Foto: Arquivo Pessoal de Felipe Caldas
Matéria: Matheus Pinho
A equipe do Te Liga no CA entrevistou Felipe Caldas, o criador da exposição Agô que encontra-se aberta à visitação até o dia 17/06, de segunda à sexta das 8h às 22h, na Galeria A Sala (sala 111) no Centro de Artes. Felipe falou sobre a exposição e também sobre sua carreira, confira abaixo:
TLNCA – Felipe, nos fale sobre sua formação e carreira.
FC – Eu possuo doutorado pelo IA-UFRGS na área de História, Teoria e Crítica da Arte. Na adolescência, por volta dos 12 anos de idade decidi que seria artista visual e aos 18 anos era estudante do Instituto de Artes da UFRGS, antes disto, a partir dos 16 anos de idade frequentava aulas no Atelier Livre da Prefeitura Municipal de Porto Alegre. Minha formação toda se deu no âmbito destas duas instituições, IA-UFRGS e Atelier Livre da PMPA. Nestes lugares conheci pessoas admiráveis e que são referências e influências até hoje, além das amizades que são fundamentais em qualquer formação.
No âmbito da carreira sempre estive entre a cruz e a espada, ou seja, se de um lado eu tinha como meta a produção artística, de outro as principais oportunidades durante a formação me chegaram do campo da História, Teoria e Crítica de Arte, até que eu me entendi enquanto um artista que produz pesquisa em História, Teoria e Crítica.
Em termos de carreira eu decidi ainda no primeiro ano da universidade que seria professor universitário, e assim, guiei minhas escolhas nos últimos 15 anos, penso que de algum modo deu certo, eu me tornei professor universitário em uma universidade federal, ou seja, na FURG e com passagens pela UFPel enquanto professor substituto em duas ocasiões.
TLNCA – Qual foi sua inspiração quando pensou em montar a Exposição AGÔ?
FC – Este trabalho é uma continuidade de meus trabalhos anteriores no qual estou interessado em investigar os sistemas de crença e suas ancoragens materiais e simbólicas. Ou seja, não é fruto de “inspiração”, é resultado e meio de continuidade reflexiva, poética. Nesta continuidade eu venho explorando trabalhos e organizações tridimensionais, pois trabalhei muito tempo com desenho e pintura. Então, ao invés de representar certo material ou mesmo o agregar na superfície de uma tela, ou papel, decidi explora-lo em si e com toda a sua potencialidade material e simbólica. Eu parto neste trabalho de minha vivência desde a infância no terreiro acompanhando minha mãe, e especificamente, agô é uma expressão dita geralmente na frente do Quarto de Santo e tem como objetivo pedir permissão, simultaneamente reverenciar os orixás. Assim, Agô é um pedido de licença. A exposição é um pedido de licença depois de dois anos em suspensão das atividades presenciais na universidade, e simultaneamente o carvão é associado misticamente enquanto elemento de limpeza energética. Por outro lado, a maioria de nós trabalhadores, somos apenas meio para o usufruto do outro, somos queimados como carvão por um sistema exploratório em que reproduzimos muitas vezes de modo inconsciente. O carvão também remete ao desmatamento e a destruição ambiental. Por sua vez, este mesmo carvão está impregnado no fazer artístico, no desenho, sendo o carvão vegetal um material corriqueiro na formação em artes visuais. São muitas as possíveis camadas interpretativas e justamente estas possibilidades que me fizeram optar por este elemento.
TLNCA – Quais são os próximos passos que você almeja em sua carreira artística?
FC – A vida me ensinou a viver um dia por vez. Se na juventude eu carregava inúmeros sonhos e ambição, me imaginava ocupando determinados lugares sociais e com visibilidade, planejava os passos, hoje eu penso que a busca incessante por visibilidade e reconhecimento é uma grande armadilha que nos leva a auto escravização, e a infelicidade. Retira de nós o direito de ver as flores crescerem, sentir o cheiro da terra molhada, e sobretudo, nos torna pessoas de vida ocupada, assim incapazes de contemplar o amanhecer, o vento que nos corta o rosto, e a possibilidade da experiência.