabe sejam eles os novos “Negrinhos da Estação”?!

Roda de Conversa de 04/12/2020, com Darlan de Mamann Marchi, Sidney Gonçalves Vieira e Simone Neutzling

No dia 04 de dezembro de 2020, às 17h, o Expresso Memória realizou sua quarta Roda de Conversa virtual. Transmitido na página do Facebook do projeto, o encontro promoveu um diálogo acerca da cidade e seus patrimônios.Entre os convidados estava Darlan de Mamann Marchi, que possui graduação em História (Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões, 2007); Especialização em Docência para o Ensino Superior (Instituto Cenecista de Ensino Superior de Santo Ângelo, 2010); Mestrado em Memória Social e Patrimônio Cultural (Universidade Federal de Pelotas, 2014); Doutorado em Memória Social e Patrimônio Cultural (Universidade Federal de Pelotas, 2018). Atua como professor substituto no Departamento de Museologia, Conservação e Restauração da UFPel, participa da coordenação do GT de História Cultural da ANPUH-RS (2020-2022) e tem experiência com pesquisas que relacionam história cultural, memória social, patrimônios mundiais, processos de patrimonialização e políticas públicas para o patrimônio cultural.
Também participou da conversa Sidney Gonçalves Vieira, que possui Graduação em Bacharel Em Direito (Universidade Federal de Pelotas, 1986); Graduação em Licenciatura Plena Em Geografia (Universidade Federal de Pelotas, 1986); Graduação em Licenciatura Em Estudos Sociais (Universidade Federal de Pelotas, 1984); Especialização em Pós Graduação Em Ciências Sociais Sociologia (Universidade Federal de Pelotas, 1988); Mestrado em Planejamento Urbano e Regional (Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 1997); Doutorado em Geografia (Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, 2003). É coordenador do Laboratório de Estudos Urbanos e Regionais (Leur/ICH/UFPel), pesquisador das linhas de pesquisa em Geografia Urbana (com ênfase para estudos em requalificação urbana, urbanismo comercial e geografia histórica urbana), Teoria e História da Geografia, Paisagem, Memória Social e Patrimônio Cultural e membro da Rede Brasileira de Estudos Geográficos Sobre Comércio e Consumo.
O encontro também contou com a presença de Simone Neutzling, doutoranda pelo Programa de Pós-Graduação em Memória Social e Patrimônio Cultural na Universidade Federal de Pelotas (2019), possui Mestrado pelo mesmo Programa (2016), Graduação em Arquitetura e Urbanismo pela mesma Universidade (1998) e Curso Técnico-profissionalizante em Edificações pela Escola Técnica Federal de Pelotas (1991). Tem experiência nas áreas de Arquitetura e Urbanismo, atuando com escritório próprio nas áreas de arquitetura, patrimônio cultural e paisagem urbana e desde 2001. Principais trabalhos desenvolvidos: Inventários do Patrimônio Histórico, Artístico e Cultural das cidades de São Leopoldo/RS (2016), Jaguarão/RS e Bagé/RS (2009); Projeto de restauração do Castelo Simões Lopes (2017), da Igreja Matriz do Sagrado Coração de Jesus de Jaguarão (2017), do Museu de Arte do Rio Grande do Sul/ MARGS, Porto Alegre/RS (2015), do Complexo da Antiga Cervejaria Brahma, Pelotas/RS (2011), da Casa 08, Pelotas/RS – atual Museu do Doce/UFPel e da Catedral Metropolitana de Pelotas/RS (2008).

Assista:

Roda de Conversa de 27/11/2020, com Marcio Tascheto da Silva e Adriana Araujo Portella

A terceira Roda de Conversa virtual do Expresso Memória ocorreu às 18h do dia 27 de novembro de 2020, via Facebook, abordando educação e cidade educadora. O encontro contou com a presença do Prof. Dr. Marcio Tascheto da Silva (Graduação em História pela Universidade Federal de Santa Maria/UFSM (2002), Mestrado em Educação pela Universidade Federal de Santa Maria/UFSM (2005) e Doutorado em Educação pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul/UFRGS (2016)), que atuou como professor de História no Ensino Médio na Escola de Educação Básica Educar-se/UNISC (2003 a 2008), na Escola São João La Salle (2004) e hoje atua como professor e pesquisador no Curso de História e no Mestrado em Humanidades e Linguagens/MEHL da Universidade Franciscana/UFN. Também participou da conversa a Prof.ª Dr.ª Adriana Araujo Portella (Doutorado em Joint Centre for Urban Design, Brookes (Oxford Brookes University, 2007); Mestrado em Programa de Pós-graduação em Planejamento Urbano e Regional (Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 2003); Graduação em Arquitetura e Urbanismo (Universidade Federal de Pelotas, 2001)), que atualmente ocupa uma posição permanente como Professora Associada 2 da Universidade Federal de Pelotas (UFPel, desde 28/08/2008) e foi Chefe do Departamento de Arquitetura e Planejamento da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo por quatro anos (04/03/2016 – 29/03/2020). Ela é empenhada em investigar como integrar grupos vulneráveis e idosos no desenho de estratégias de planejamento urbano para promover cidades inclusivas e melhores para todos; sua pesquisa é sustentada por uma estrutura participativa, envolvendo as comunidades como co-pesquisadores.

Assista:

Roda de Conversa de 20/11/2020, com Daniel Amaro e Lucio Menezes Ferreira

Às 17h do dia 20 de novembro de 2020 foi transmitida via Facebook a segunda Roda de Conversa virtual do Expresso Memória, que abordou cidade, ancestralidade e como é ser negro em Pelotas. O encontro contou com a participação do professor-dançarino Daniel Amaro (Companhia Daniel Amaro), que realiza a Dança dos Orixás, motivada de significados religiosos, com o objetivo de resgatar a cultura negra como formadora da sociedade brasileira nas áreas social, econômica, política e cultural. Também participou da conversa o Prof. Dr. Lucio Menezes Ferreira (possui graduação em História pela UFS (1995), mestrado (2002) e doutorado (2007) em História, área de concentração em História Cultural, pela UNICAMP) que tem experiência nas áreas de História e Arqueologia, com ênfase em Arqueologia Histórica, e ingressou no Departamento de Antropologia e Arqueologia da UFPel em 2008.

Assista:

Roda de Conversa de 06/11/2020, com Leonardo Tajes Ferreira e Leandro Pereira

No dia 6 de novembro de 2020, às 18h, aconteceu a primeira Roda de Conversa virtual do Expresso Memória, na página do Facebook do projeto. A live, que teve como tema a cidade de Pelotas, contou com a participação de Leonardo Tajes Ferreira, editor-chefe da página “Olhares sobre Pelotas” (Bacharel em Comunicação Social – Jornalismo pela Universidade Católica de Pelotas – UCPel) e Leandro Pereira, idealizador do projeto “Olho de Sogra” (Bacharel em Administração, graduando em Museologia e mestrando em Memória Social e Patrimônio Cultural)

Assista:

Família

“A rede ferroviária, na verdade, ela era uma grande família, eu acredito assim, eu via assim”.(Adriana Oteiro, 2015).
Uma família
não se constitui apenas de laços sanguíneos, mas de afeto, de auxílio, de parceria, e, acima de tudo, de reciprocidade. Entre os ferroviários, um termo recorrente, e carregado de significados, é “família ferroviária”, formada pelos trabalhadores da Estação Férrea, suas esposas, seus filhos e demais parentes. Uma rede onde as barreiras são ultrapassadas e se entrelaçam, tal qual os trilhos dos trens. Casas se abrem para a circulação de crianças. Madrinhas passam a ser tias. Filhos passam a ser primos. Pais passam a ser compadres. Uma família que como tantas outras ainda se reúne em torno de seus álbuns de fotografia antigos.

Fotografia da Estação Férrea de Pelotas, emoldurada. O Sr. Vitório Corrêa hoje mora em outro bairro da cidade, mas a Estação Férrea, enquanto contorno de tantas lembranças da sua juventude, ainda o acompanha no ambiente íntimo da casa. Autoria: ​Daniele Borges (2015)

Porque quando os pais saíam, destacados, pra outro local, eles tinham uma vila de ferroviários com as casinhas, as famílias iam pra lá e as esposas e os filhos. Era todo mundo como se fosse uma grande família. Adriana Oteiro Autoria: ​Ingrid Morais (2015)

“O que a gente tinha de bom era o Clube, né. Natal, Dia das Crianças, Carnaval, a gente fazia baile pras crianças. Trinta de Abril é o dia do ferroviário, e aí sempre tinha festa pros ferroviários, tinha torneio de futebol, era churrasco.” ​Marli Medeiros. Autoria: ​Daniele Borges (2015) Fotografias de álbuns de família.

“O que a gente tinha de bom era o Clube, né. Natal, Dia das Crianças, Carnaval, a gente fazia baile pras crianças. Trinta de Abril é o dia do ferroviário, e aí sempre tinha festa pros ferroviários, tinha torneio de futebol, era churrasco.” Marli Medeiros. Autoria: Daniele Borges (2015) Fotografias de álbuns de família.

A família dos ferroviários, eles eram muito família, sabe, então tudo que se fazia era em família, o marido pegava as mulheres e os filhos e levava. Meu pai jogava futebol ele era do time dos ferroviários então todos os domingos tinha futebol e ele levava toda família a minha mãe, nós, os filhos e os outros amigos também. Maria Laci Moraes Autoria: Ingrid Morais (2015)

Fotografia do acervo pessoal da Sra. Sali Grafulha Corrêa. Registra o seu casamento com o Sr. Glênio Corrêa que foi chefe da Estação. A comemoração aconteceu no pavimento superior da Estação Férrea onde a família morava. “Meu marido mandou pintar toda a Estação para o casamento da nossa filha. Mas o fotógrafo era tão ruim que não fez uma foto com a Estação, foi tudo dentro.” ​Sali Corrêa Autoria: ​Daniele Borges (2015)

Marli Medeiros e Eva Maria Rodrigues folheiam álbuns de família, lembrando momentos na Estação Férrea. Autoria: ​Daniele Borges (2015)

“O que a gente tinha de bom era o Clube, né. Natal, Dia das Crianças, Carnaval, a gente fazia baile pras crianças. Trinta de Abril é o dia do ferroviário, e aí sempre tinha festa pros ferroviários, tinha torneio de futebol, era churrasco.” ​Marli Medeiros. Autoria: ​Daniele Borges (2015) Fotografias de álbuns de família.

“As viagens de trem nem se fala. Coisa mais boa, né. Minha filha tinha dezessete dias e eu já tava dentro do trem. Era inverno, em maio, naquela época que ela nasceu caía gelo. Na Estação eu não sabia se ela tava de cabeça pra baixo ou pra cima, de tanto pano. Uma função... Sinto saudades do barulho que era.” Eva Maria Gonçalves Rodrigues Autoria: Ingrid Morais (2015)

“Eu nasci, me criei, estudei e trabalhei aqui dentro dos trilhos, na ferrovia, faz parte da nossa vida. Meu avô foi ferroviário, meu pai eu, nos criamos, vivemos, comemos na ferrovia”. Marcelo Borba Autoria: Vinicius Kusma (2015)

Fotografia do acervo pessoal da Sra. Sali Grafulha Corrêa. Registra o seu casamento com o Sr. Glênio Corrêa que foi chefe da Estação. A comemoração aconteceu no pavimento superior da Estação Férrea onde a família morava. “Meu marido mandou pintar toda a Estação para o casamento da nossa filha. Mas o fotógrafo era tão ruim que não fez uma foto com a Estação, foi tudo dentro.” ​Sali Corrêa Autoria: ​Daniele Borges (2015)

Marli Medeiros e Eva Maria Rodrigues folheiam álbuns de família, lembrando momentos na Estação Férrea. Autoria: ​Daniele Borges (2015)

Era tudo assim, então nós estávamos tudo em família brincávamos com os outros filhos ferroviários pra nós era tudo família era tudo parente da gente era muito gostoso, era muito bom. Ma ria Laci Moraes Autoria: Daniele Borges (2015)

“Mas é bom. Eu não me vejo numa vida diferente. Esposa de ferroviário. O meu marido já entrou com uma assinatura e saiu com a mesma assinatura na carteira dele”. Marli Medeiros Autoria: Ingrid Morais (2015)

As amigas Marli, Erlice e Eva caminham sobre os trilhos da Estação relembrando o passado compartilhado. O pai tinha plantação lá, tudo nos trilhos, que é onde ele morava, onde ele tinha que fazer a vida dele, né, a nossa vida. A nossa vida que não foi uma vida só, foi da minha família, foi várias pessoas na família e aquilo foi magnífico! É uma coisa maravilhosa, assim tão grande!” Erleci Santhes Esteves de Souza” Autoria: Daniele Borges (2015)

As coisas

“Os dormentes principalmente, pelo tempo, a chuva, tudo vai desgastando, vai ficando cheio de marcas, marcas do tempo.” Erlice Santhes
As coisas compartilham a vida com as pessoas ao longo do tempo. E suas biografias ajudam-nos a narrar as nossas. Devido ao seu potencial simbólico ativam a evocação de memórias daquilo que foi, mas também daquilo que não veio a ser. Expõem as marcas do tempo impressas em sua materialidade e as ausências daquilo que já não é mais. A ressignificação dada aos objetos, a partir de novos usos no presente, demonstra o desejo de preservação de aspectos de uma vida à beira dos trilhos. Trajetórias marcadas por encontros, deslocamentos e pela sonoridade do trem, a partir da qual a rotina do dia se organizava

Najara e seu pai, Mozart Medeiros, mostram a planta baixa da Estação Férrea de Pelotas. Autoria: Daniele Borges (2015)

“Esse boné aqui, eu não me lembro em que ocasião foi que ganhei ele. Até não sei se foi o pai que me deu ele, mas eu ainda tenho, ele é bem velho. É o logotipo da rede ferroviária”. Najara Medeiros Autoria: Daniele Borges (2015)

“É um parafuso, me recordo dele pregado nos dormentes e agora só ficou a lembrança. Esses pregos todos pregados nos dormentes, é uma coisa emocionante a gente viver em cima dos trilhos, tudo o que ficou pra trás agora é só lembrança”. Erlice Santhes. Autoria: Daniele Borges (2015)

“Ó, eu não posso falar somente do prego, porque o prego é o conjunto todo, é o prego, é as pedras, o dormente, o tijolo, o tijolo não, o trilho. Então é um conjunto, não é um objeto somente”. Erlice Santhes Autoria: Hamilton Bittencourt (2015)

“A comida do meu pai tem uma lembrança muito forte, de cheiro, de sabor, e até hoje peço muito pra ele fazer, que era o arroz carreteiro que ele fazia. De manhã cedo antes de ir pro serviço ele fritava o arroz com a carne, os temperos dele, levava a panelinha e na hora do almoço o Bocha que era o cozinheiro só botava pra cozinhar”. Najara Autoria: Daniele Borges (2015)

Os dormentes principalmente, pelo tempo, a chuva, tudo vai desgastando, vai ficando cheio de marcas, marcas do tempo.” Erlice Santhes Autoria: Kelly Schmidt

“Eu brinquei muito de trolinho, era pequena e um colega do pai me ensinou a empurrar com um cabo de vassoura porque eu não alcançava no chão”. Najara Autoria:

Najara e seu pai, Mozart Medeiros, mostram a planta baixa da Estação Férrea de Pelotas. Autoria: Daniele Borges (2015)

“Rede Ferroviária Federal Sociedade Anônima, é o original da ferrovia, serviço do meu pai, que me criou, que nos criou, tenho ele guardado há muito tempo, guardo ele com carinho. É uma paixão na vida da gente, a ferrovia.” Najara Medeiros Autoria: Daniele Borges (2015)

Em baixo relevo, a inscrição TC7 aparece como detalhe num antigo banco da Estação férrea, restaurado e apropriado pelo morador Mozart. “Eu lembro quando funcionavam todos os escritórios ali. Tinha a parte do engenheiro, o pessoal que trabalhava com ele. E na ponta ali tinha uma portinha que dizia TC7, a turma do meu pai, que se não me engano, tá marcado aqui nesse banco, em algum lugar, alí, TC7, era a turma dele”. Najara Autoria: Daniele Borges (2015)

“Ele tinha uma caixa, assim de madeira, uma caixa que hoje é caixa de lenha. E aí ele tinha a panelinha e roupa, e as coisas dele alí. A caixa cheia de tartaruguinhas. Então na caixa tinha tartaruga, nos bolsos tinha tartaruga, nos armários dele na oficina tinha tartaruga. Ele chegava aqui tinha tartaruga em tudo que era bolso”. Najara Autoria: Daniele Borges (2015)

“Meu pai encontrou essa lanterna jogada quando ia para o lixo. Essa lanterna era muito importante porque servia como auxiliar para iluminar os trilhos em momentos de acidentes, e também para manutenção noturna, para visualizar os desvios, por exemplo”. Adriana Oteiro Autoria: Daniele Borges (2015)

“Ele entrava na estação e ele botava, de longe aparecia o trem e ele botava, era verde ou vermelho, ficava balançando. Eles botavam uma chama com querosene”. Vitório Corrêa. Autoria: Daniele Borges (2015)

“ Foi a Najara que fez o logo. Teve um concurso e a Najara ganhou. Ele representa os trilhos do trem”. Marli Medeiros Autoria: Daniele Borges (2015)

Najara e seu pai, Mozart Medeiros, mostram a planta baixa da Estação Férrea de Pelotas. Autoria: Daniele Borges (2015)

“É um parafuso, me recordo dele pregado nos dormentes e agora só ficou a lembrança. Esses pregos todos pregados nos dormentes, é uma coisa emocionante a gente viver em cima dos trilhos, tudo o que ficou pra trás agora é só lembrança”. Erlice Santhes. Autoria: Daniele Borges (2015)

Assim como o banco da Estação outros elementos foram apropriados pelos moradores, no período que a Ferrovia estava em ruínas, como é o caso de parte dos trilhos que hoje servem como elementos estruturais nas casas de alguns dos antigos ferroviários. Autoria: Daniele Borges (2015)

“Ele tinha uma caixa, assim de madeira, uma caixa que hoje é caixa de lenha. E aí ele tinha a panelinha e roupa, e as coisas dele alí. A caixa cheia de tartaruguinhas. Então na caixa tinha tartaruga, nos bolsos tinha tartaruga, nos armários dele na oficina tinha tartaruga. Ele chegava aqui tinha tartaruga em tudo que era bolso”. Najara Autoria: Daniele Borges (2015)

“Meu pai encontrou essa lanterna jogada quando ia para o lixo. Essa lanterna era muito importante porque servia como auxiliar para iluminar os trilhos em momentos de acidentes, e também para manutenção noturna, para visualizar os desvios, por exemplo”. Adriana Oteiro Autoria: Daniele Borges (2015)

“Essa garrafa de vinho se abrir é capaz de estourar. O pai ganhou de presente. Ele ganhava muito presente. As empresas faziam transporte pelo trem”. Vitório Corrêa. Autoria: Daniele Borges (2014)