Encerrou no domingo do dia 16 de março o 105º Campeonato Gaúcho de Futebol, que teve como vencedor o Internacional que venceu o Grêmio na decisão após vitória de 2 a 0, na Arena do Grêmio, e empate em 1 a 1, no Beira Rio. Neste ano, a Federação Gaúcha de Futebol optou por um novo formato para o campeonato, dividindo os 12 clubes participantes em três grupos. Os quatro times com as piores campanhas disputaram o quadrangular do rebaixamento, que culminou na queda dramática da dupla Bra-Pel para a Série A2 do Gauchão de 2026.

O Brasil de Pelotas chegou à última rodada do quadrangular precisando vencer o Avenida por três gols de diferença no Estádio Bento Freitas, mas foi derrotado por 1 a 0, com gol de Bustamante. Já o Pelotas venceu o São José por 2 a 1 em seu último jogo da competição, mas isso não impediu o rebaixamento do clube, que havia sido goleado na penúltima rodada por 4 a 1 pelo mesmo Avenida que rebaixou o Xavante.

Do lado rubro-negro, o vice-presidente de futebol, Gonzalo Russomano, assumiu a responsabilidade pelo rebaixamento ao entregar o time ao técnico William de Mattia, que fez uma campanha ruim no Gauchão, deixando o Brasil na última colocação do Grupo C e do quadrangular do rebaixamento. Já do lado áureo-cerúleo, os dirigentes do clube pensam em reconstrução, visando uma participação na Copinha da FGF, torneio que concede uma vaga na Série D ao campeão.

Esta será a primeira vez desde 2012 que nenhum clube de Pelotas disputará a primeira divisão do estadual. Entretanto, o mau momento dos clubes pelotenses não é algo novo. Para entender os fatores que levaram a essa situação, é necessário analisar as últimas gestões dos clubes da Princesa do Sul.

Grêmio Esportivo Brasil e as recorrentes quedas de divisão

Imagem: Lucas Uebel/Grêmio FBPA

O Grêmio Esportivo Brasil, popularmente conhecido como Brasil de Pelotas, acumula atualmente uma dívida de R$ 45 milhões, um valor muito superior à sua receita, que deverá diminuir consideravelmente após o rebaixamento no Campeonato Gaúcho. O rubro-negro pelotense atravessa uma fase conturbada há alguns anos, enfrentando quedas sucessivas em competições nacionais e, agora, também no estadual.

Diante desse cenário, alguns torcedores buscam alternativas para recuperar a força do clube. Para muitos, a solução passa pela adoção do sistema de SAF (Sociedade Anônima do Futebol). Um deles, Júlio César, sócio xavante há 30 anos, afirma: “Acredito que somente uma SAF pode mudar a realidade do clube. Por muito tempo fui contra, com receio de que o clube sofresse uma mudança brusca e perdesse sua identidade. Mas, diante da atual situação financeira e esportiva, um futuro sem SAF é praticamente inviável.”

Em 2016, o Xavante ascendeu à segunda divisão nacional após uma boa campanha na Série C do Campeonato Brasileiro. Permaneceu na Série B por seis temporadas, geralmente figurando no meio da tabela, sem risco de rebaixamento ou acesso. No entanto, sua última participação na Série B, em 2021, foi desastrosa: o Brasil somou apenas 23 pontos em 38 jogos e foi rebaixado para a Série C.

Desde então, o clube não conseguiu se recuperar. Em seu primeiro ano na Série C, foi novamente rebaixado, desta vez para a Série D. Em 2023 e 2024, não chegou às fases finais da competição. Em 2025, aguarda o início do torneio, com estreia marcada para 12 ou 13 de abril contra o Barra-SC.

Com o término do Gauchão, o clube rescindiu o contrato de nove atletas e demitiu o treinador. O vice-presidente Gonzalo Russomano, em entrevista à Rádio Universidade, afirmou que a direção considerava oportuno um novo comando técnico.

Lucas Domingues, torcedor fanático e membro conselheiro do departamento de patrimônio da torcida organizada Esquadrão, desabafou: “O Brasil é a nossa vida. A gente larga tudo para viver qualquer momento com esse clube. Essas cores correm no meu sangue desde criança. Em 2021, estávamos na Série B do Brasileiro, e agora, em 2025, estamos na segunda divisão do estadual. O que fizeram com nosso clube? O vermelho e preto clama por socorro!”

Esporte Clube Pelotas e a reincidência na segunda divisão

Lucas Rhamon/EC Pelotas

O Esporte Clube Pelotas, dono do estádio mais antigo do país, vive situação preocupante nos últimos anos. O rebaixamento no Gauchão de 2025 é resultado de um declínio que já vinha ocorrendo. O clube, que já disputou as Séries B e C do Brasileirão e participou da Copa do Brasil em 2003, perdeu relevância no cenário nacional.

Em 2020, durante a pandemia de COVID-19, o Gauchão não teve rebaixamento, o que salvou o Pelotas da queda. No mesmo ano, disputou a Série D do Brasileiro, mas não passou da primeira fase. Em 2021, o clube não conseguiu se classificar para a competição e, no estadual, foi lanterna, caindo para a segunda divisão.

Em 2024, conseguiu retornar à elite do Gauchão, mas foi rebaixado novamente em 2025. Jorge Fonseca, torcedor há mais de 40 anos, desabafou: “Acredito que a solução é o clube aderir à SAF. Existe uma grande vaidade entre os que comandam. Um grupo não ajuda o outro, e não há união.”

A declaração de Jorge reflete o sentimento de muitos torcedores do interior, que veem seus clubes com cada vez mais dificuldades para se manterem ativos no futebol brasileiro.