Por Aline Souza, Andrei Vilela, Eduarda Saraiva e Everton Iberse/estudantes do curso de Jornalismo da Universidade Federal de Pelotas (UFPEL)

Por inflação se entende o aumento dos preços sobre os produtos e serviços consumidos pela comunidade, assim gerando uma baixa no poder de compra do dinheiro. No Brasil, nos últimos cinco anos, a inflação cresceu de maneira gradativa e assustadora. De março de 2017 até o mesmo mês de 2022, o Real perdeu 31% do seu poder de compra. O brasileiro consegue comprar somente dois terços do que comprava em 2017 com o mesmo valor.

O Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) é um índice que mede a variação de preços de mercado mensalmente. Tal índice foi estabelecido pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e é um termômetro para avaliar as perdas no poder de compra do brasileiro. Em 2018, o IPCA registrado no Brasil foi de 3,75%. Essa porcentagem subiu para 10,06% no ano de 2021 e a inflação acumulada dos últimos 12 meses até abril de 2022 alcançou a marca de 12,13%. Esta foi a maior variação para um mês de abril desde 1996, ou seja, em 26 anos. Neste ano, o IPCA já acumula alta de 4,29%.

A inflação registrada em 2022 é a maior no período de um ano desde outubro de 2003 (13,98%), e está mais alta do que as projeções, que apontavam 1% em abril e 12,06% em 12 meses. Com isso, já são 8 meses seguidos com a inflação acima dos 2 dígitos.

Com a inflação aumentando desenfreadamente e o salário mínimo do trabalhador brasileiro não acompanhando o ritmo, a população sente ainda mais a alta dos serviços e produtos. Em entrevista ao G1, o economista Fábio Louzada explica:

“O brasileiro sente mais a inflação porque está nos produtos e serviços que a população mais consome no dia a dia: gasolina, gás de cozinha, alimentos, energia elétrica e aluguel. Complementando, vem o salário do consumidor, que teve poucos reajustes nesse período, principalmente por conta da pandemia”, diz Louzada.

O analista CNPI e CEO da escola “Eu me Banco” ainda complementa: “vivemos o pior cenário em termos de inflação versus reajuste de salários. Um fator para tamanha suba na inflação é a pandemia de Covid-19, que o Brasil e o mundo ainda vivem, acompanhado da guerra na Ucrânia, pois quanto maior a instabilidade global, mais os investidos tiram dinheiro dos emergentes”, finaliza.

Trazendo para a realidade da grande parte da população brasileira, a inflação afeta diretamente no bolso dos consumidores em suas compras diárias, semanais ou mensais, principalmente dos mais pobres. De acordo com o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), para o mês de abril de 2022 a alta inflacionária acumulada nos últimos 12 meses chegou à 12,7% entre as famílias de renda muito baixa, aquelas com renda domiciliar menor que R$ 1.726,01. Essa classe social usufrui de seu capital principalmente no grupo de alimentos e bebidas, justo o grupo que teve a maior contribuição à inflação no período.

“Comparar o preço de produtos em diferentes supermercados é uma das estratégias que utilizo para fugir dos altos índices de inflação atual”, revela Rozeni Fagundes, consumidora assídua do comércio pedroosoriense.

Durante o encontro do Fórum Econômico Mundial no dia 26 de maio, em Davos na Suíça, o ministro da Economia Paulo Guedes afirmou que “a inflação [no Brasil] já chegou ao pico. E vai voltar [ao normal] antes do que a deles [países europeus e os Estados Unidos]”, em relação a uma nova crise econômica global desencadeada pela Guerra na Ucrânia. Guedes demonstrou um otimismo que não condiz com a realidade brasileira.

O que pode beneficiar o setor econômico brasileiro é a queda do Dólar, que fechou o primeiro trimestre do ano com a menor cotação frente ao Real em dois anos. Com taxa de 14,55%, foi a maior desvalorização da moeda americana em 13 anos. Atualmente, a cotação do Dólar gira em torno de R$4,80. O Brasil, que ainda depende de importações estrangeiras para sua cadeia de produção dos mais variados itens, vê a queda na importação de insumos afetando positivamente o preço para o consumidor final. “O que mais pesa para essa cotação é o cenário internacional, com o grande fluxo de recursos que está migrando para os mercados emergentes em razão da Guerra na Ucrânia”, destaca a analista de Economia, Raquel Landim.