Disautonomia em uma Cadela com Hipotireoidismo

Disautonomia em uma Cadela com Hipotireoidismo

Paula Priscila Correia Costa; Danilo Galvão Rocha; Thaís Aparecida Kazimoto; Leonardo Alves Rodrigues Cabral; Maressa Holanda dos Santos; Windleyanne Gonçalves Amorim Bezerra; Greyce Luri Sasahara; Thais Muratori Holanda

Resumo: Os hormônios tireoidianos têm efeitos importantes no sistema cardiovascular, dos quais os principais são o aumento da resposta cardíaca ao sistema nervoso simpático autônomo. A variabilidade da frequência cardíaca é um método não invasivo de avaliação da modulação autonômica do coração, sendo uma importante forma de avaliação em pacientes com disfunções tireoidianas. O objetivo deste estudo foi relatar dados de variabilidade eletrocardiográfica e da freqüência cardíaca de um cão com hipotireoidismo que apresentava disfunção parassimpática.

Uma cadela dálmata de 7 anos foi admitida para avaliação clínica em Fortaleza, Brasil. Segundo a proprietária, ela ficou apática por um ano, ganhou peso, sempre teve uma expressão triste e seu cabelo era geralmente quebradiço e opaco. Ao exame físico, foram observadas lesões de pele no final da coluna, estendendo-se para a região da cauda, ​​com a última mostrando alopecia total. Baixos níveis de T4 confirmaram o diagnóstico de hipotireoidismo primário. Em seguida, foi realizada uma monitoração de Holter de 24 horas, que mostrou que o animal apresentava arritmia sinusal associada a momentos de bloqueio sinoatrial de segundo grau e raros momentos de taquicardia sinusal. Além disso, momentos de extra-sístoles ventriculares prematuros multifocais e 1 rbloqueio atrioventricular de 3 graus. Com base nos resultados de Holter, foi calculada a variabilidade da frequência cardíaca (VFC). Em relação à VFC no domínio da frequência, 32,16 foram obtidos na banda de baixa frequência (LF), 67,84 na banda de alta frequência (HF), e a relação LF / HF foi de 0,46, com potência total de 5205. Quanto à VFC no domínio do tempo, RMSSD foi de 117, pNN50 foi de 62,64 e SDNN foi de 384. Isso mostrou um aumento na atividade parassimpática do coração e, devido a essa atividade aumentada, ocorreu um bloqueio sinoatrial de segundo grau, que é um distúrbio da função sinusal resultante da atividade parassimpática exacerbada.

Os receptores beta-adrenérgicos têm sua expressão e atividade alteradas pelos hormônios da tireóide. A estimulação simpática no coração através da ativação desses receptores origina um efeito inotrópico, lusitrópico, dromotrópico e cronotrópico positivo. Portanto, na ausência de hormônios tireoidianos, há uma diminuição dessa estimulação, permitindo um tom parassimpático preponderante. No presente relato, o aumento do tônus ​​parassimpático, observado no hipotireoidismo, resultou em redução da frequência de disparo dos seios, desaceleração da condução intranodal e sinoatrial e encurtamento do período refratário efetivo, uma combinação de fatores que levaram à diminuição FC observada no monitoramento Holter. Estudos anteriores demonstraram que os hormônios da tireóide aumentam a atividade simpática, principalmente no coração,Canais + -ATPase do retículo sarcoplasmático e receptores beta1-adrenérgicos. Assim, o resultado observado já era esperado, pois no hipotireoidismo há uma diminuição desses hormônios que aumentam a atividade simpática no coração e, portanto, o tônus ​​parassimpático era muito evidente. O estudo da variabilidade da frequência cardíaca permite a avaliação simples do desequilíbrio do sistema nervoso autônomo e pode ser extremamente importante no acompanhamento de doenças que afetam esse equilíbrio, como o hipotireoidismo. Assim, são necessários mais estudos para verificar o efeito dessas doenças na variabilidade da freqüência cardíaca, com o objetivo de definir associações entre as doenças e as alterações, bem como definir parâmetros de normalidade para esses exames.

https://seer.ufrgs.br/ActaScientiaeVeterinariae/article/view/90025/52310

Publicado em Cardiopatias.