O trem apitava a partida para o próximo destino e o jogo começava. Eram nos intervalos do trabalho que os funcionários da Estação Férrea aproveitavam para jogar aquela “pelada”. O futebol era um momento de descanso e de lazer dos trabalhadores que davam duro para manter a ferrovia em funcionamento.
O bairro cresceu impulsionado pela modernidade do trem “a todo vapor”. Simões Lopes, dono de vasto território ao redor da Estação, vendo o fortalecimento do novo time de futebol, cedeu um terreno próximo à Viação Férrea para o clube que fez história no bairro: o G. E. Brasil, em 1913.
Com o tempo, o time passou a ser conhecido como “Negrinhos da Estação”, formado em grande parte pelos trabalhadores da Viação Férrea, muitos deles negros, o que deu origem ao apelido. O vermelho e o preto foram adotados devido ao Seu Maneca, assim conhecido no bairro, que financiou o uniforme do time. Ele queria que fossem as mesmas cores do Clube Carnavalesco Diamantinos, do qual ele participava, mas também para se
diferenciar do Pelotas, que tinha ligação com o Clube Carnavalesco Brilhante.
Os Negrinhos da Estação se destacaram nos campeonatos por meio de suas vitórias. A gurizada que crescia no bairro formava novos times de futebol, sempre com o grande sonho de fazer parte da equipe do G. E. Brasil. Dessa forma, o bairro Simões Lopes tem marcado em sua memória times como o Terror do Bairro, Canto do Rio, Belém, Flamengo, Laneira, Benfica, Danúbio, Niterói, entre outros.
Impulsionado pelo presidente do time, Bento Freitas, os Negrinhos da Estação se mudam do Simões Lopes para a Várzea, em 1943. Em um clássico BRA-PEL, em 1946, o Brasil virou o placar para 5 x 3 contra o Pelotas. Ao fim do jogo, a torcida rubro-negra desceu das arquibancadas e invadiu o campo para comemorar. O presidente do Esporte Clube Pelotas, na ocasião, comparou a torcida aos bravos índios Xavantes. Surgiu então o novo apelido: Xavantes.
Roceli Martins – “Quando tinha clássico BRA-PEL já se ouvia: ‘Aí vem os Negrinhos da Estação!’”
Roceli Martins - “Aqui no Simões Lopes é o berço do Grêmio Esportivo Brasil.”
“Nós criamos o Brasil e emprestamos o Brasil para a Várzea, e da Várzea para o mundo!” (Roceli Martins)
“O Grêmio Esportivo Brasil é uma coisa nossa […] e nós temos essa balaca!” (Roceli Martins)
“Enquanto estavam aqui, eram os Negrinhos da Estação. Depois que foram para lá, viraram os Xavantes.” (Roceli Martins)
O time Força Jovem Simões (FJS) é um exemplo de sequência desse legado do futebol no bairro. Projeto criado e conduzido pelo Lásier Almeida e seu irmão, Vinícius Rasch, que proporciona uma formação para o esporte e para a vida de uma gurizada talentosa, que vem adquirindo grandes vitórias. O projeto iniciou em 2014, contando com treinos semanais. Como a própria gurizada diz, “nós somos uma família” e apontam três palavras-chave para o time: força, amizade e união. Dessa forma, o projeto se mantém um sucesso e garante suas vitórias no campo e fora dele. São as novas gerações fazendo a história do futebol no Simões. E quem sabe sejam eles os novos “Negrinhos da Estação”?!